Reabrindo as portas
Os 60 anos dos Doors motivam o revigoramento e a ampliação do catálogo do grupo, um livro-antologia, exposição e um possível show, atiçando os velhos fãs mas também de olho nas novas gerações
Foi dada a largada para a comemoração dos 60 anos dos Doors, o quarteto de Los Angeles que misturou o blues-rock, o psicodelismo e o jazz do tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore à poesia (e à personalidade forte, complexa e controversa) do letrista e vocalista Jim Morrison para construir uma carreira repleta de clássicos (“Break On Through”, “The End”, “Riders On The Storm” são alguns de seus hits perenes) e de percalços (embates com a polícia eram quase rotina, e quanto mais confrontos, melhor para a fama de “fora-da-lei” de Jim e do grupo), de certa forma amplificada pela mitologia criada em torno do frontman a partir de sua morte precoce, em 1970, aos 27 anos.
A data será marcada com reedições especiais de discos, lançamento de gravações inéditas e livro novo, mostras e até (quem sabe?) shows, numa sucessão de eventos que vai das próximas semanas até o final de 2025.
O conjunto de ações coordenadas tem objetivos claros e bem definidos: revigorar a base existente de fãs e conquistar novas gerações.
“Queremos fazer coisas divertidas e interessantes para os fãs dos Doors que sempre nos apoiaram (…), mas também queremos expôr (o grupo) àqueles que ainda não se familiarizaram com ele, novos fãs em potencial, (um segmento) que é milhares de vezes maior”, explicou à revista Billboard Jeff Jampol, hoje responsável pela gestão da carreira, do catálogo e do espólio dos Doors.
Vai ter conteúdo suficiente para reforçar o elo do grupo com sessentões e setentões (aqueles, aliás, com bolsos fundos o bastante para desfrutar as novidades, a maioria caras, como se esperaria de raridades e futuros itens de colecionador). Tudo começa em 22 de Novembro, quando a gravadora Rhino disponibilizará uma edição limitada de três mil exemplares de The Doors 1967-1971, caixote contendo versões em vinil de qualidade audiófila de todos os álbuns lançados pelo grupo enquanto Morrison ainda era vivo. Na sequência, a mesma Rhino reedita Live in Detroit, álbum originalmente lançado em 2000, trazendo quatro LPs com a íntegra daquele que é considerado o mais longo de todos os shows já feitos pelos Doors, um set de 25 músicas gravadas na Cobo Arena, em maio de 1970, durante a turnê Roadhouse Blues, dentre elas um punhado de standards do blues, como “Crossroads”, de Robert Johnson, e “King Bee”, de Slim Harpo.
Já no início de 2025 chega Night Divides The Day, livro antológico da editora britânica Genesis Publications com nada menos que 344 páginas, trazendo novas entrevistas com os dois únicos sobreviventes da banda – Densmore e Krieger, ambos prestes a virar octogenários – , mais material de arquivo de Morrison e Manzarek (morto em 2013, aos 74 anos), fotos de infância, letras de música e farta memorabilia, e textos assinados por Krist Novoselic (que foi baixista do Nirvana) e pelo maestro venezuelano Gustavo Dudamel , diretor artístico e musical da Orquestra Filarmônica de Los Angeles. Serão vendidos somente dois mil exemplares do livro (por 345 libras esterlinas, cada), autografados por Robbie e John, que virá acompanhado de um disco com demos raras de “Hello, I Love You” e “Moonlight Drive”.
Fala-se, ainda de exposições (num museu a ser definido, embora sejam grandes as chances de acontecerem no Grammy Museum, em Los Angeles, ou no Rock and Roll Hall of Fame, em Cleveland) e, se depender de John Densmore, pode rolar pelo menos um show – de preferência, no Hollywood Bowl, na cidade natal dos Doors.
“Willie Nelson fez seu show de 90 anos no Bowl”, disse John, numa entrevista, referindo-se ao mesmo local onde os Doors filmaram uma apresentação, em 1968, e para onde voltariam depois, em 1972, já sem Jim. “Seria maravilhoso eu e Robby num show, tocando um pouquinho, aqui e ali, possivelmente com o comparecimento de artistas magníficos. Adoraria que algo assim acontecesse”.
Quanto à longevidade do grupo, ela teria uma razão bem específica, para Krieger. “É por causa das músicas”, disse o guitarrista numa entrevista dois anos atrás. “Tínhamos músicas ótimas. E a garotada vem falar comigo, crianças de 10 anos, dizendo ‘adoro os Doors, vocês são incríveis!’. Acho que elas até desconhecem os mitos em torno de Jim Morrison, o lance delas são as músicas. E acho que é isso que vai levar o grupo adiante pelos próximos 50 anos, ou mais adiante”.
“Minha esperança era de que durássemos uns 10 anos”, recorda Densmore, “e de que conseguíssemos pagar o aluguel. Sabia que os ingredientes eram especiais. Foram anos maravilhosos, abençoados. Mas estar falando até hoje sobre aquilo tudo? Que isso!”.
A atividade cultural ferve em Fortaleza. Hollywood tenta cooptar os "fãs tóxicos". Tarsila Amaral ganha retrospectiva em Paris. Los Angeles recebe o primeiro festival latino das letras do mundo queer. Rocky Horror Show vira jogo eletrônico retrô. E episódio inédito de Thunderbirds em Ação é descoberto – e será exibido!
– Fortaleza vem solidificando suas credenciais como capital cultural, graças à inauguração, ao longo dos últimos anos, de uma série de novos espaços, e à reforma de equipamentos já existentes. O diário carioca O Globo fez um levantamento em regra de alguns abertos há pouco, como o Museu do Ceará, a Pinacoteca e o Kuya-Centro de Design do Ceará, parte do Complexo Cultural Estação das Artes Belchior. “Fortaleza hoje rivaliza com outros centros culturais do Nordeste, como Recife e Salvador”, diz o empresário e colecionador Silvio Frota, fundador do Museu da Fotografia Fortaleza. “Tem muita divulgação boca a boca, muita gente que vem hoje à cidade já chega sabendo dos espaços e reserva parte da estada para conhecê-los. Nosso público é formado de 30% a 40% por turistas”.
– É prática antiga os estúdios de Hollywood realizarem pesquisas com “grupos de foco” para avaliar se um filme é bom, compreensível e divertido (ou chato, desconjuntado e ofensivo), o que dá a oportunidade de se pensar em corrigir ou modificar alguma coisa antes de ser lançado. Mas agora os grupos de foco de maior importância são aqueles compostos de super fãs de um determinado título - como Guerra nas Estrelas, ou qualquer filme baseado em personagens da Marvel ou da DC Comics. Trata-se de uma tentativa de se evitar os comentários raivosos que se espalham feito fogo pelas redes sociais e por sites como Rotten Tomatoes e IMDb quando esse público, em especial, discorda de algum enredo, vestuário ou cancelamento de série. São os chamados "fãs tóxicos”. “Faz parte (essa grita), mas ficou incrivelmente barulhenta nos últimos dois anos”, admitiu à revista Variety um veterano executivo de marketing de um grande estúdio. “As pessoas estão em busca de sangue, a qualquer custo. Acham que a pureza da versão original jamais poderá será substituída, ou que você fez algo que estragou o padrão de uma franquia amada, e eles vão querer derrubar você por ter feito isso.”
– Passados quase 100 anos desde sua primeira exposição em Paris, Tarsila do Amaral, icônica pintora modernista brasileira, será objeto de uma grande retrospectiva no Museu de Luxemburgo, na capital francesa. Já aberta ao público e em cartaz até fevereiro, a mostra reúne quase 150 obras da artista, incluindo 49 quadros. Para a curadora da exposição, Cecilia Braschi, a trajetória de Tarsila é marcada pela troca cultural entre o Brasil e Paris.
– O Instituto Cervantes da Califórnia, nos Estados Unidos, promoveu em Los Angeles o primeiro festival latino das letras do mundo queer. Chamado LGBTQ+Ñ, el primer festival literario en español, o evento foi bolado pelo escritor madrilenho Luisgé Martín, hoje diretor do Instituto em L.A.. Foram três dias de mesas, das quais participaram autores como Felipe Restrepo, Gabriela Wiener, Pablo Simonetti, Boris Izaguirre, Claudia Salazar, María Mínguez Arias e Nando López, mais exposição fotográfica, exibição de filmes e performances para ampliar o debate para além das letras, abrangendo toda a cultura LGBTQ+.
– Num ato do que podemos chamar de nostalgia dupla, vem aí um video game inspirado em Rocky Horror Show, o icônico musical dos anos 1970 (também transformado em filme), com gráficos em estilo 8-bit. Mesmo sendo ultra old school, o jogo estará disponível para consoles variados, de Nintendo Switch a Playstation, e na plataforma Steam.
– Por falar em nostalgia, lembra da série de TV Thunderbirds em Ação, protagonizada por marionetes, de enorme sucesso nos anos 1960? Pois encontraram num barracão do jardim da casa de um falecido editor da série 22 latas de filmes, com cenas, inclusive, de um episódio inédito. O material foi descoberto em bom momento, pois será exibido dentro das comemorações de 60 anos do programa.
Diga aí!
A enquete do FAROL
Cada semana o FAROL quer ouvir você sobre temas candentes, assuntos que estão pipocando aqui e ali, incontornáveis – e quer saber como eles estão afetando nossos leitores.
Hoje, vamos falar de audio-cassetes.
Deu no The New York Times, dias atrás: fãs de música e os próprios artistas estão ajudando a alimentar um interesse crescente por audio-cassetes, um formato considerado obsoleto mas que continua sendo criado, distribuído e consumido. Só que não é fácil achar um aparelho para tocar esses cassetes, usados (e funcionando) ou novos (existem modelos que digitalizam a música e transformam o conteúdo em MP3). Mesmo assim, músicos como Taylor Swift, Charli XCX, Kim Deal e The Smile incluem o audio-cassete dentre os formatos disponibilizados quando lançam suas novidades. E os fãs saem comprando: cerca de meio milhão de unidades foram vendidas em 2023, segundo dados da Recording Industry Association of America (RIAA).
E você, ouve música em audio-cassetes?
Se quiser votar e depois também se estender na sua resposta, e estamos torcendo para que isso aconteça, escreva para jer.farol@gmail.com. Queremos saber de você!
O resultado da enquete sairá na próxima edição do FAROL.
Bora votar!
Resultado da enquete anterior
Na semana passada, perguntamos: você joga vídeo games? 82% responderam nunca. 12 % disseram sim, com assiduidade. Enquanto 6% afirmaram jogar apenas vez por outra.
PLAYLIST FAROL 99
A infestação de ratos de Suzanne Vega. Alison Moyet reescreve o passado. O pós-punk de THUS LOVE . O violão da craque Yasmin WIlliams. A catedral de guitarras de Godspeed You! Black Emperor. Jerry Douglas + Aoife O’Donovan. A massa sonora jazz-punk de Maruja. As catadupas de riffs de Starcrawler. O pop-folk complexo de The Weather Station. E o começo de tudo para Crosby, Stills, Nash & Young.
Suzanne Vega – “Rats”– Premiada nos anos 1980 por sucessos como o sombrio mas pop “Luca”, Vega surge com um novo single, de sonoridade uêive-punk que ela diz ser inspirada em Ramones e Fontaines D.C. mas também lembra um tanto o B-52’s, para falar da onipresença dos ratos em Nova York.
Alison Moyet – “Where Hides Sleep”– Ex-integrante do britânico Yazoo, um dos principais nomes do pop eletrônico pós-punk, Alison dedicou seu novo álbum, o recém-lançado Key, a refeituras de todas as faixas de seu primeiro álbum solo, Alf, de 1985.
THUS LOVE – “On The Floor”– Pós-punk vindo de Vermont, nos Estados Unidos, nesta faixa do segundo álbum do quarteto, All Pleasure, que sai em novembro.
Yasmin WIlliams – “Harvest”– Craque do violão, a americana Yasmin convidou colegas de igual calibre – a guitarrista Kaki King, de Atlanta, e o multiinstrumentista texano Darian Donovan Thomas – para compartilhar com ela as faixas de seu novo álbum, Acadia.
Godspeed You! Black Emperor – “GREY RUBBLE-GREEN SHOOTS” – Rock progressivo instrumental canadense, capaz de erguer uma catedral de guitarras, com efeito inebriante.
Jerry Douglas – “What Might Have Been” – Veterano de Nashville, capital da música country, e ás do dobro – o violão com corpo de metal que ele toca no estilo slide, usando num dos dedos um cilindro de metal – , Jerry arregimentou a voz da conterrânea Aoife O’Donovan para dar corpo a uma melodia (sem palavras) de melancolia não muito distante da música brasileira.
Maruja – “Break The Tension”– Bateria, sax, baixo pesado, guitarras e teclados efeitados formam uma massa sonora jazz-punk espessa para cercar a voz de Harry Wilkinson no novo single do quarteto de Manchester.
Starcrawler – “Learn To Say Goodbye” – E tome catadupas de guitarras, distorção e eco no delicioso novo single de explosivo power pop do quinteto de Los Angeles, dileto descendente estilístico do Blondie, impulsionado pelos vocais de Arrow De Wilde (êta, nome arretado).
The Weather Station – “Neon Signs”– O projeto da compositora canadense Tamara Lindeman continua dando origem a um pop-folk complexo, de arranjos densos, como demonstrado na faixa de abertura de seu novo álbum, Humanhood.
Crosby, Stills, Nash & Young – “Long Time Gone” – O álbum 4 Way Street, de 1971, pode ter mostrado os quatro protagonistas e sua banda de apoio para lá de azeitados, em ponto de bala, mas o novo Live at Fillmore East, 1969 traz o começo de tudo, registros históricos da primeira turnê de CSN&Y quando todos ainda buscavam as formas definitivas que serviriam de alicerce para a carreira do super-quarteto.