Uma prévia de discos, filmes e séries que vão rolar em 2025
Retomadas, colaborações, homenagens, rockdocs, dinossauros, zumbis, robôs e despedidas compõem o cardápio audiovisual dos próximos 12 meses
Mais um ano começando – e lá vem virando a esquina uma nova leva de sons e imagens para povoar seus olhos e ouvidos e cutucar sua imaginação nos próximos meses.
E é muita coisa. Por onde começar a navegar a selva de discos, filmes e séries que irá rodear você nos próximos 12 meses?
Não é fácil. Por isso, o FAROL selecionou alguns destaques para ajudar a separar o joio do trigo.
Discos
Waterboys – Life, Death and Dennis Hopper, o décimo-sexto álbum do veterano grupo escocês liderado por Mike Scott (cada vez mais parecido com Serguei), é um projeto conceitual focado na contracultura e na trajetória do rock and roll nos Estados Unidos, utilizando como símbolo daquele período o vulcânico ator e pintor que dá título ao disco, que traz participações especiais de Bruce Springsteen, Steve Earle e Fiona Apple.
My Morning Jacket – No novo Is, o rock cósmico da banda de Jamie James é produzido por Brendan O’Brien, cujo currículo eclético traz colaborações com uma variedade de artistas que inclui Pearl Jam, AC/DC, Bob Dylan e Korn, o que pode conferir uma sonoridade atualizada ao grupo. Ou não.
Pulp – Desde que Jarvis Cocker reuniu para uma série de shows, após longa hibernação, aquele que é um dos grupos-assinatura do britpop da década de 1990 fala-se de um novo disco. Afinal, nessas apresentações recentes o público conheceu algumas canções inéditas. Será?
Suzanne Vega – O novo álbum da cantora-compositora americana – Survival of The Fittest – traz um repertório variado, que balança do rock pesado ao folk, inclusive tomando emprestado de Bob Dylan a personagem de uma de suas canções, a camareira mencionada em "I Want You”, de 1966. Tudo para falar da capacidade e da necessidade de sobrevivência “à COVID, à eleição, ao envelhecimento”, explica Vega nas redes sociais.
Bryan Ferry – Pode ser que 2025 veja nascer o primeiro álbum do elegantérrimo cantor britânico em uma década, ainda sem título anunciado. Uma amostra recente foi uma colaboração com a dupla americana Trent Reznoir e Atticus Ross, junto com a pintora e autora escocesa Amelia Barrat: a sensual e misteriosa faixa “Star”.
Sinéad O’Connor – A irlandesa estava gravando nove faixas para um novo álbum com o produtor David Holmes quando ela morreu, em julho de 2023. Esse material está sendo agora finalizado, com planos para ser lançado a qualquer momento.
Big Thief – Depois de uma série de mudanças recentes em sua formação e do (excelente) álbum solo de sua frontwoman, Adrianne Lenker, o grupo nova-iorquino de indie folk anunciou estar fazendo um álbum “de rock”, que deve sair em breve.
E mais …
Dentre as novidades musicais adicionais com chances de vir à tona em 2025 há uma ala de possibilidades interessantes para atiçar nosso palato, discos que podem ou não estar sendo concluídos – ou que talvez nem passem do estágio de boato.
Fala-se, por exemplo, do lançamento do primeiro álbum solo de Michael Stipe, ex-R.E.M., da prodigiosa produtividade do Squeeze (que estaria não com um, mas com dois álbuns prontos na gaveta), e até de gravações inéditas de Kate Bush, sem lançar algo novo desde 2011. Será que rola? Não custa sonhar.
Relançamentos
Haja saldo no banco para atualizar a coleção a cada nova edição expandida/remasterizada/remixada de um de seus discos favoritos. E o pior é que as recompensas pelo desembolso pesado por caixotes repletos de pérolas e farto material documental costumam valer o sacrifício, ainda mais com a evolução das tecnologias de áudio permitindo redescobrir (com maior clareza e mais imersão) aqueles sons que há décadas fazem parte do seu DNA musical.
Bons exemplos da atual safra são os relançamentos de Autobahn – o clássico de rock eletrônico do alemão Kraftwerk que influiu meio mundo, inclusive o funk carioca, editado originalmente em 1974 – , agora saindo em formato de picture disc e também com mixagem Dolby Atmos, e a versão ampliada de The Lamb Lies Down On Broadway, o último álbum do Genesis antes da saída do vocalista original, Peter Gabriel, e um dos marcos do rock progressivo da década de 1970. Além dos esperados requintes sonoros – versão em blu-Ray, mixagem Dolby Atmos – , o caixote traz a íntegra de uma apresentação ao vivo do álbum, registrada no Shrine Auditorium, em Los Angeles, mais demos de preparação para o trabalho no estúdio, um livro e a reprodução do programa da turnê de lançamento do álbum original.
Filmes
The Electric State – Gostou de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Oscar de Melhor Filme em 2023? Pois, então, prepare-se para o novo dos irmãos Anthony e Joe Russo, que produziram aquele longa para lá de maluquete e também dirigiram para a Marvel aventuras recentes do Capitão America e dos Vingadores. Agora, eles tiraram da cartola um filme épico sobre um robô com ecos de Pinóquio, baseado na graphic novel de Simon Stålemhag, trazendo no elenco Millie Bobby Brown (ela mesma, a Onze de Stranger Things), Chris Pratt e Ke Huy Chen (Oscar de Melhor Ator Coadjuvante recebido em triunfo por seu trabalho em TETLAMT).
28 Anos Depois – Seguindo o mote do filme que deu início à série – 28 Dias Depois, o terror de ficção-científica que inundou o Reino Unido com zumbis e catapultou a carreira de Cillian Murphy em 2002 – , o realizador Danny Boyle e o roteirista Alex Garland nos transportam a quase três décadas depois do ocorrido, numa trama tingida, naturalmente, pela recente e tão assustadora pandemia. Agora, um pequeno pedaço do mesmo território tomado pelos zumbis no primeiro filme luta para permanecer incólume, graças aos esforços de personagens vividos por Aaron Taylor-Johnson (o John Lennon de O Garoto De Liverpool) e Jodie Comer (a assassina da série Killing Eve: Dupla Obsessão). E se segura porque tem o hoje Oscarizado Murphy no elenco.
Memórias de um Caracol – Preste muita atenção neste longa de animação em stop-motion que papou o prêmio de Melhor Filme no último London Film Festival. Dirigido pelo australiano Adam Elliot, o mesmo do espetacular Mary e Max-Uma Amizade Diferente, traz a história de resiliência uma menina que, nos anos 1970, perde a mãe, o pai e os irmãos (que vão morar longe dela, depois que os três viram órfãos), e passa a buscar refúgio em sua coleção de caracóis e porquinhos-da-índia.
Jurassic World-Recomeço – Com um elenco que reúne o craque Mahershala Ali e a versátil Scarlett Johansson, a nova visita ao mundo de dinossauros ressuscitados inventado em livro por Michael Crichton e em filme por Steven Spielberg tem boas chances de recuperar o prestígio da franquia, danificado por histórias cada vez mais sem graça. Na nova produção, dirigida pelo britânico Gareth Edwards, conhecido por incursões no universo Guerra nas Estrelas (dentre elas, Rogue One) e em filmes de monstro, o território jurássico é objeto de cobiça não pelos animais, mas pelos poderes curativos contidos no DNA dessas criaturas. A busca pelo elemento que proporcionará um remédio que salvaria a humanidade esbarra num pequeno problema: como extrair esse DNA? Prepare-se para ver velhos conhecidos da fauna jurássica, mais alguns novos animais, considerados perigosos demais para o público pelos construtores do parque. A tempo: este seria o início de uma nova trilogia da série.
Documentários
Becoming Led Zeppelin – Recomendado para fãs do quarteto tanto quanto para os interessados em conhecer um momento seminal do rock britânico – e testemunhar os primórdios de uma banda que evoluiu do blues-rock viril e turbinado para algo mais progressivo, com uma enormidade de nuances. O documentário de Bernard MacMahon – também disponível no formato IMAX em alguns países – acompanha o Zep na virada dos anos 1960 para 1970.
Fleetwood Mac (ainda sem título) – Outro grupo de gigantesca popularidade nos anos 1970 que ganha documentário é o recém-aposentado Fleetwood Mac. Com direção de Frank Marshall – produtor de filmes pop como a série Indiana Jones e de documentários musicais sobre os Beach Boys e John Williams, o maestro e compositor que assina a música de tantos filmes de Steven Spielberg.
Spinal Tap II – Quando menos se esperava, 40 anos depois do original, surge a continuação do documentário de mentirinha de imenso sucesso nos anos 1980. Através dele, saberemos o que aconteceu quando o hilariante grupo inglês de rock vivido pelos comediantes Michael McKean, Cristopher Guest e Harry Shearer resolveu se reunir. É um evento importante o bastante para conseguir trazer para a frente das câmeras Paul McCartney, Lars Ulrich (baterista do Metallica) e Elton John.
Sly Lives! – Um dos personagens mais ricos, enigmáticos e trágicos do pop e da música negra dos Estados Unidos nos anos 1960, Sly Stone galgou as maiores alturas do estrelato para despencar de lá, em queda livre, num inferno pessoal e artístico, chafurdando em drogas pesadas e paranóia. Dirigido pelo também músico Ahmir Thompson – baterista mais conhecido como Questlove, que capitaneou o também excelente Summer of Soul … Ou, Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada, de 2021 – , o documentário traz conversas com o personagem-título, assim como dá voz a artistas influenciados por ele – André 3000 e D’Angelo são alguns – para demonstrar o que o cineasta define no subtítulo do filme como “o fardo da genialidade negra”.
Séries
Ruptura – Já no ar desde o final de janeiro, a tão esperada continuação da série que o FAROL considerou uma das melhores de 2022 pode ter demorado uma eternidade para sair, mas chega tinindo de frescor, com novos personagens e mudanças substanciais – e surpreendentes – na vida dos funcionários da Lumon, dentro e fora do escritório, todos com os nervos à flor da pele (e descobertas a serem destrinchadas pouco a pouco) depois do motim engendrado no final da primeira temporada.
Andor – Entra em março no streaming da Disney + a segunda temporada de outra das melhores séries de 2022, de novo pelo veredito do FAROL, parte do universo Guerra nas Estrelas. Custou, mas veremos finalmente as novas aventuras de Cassian Andor (Diego Luna), ao mesmo tempo outsider e herói envolvido na rebelião contra o Império, combatendo forças do Mal personificadas por Orson Krennic (Ben Mendelsohn).
Stranger Things – Chega ao fim a popularíssima série que há 10 anos examina o efeito de forças sobrenaturais sobre uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos em plenos anos 1980, com uma quinta temporada que trará em seus oito episódios surpresas como a participação especial de Linda Hamilton, a eterna Sarah Connor, de O Exterminador do Futuro.
White Lotus – Na terceira temporada da série a ação foi transportada para outro cenário paradisíaco, um resort na Tailândia, onde a estadia dos hóspedes – dentre eles, Parker Posey, Walton Coggins e Jason Isaacs – mais uma vez é sacudida por um coquetel de sexo e assassinato.
The Last of Us – A segunda temporada da série pós-apocalíptica inspirada no badalado jogo eletrônico, estrelada por Pedro Pascal e Bella Ramsey, ganhou novas adições importantes, como as de Catherine O’Hara e Kaitlyn Dever.
Black Mirror – A sétima fornada de episódios da perturbadora, criativa e estimulante série de ficção-científica traz nos créditos artistas do quilate de Paul Giamatti, Emma Corrin, Peter Capaldi e Issa Rae. Como cereja no bolo, uma das histórias retoma a homenagem a Jornada nas Estrelas feita pela tripulação da nave USS Callister na quarta temporada da série.
O Eternauta – Considerado o personagem dos quadrinhos mais importante da Argentina depois de Mafalda, o Eternauta – que habitou as páginas da revista semanal Hora Cero entre 1957 e 1959 – é uma criação de Héctor Germán Oesterheld, perseguido e morto pela ditadura argentina, e chega agora à Netflix, na pele de Ricardo Darín. O protagonista-título, Juan Salvo, luta, junto com a família e os amigos, pela sobrevivência em um cenário apocalíptico, após uma nevasca mortal (em pleno verão!) devastar Buenos Aires.
O Conto da Aia – Outra série que se despede de vez, fechando sua sexta e derradeira temporada de uma forma que a estrela e produtora Elizabeth Moss descreve como “grande" num teaser que já vem circulando online. Uma despedida de um mundo sinistro que em tantos aspectos reflete o que pode resultar dos tempos atuais.
PLAYLIST FAROL 107
A esporreira sofisticada do Mogwai. A adrenalina do Hotwax. Waterboys celebram Dennis Hopper. O mergulho sanguíneo de Andy Fairweather Low no blues. Dawes regrava Randy Newman. Edwyn Collins, heróico. My Morning Jacket, cósmico. Lucrecia Daly + David Sylvain. Ringo + Lucius. E o adeus a Marianne Faithfull.
Mogwai – “Fanzine Made of Flesh”– Conte com estes decanos do rock alternativo escocês para continuar surpreendendo em seu 11º álbum, o esporrento, sofisticado, lírico e variado The Bad Fire.
Hotwax – “One More Reason”– Darling do momento da rádio BBC 6, o trio inglês dá aqui uma prévia transbordando adrenalina e energia de seu álbum de estreia, Hot Shock, previsto para sair mês que vem.
The Waterboys – “Hopper's On Top (Genius)”– O ator e pintor americano é o ponto de partida, o símbolo e o pretexto para o grupo escocês celebrar a contracultura americana em seu novo álbum (saiba mais em nossa prévia de lançamentos para 2025).
Andy Fairweather Low – “Gin House Blues”– Um dos acompanhantes favoritos de Eric Clapton e Pete Townshend, o britânico Andy é um guitarrista veterano, dono de um toque elegante e de uma fluência absoluta. Aos 76 anos, ele acaba de lançar um álbum todo de clássicos do blues, sanguíneo, feroz.
Dawes – “I Love L.A.” – Com o objetivo de angariar fundos para ajudar músicos afetados pelos recentes incêndios em Los Angeles, parte do trabalho encabeçado pelo braço beneficente da Academia de Artes Fonográficas dos Estados Unidos, o grupo, local e também atingido pela tragédia, regravou em um single este clássico de Randy Newman, que celebra o lugar em toda sua exuberância e idiossincrasia.
Edwyn Collins – “Knowledge"– Sócio-fundador e frontman do Orange Juice, celebrado combo pop pós-punk britânico da década de 1980, Edwyn sofreu dois derrames quase 20 anos atrás. De lá para cá, sua recuperação tem sido heróica, a ponto dele voltar a conseguir compor, cantar e gravar neste que é seu décimo ( e excelente) álbum solo, Nation Shall Speak Unto Nation.
My Morning Jacket – “Time Waited”– Este é o primeiro single de Is, o novo álbum do grupo americano de rock cósmico, produzido pela primeira vez por outra pessoa que não seu frontman, Jim James. (Saiba mais em nossa prévia de lançamentos para 2025)
Lucrecia Daly – “cosa rara”– Colombiana e também dedicada a trilhas de filmes e séries, a artista experimental arregimentou David Sylvain, egresso do ilustre Japan, nome de peso da new wave britânica dos anos 1980, para colaborar em seu novo single.
Ringo Starr – “Come Back”– O amor de Ringo pela música country é um caso antigo, desde que via filmes de Roy Rogers no cinema, ainda criança, e foi evidenciado em seu segundo disco solo, Beaucoups of Blues, de 1970. Agora, o bamba T-Bone Burnett produziu o melhor álbum do ex-Beatle em muito tempo, gravado em Nashville, capital americana do country, e cercou Starr de boa companhia. Aqui, Ringo é acompanhado pela dupla feminina Lucius.
Marianne Faithfull – “She Walks in Beauty”– Com feições angelicais e zero experiência no ramo, Marianne tinha 17 anos quando gravou “As Tears Go By”, balada composta por Mick Jagger e Keith Richards. Começou ali uma trajetória artística e pessoal que para sempre ligaria a cantora e atriz aos Rolling Stones, por laços criativos e afetivos (ela e Mick formaram um par por anos, tendo inclusive viajado juntos ao Brasil duas vezes), repleta de altos estonteantes e baixos abissais, mas que também gerou trabalhos individuais eletrizantes (como seu álbum Broken English, de 1979) e colaborações no cinema e na música com uma variedade de nomes que inclui do diretor Jean-Luc Godard e o ator Alain Delon a Lou Reed e Warren Ellis, com quem realizou seu último disco, o divino She Walks in Beauty, de 2021, onde ela não canta, mas declama, com sua voz castigada, vivida, todas as letras – na verdade, poemas dos autores que fizeram sua cabeça na juventude, Keats, Byron, Shelley e tantos outros. Marianne morreu na semana passada, aos 78 anos.