Um museu uruguaio dedicado aos "compatriotas que ficaram para sempre nos Andes"
No centro de Montevidéu, o Museo Andes memorializa o acidente aéreo dramatizado pelo premiado filme 'A Sociedade da Neve' e celebra valores como solidariedade, trabalho em equipe e criatividade
O filme A Sociedade da Neve conquistou plateias mundo afora e na semana passada saiu consagrado dos prêmios Goya, entregues na Espanha, onde abocanhou nada menos que 12 troféus, inclusive o de Melhor Filme.
A história real contada no filme – a batalha pela sobrevivência travada pelos passageiros de um avião Fairchild 227 acidentado nos Andes, durante 72 dias longos e dramáticos – comoveu um público enorme – estima-se que tenha sido visto por 150 milhões de pessoas, somadas as sessões em cinemas ao que vem sendo visto na Netflix – e solidificou ainda mais a carreira do diretor Juan Antonio Bayona.
Mas se a saga dos acidentados no desastre aéreo de 1972 foi reavivada na memória do mundo graças ao filme, existe um museu em Montevidéu, no Uruguai, que desde 2013 oferece aos visitantes um mergulho singular na realidade do ocorrido.
Dedicado “aos 29 compatriotas” que partiram do aeroporto de Carrascos, em Montevidéu, e “ficaram para sempre nos Andes”, e localizado no centro da capital uruguaia, o museu é um memorial repleto de objetos preservados do acidente – as roupas improvisadas a partir de assentos do avião, agendas, óculos, documentos, partes da aeronave – , celebra os 45 passageiros do voo, mas também pretende promover valores como solidariedade e trabalho em equipe, e “honrar a criatividade” que permitiu que 16 pessoas sobrevivessem durante tanto tempo a quase quatro mil metros de altitude, num frio de até 30 graus negativos.
Uma estátua reproduz e homenageia Don Sergio Catalán, o vaqueiro que foi o primeiro a fazer contato com um grupo de sobreviventes da tragédia, um “herói de atitude nobre” que cavalgou por oito horas até chegar a uma delegacia de polícia para buscar ajuda para os acidentados.
Outro aspecto interessante do museu é uma linha do tempo detalhada, que mostra o que acontecia em todo o mundo no decorrer dos quase dois meses e meio de sofrimento dos acidentados, eventos internacionais e também toda a atividade das autoridades e da sociedade em torno das buscas por pistas do avião e de sua carga humana.
O museu foi aberto em 2013, num prédio do século 19, por iniciativa de Jörg P. A. Thomsen, empresário especializado em produtos de isolamento térmico e acústico, e funciona com uma equipe enxuta, de quatro funcionários.
Graças ao longa – que concorre ao Oscar de Melhor Filme Internacional – , o museu teve a (merecida) relevância renovada, e assumiu um destaque maior no circuito cultural de Montevidéu. É um espaço de memória que mostra como uma tragédia é capaz de fazer aflorar o melhor no ser humano.
Livro que inspirou Portela lidera o ranking dos mais vendidos. Começa a edição 74 da Berlinale. Sigourney Weaver homenageia sua dubladora. O espanhol torna-se a segunda língua mais usada na música pop. Carl Palmer, ‘ao vivo' com Keith Emerson e Greg Lake (ambos falecidos). Spike Lee e Denzel Washington, juntos, de novo. E os 40 anos dos Replicantes.
– A procura pelo livro que inspirou o enredo da Portela este ano disparou a tal ponto no carnaval que "Um Defeito de Cor", lançado pela escritora mineira Ana Maria Gonçalves em 2006, já em sua 30ª edição, chegou ao topo da lista dos mais vendidos na Amazon. O romance conta sobre a formação sociocultural do Brasil, vista através dos olhos da personagem Kehinde – africana sequestrada e jogada num navio negreiro, ao lado de sua irmã gêmea e sua avó, para serem escravizadas no Brasil. Ela narra as revoltas e lutas pela liberdade, bem como a moda, a culinária, os cultos e as diferentes línguas, num espaço geográfico entre Salvador, São Luís, Rio de Janeiro, Uidá e Lagos.
– Começou ontem, 5ª feira, 15/2, o 74º Festival de Cinema de Berlim (ou Berlinale), evento aberto com a exibição de Small Things Like These, estrelado por Cillian Murphy, indicado ao Oscar de Melhor ator por seu trabalho em Oppenheimer. Martin Scorsese será homenageado com o Urso de Ouro de carreira. Até 25/2 serão exibidos dentro da competição 20 longas, dos quais 19 são estreias mundiais. O Brasil participa na mostra Berlinale Encounters com Cidade: Campo, novo filme de Juliana Rojas.
– Ao discursar, emocionada, após receber o prêmio Goya Internacional, na semana passada, a atriz Sigourney Weaver fez questão de ressaltar e elogiar o trabalho de outra atriz, a catalã María Luisa Solá, que dublou na Espanha todos os filmes dela, mais de 30, a começar por Alien-O Oitavo Passageiro. María, uma barcelonense de 85 anos que começou a carreira nas radionovelas, também emprestou sua voz a personagens vividos nas telas por Glenn Close, Susan Sarandon, Judi Dench, Jane Fonda, Mia Farrow e Helen Mirren. E, ainda que poucos sejam familiares com seu rosto, na Espanha ela costuma ser reconhecida na rua … pela voz! A menção a Solá no discurso de Weaver ressalta a importância do trabalho do dublador no audiovisual, predominantemente anônimo.
– E por falar em espanhol, a língua de Cervantes tornou-se a mais usada na música pop, depois do inglês. Essa é a conclusão da pesquisa feita pela Luminate, agência especializada na coleta e no estudo de dados referentes à indústria de entretenimento, que computou uma queda de 3.8% no streaming de músicas em inglês nos últimos dois anos, percentagem idêntica ao salto dado por músicas em espanhol no mesmo ranking. Segundo a revista Billboard, centenária observadora do mercado americano de entretenimento, o consumo de música pop em espanhol nos Estados Unidos praticamente dobrou nos últimos dois anos, perdendo apenas para o segmento country.
– Enquanto o mundo de shows se equipa para oferecer sofisticadas apresentações de hologramas estreladas por astros já mortos – como Elvis Presley – ou aposentados – caso do ABBA –, o baterista Carl Palmer encontrou outro caminho para reviver no palco suas performances com o tecladista Keith Emerson e o baixista e vocalista Greg Lake, ambos falecidos em 2016. Ele selecionou vídeos e áudios de um show feito pelo trio Emerson, Lake & Palmer – um ícone do rock progressivo dos anos 1970 – em 1992, no Royal Albert Hall, em Londres, para poder tocar junto e “ao vivo” com os antigos companheiros de banda. A questão é que Palmer precisará acompanhar o nível de energia dos músicos quando eles eram 30 anos mais jovens que ele é, hoje em dia.
– Spike Lee e Denzel Washington estão prontos para fazer seu quinto filme juntos – e o primeiro desde O Plano Perfeito, de 2006. O diretor e o ator vão colaborar numa nova leitura de High and Low, filme de suspense e crime realizado pelo legendário Akira Kurosawa, em 1963. A produção japonesa era, por sua vez, adaptada de um livro americano, King’s Ransom, de Ed McBain, publicado em 1959, sobre um milionário que se arruinava depois de pagar o resgate por um sequestro. O mesmo livro foi a base da série Círculo Fechado, de Steve Soderbergh, exibida ano passado na HBO Max. As filmagens começam em março.
– Os 40 anos do grupo gaúcho de rock Os Replicantes – eternizado pelo hit “Surfista Calhorda”– serão comemorados com exposição, livro, um show com participação de ex-integrantes e membros atuais, mais um documentário, SEJA PUNK MAS NÃO SEJA BURRO, atualmente em fase de financiamento coletivo através da plataforma Apoia-se.
PLAYLIST FAROL 70
O folk com orquestrações do Iron & Wine. Joabe Reis moderniza o jazz brasileiro. O rock vintage de David Nance. O pop-rock rasgado de Daniel Romano. Nubiyan Twist + Nile Rodgers. A vocalista do Portishead em seu primeiro álbum solo. Alejandro Escovedo regrava a si mesmo, mais de 20 anos depois. Karl Bartos cria música para clássico do cinema mudo. E o adeus a Damo Suzuki, do Can.
Iron & Wine – “You Never Know”– Esta primeira amostra do sétimo álbum de Sam Bean, Light Verse, o primeiro em sete anos, reforça a sonoridade folk do projeto, agora acrescido de orquestrações.
Joabe Reis – “Partido Alto”– Trombonista e compositor capixaba, Joabe regravou uma composição de Airto Moreira, Flora Purim e José Roberto Bertrami (do Azymuth) com quase meio século de existência, trazendo-a para um ambiente jazz moderno, com a participação do saxofonista Bob Mintzer – do grupo americano Yellowjackets – e de Gabriel Grossi, craque da harmônica.
David Nance – “Mock the Hours”– O rock de raiz com som vintage do americano Nance – desafiadoramente analógico – soa como se estivesse sendo tocado em algum momento entre 1973 e 1977, e o aproxima do lado mais boogie de pioneiros como Delaney & Bonnie.
Daniel Romano – “Field Of Ruins”– Pop-rock rasgado, vindo do Canadá, combinando elementos de diferentes décadas – de melodias anos 1960 a energia punk –, parte do álbum Too Hot To Sleep.
Nubiyan Twist – “Lights Out”– O mestre Nile Rodgers emprestou sua guitarra e sua expertise disco a uma das faixas do quarto álbum do noneto britânico, Find Your Flame, que mistura jazz, soul e sons globais.
Beth Gibbons – “Floating On A Moment"– A voz de Beth já faz parte do pop desde suas intervenções nos sucessos do Portishead. Agora, ela está prestes a lançar seu primeiro álbum solo, Lives Outgrown, apostando num som ainda mais sofisticado e arrojado, não muito distante de Kate Bush.
Alejandro Escovedo – “Bury Me”– O veterano cantor, compositor, guitarrista texano decidiu regravar uma das faixas de seu álbum Gravity, de 2002. Um quarto de século depois, a voz mais grave e mais rodada, com um arranjo mais pantanoso, a música ganha profundidade e ressonância maiores.
Karl Bartos – “Choir Of Angelic Voices”– Ex-integrante do Kraftwerk, um dos pilares do rock progressivo alemão da década de 1970, Karl aceitou o desafio de criar “música cinematográfica narrativa” e “design de som” para um clássico do cinema mudo alemão, Gabinete do Dr. Caligari, thriller psicológico dirigido por Robert Wiene em 1920.
The Zutons – “Creeping On The Dancefloor”– Em seu primeiro lançamento em 16 anos, o calejado trio de Liverpool retorna atualizado e enxuto, produzido por (olha ele aqui de novo!) Nile Rodgers, às vezes soando como uma versão bem mais pop de Soundgarden, muito pela forma de cantar do vocalista Dave McCabe.
Can – “I’m So Green" – E o krautrock – território também habitado por Kraftwerk, Magma e Faust – perdeu na semana passada Damo Suzuki, morto aos 74 anos. Ele foi vocalista do icônico grupo alemão Can e um dos maiores incentivadores do improviso, por vezes em diferentes línguas, especialmente ao vivo. Para ele, nenhum show deveria ser igual ao outro.