Sofisticação, escravidão e sexo
Novas escavações revelam a beleza, a cultura, a engenhosidade, mas também o lado sombrio de Pompeia, destruída pela erupção do Monte Vesúvio
Novas escavações feitas em Pompeia, a cidade enterrada pela erupção do Monte Vesúvio no ano 79, que vitimou mais de 1.200 pessoas – revelam detalhes da sofisticação do Império Romano, mas também refletem um mundo anterior ao cristianismo, marcado pela escravidão (que representava um terço da população) e pela violência.
Se, por um lado, vêm à tona mansões de políticos, restaurantes e templos, o trabalho que está sendo desenvolvido pela equipe liderada pelo arqueólogo italiano Gennaro Iovino desencava aspectos mais sombrios daquela antiga sociedade.
No anfiteatro de Cumae, inscrições anunciam crucificações e “espetáculos de caça”, nos quais humanos e animais se alternavam no papel de presa. Janelas de casas trazem barras de ferro não para evitar a entrada de ladrões, mas para impedir a fuga de escravos de seus quartos – para escaparem de sua condição desumana, ou para assassinarem seus captores.
Os trabalhadores nas novas escavações resgataram locais como residências, uma padaria, termas e alojamentos de gladiadores. Inscrições pedem votos para o cargo de edil. Uma lavanderia mostra como era apertado, talvez insuportável, trabalhar ali, uma vez que a amônia de urina humana era usada para limpar as roupas. Surpreende o sistema hidráulico da cidade, que, de certa forma, relembra instalações contemporâneas. Um afresco parece representar uma forma ancestral de pizza – ou algo muito parecido.
Há também a descoberta de particularidades da sexualidade da época e do lugar. Um dos locais marcantes da escavação é o prostíbulo onde muitas das mulheres que trabalhavam ali eram escravas.
E não é preciso viajar para a Itália para ver de perto os achados arqueológicos. As descobertas estão sendo divulgadas online num diário digital, regularmente atualizado, E-Journal degli Scavi di Pompei. E geraram um documentário de três episódios na BBC, Pompeia, Novas Escavações.
A expectativa é de que muitas conclusões sejam alcançadas pelo cruzamento de informações levantadas durante o atual período da escavação para, assim, compreender-se melhor não apenas o estilo de vida de Pompeia, mas especialmente a maneira como funcionava. E o momento atual é propício a essa investigação mais profunda e mais conectada.
“Até recentemente, devido à enorme quantidade de dados e materiais que apareciam, a pesquisa tem sido sempre seletiva”, explicou ao jornal espanhol El País o alemão Gabriel Zuchtriegel, há três anos ocupando o posto de diretor do Parque Arqueológico de Pompeia. “Estudava-se as casas ou os santuários. Mas agora isso está mudando, graças a novas tecnologias e talvez até à Inteligência Artificial, que permitirá processar enormes quantidades de dados. (Ainda) estamos muito presos a um modelo de trabalho ligado ao século 19”.
“Assim”, afirma Zuchtriegel, “pela primeira vez seremos capazes de estudar e analisar Pompeia como um grande organismo”.
“Muitas vezes pensamos em Pompeia como algo belo e divertido, porque é cultura e arte”, continua.“E é assim. Mas também representa uma tragédia, nos remete à morte e ao pânico”.
“Isso é o que torna a arqueologia fascinante”, diz Gabriel. “Ela trata da história humana, mas também do sofrimento”.
Um milhão de dólares pela arte criada por um humanoide. Cresce no Brasil o interesse pela fita de áudio-cassete. Jerry Garcia, narrador de audiolivros? The Weeknd imersivo. O renascimento de uma fábrica chinesa de acordeões.
– A primeira obra de arte produzida por um robô humanoide foi vendida por um milhão de dólares num leilão em Nova York. O retrato do matemático inglês Alan Turing nasceu das mãos e da “imaginação” de Ai-Da, a primeira artista robô ultra-realista do mundo. Por meio de Inteligência Artificial, Ai-Da se pronunciou quanto à venda. “O principal valor do meu trabalho é sua capacidade de servir de catalisador do diálogo a respeito de tecnologias emergentes. Um retrato do pioneiro Alan Turing convida a uma reflexão sobre a natureza quase divina da IA e da computação, bem como sobre as implicações éticas e sociais desses avanços”. Alan Turing, responsável pela decodificação de mensagens nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, é considerado um dos pioneiros da computação moderna.
– A fita cassete está ganhando popularidade também no Brasil – e graças à Geração Z. Exemplos: na loja online da gravadora Universal Music já estão esgotados os exemplares dos novos álbuns de Sabrina Carpenter e Billie Eilish naquele formato. Outro site, o Fanatik, vende fitas de artistas como Taylor Swift, Dua Lipa, Shawn Mendes e a atual sensação, Chappell Roan. Mas o que faz esses fãs adquirirem um formato de música pré-gravada mesmo sem ter garantias de onde reproduzi-lo, uma vez que a busca por um toca-fitas (funcionando!) é hoje tarefa árdua? “Por uma questão de coleção, de posse, de emoção”, explica Jonathan Castro, dono da Fanatik. “A sensação de ter o seu acervo, o que não acontece quando se tem uma playlist digital”, acrescenta Fábio Cristiano Pereira de Souza, dono da loja Casa do Velho.
– A voz de Jerry Garcia, cantor, compositor e guitarrista – e um dos fundadores do Grateful Dead – pode ser ouvida agora narrando livros, artigos de revista e jornal e até declamando poesia – em 32 línguas diferentes. É o resultado do trabalho da Eleven Labs com a família de Garcia para recriar a voz dele com o uso de IA. Jerry – que morreu em 1995 – junta-se a um grupo de artistas famosos (e igualmente falecidos) cujas vozes o aplicativo da Eleven Labs oferece. Dentre elas, as de Judy Garland, James Dean, Burt Reynolds e Sir Laurence Olivier.
– The Weeknd lançou nesta quinta-feira uma “experiência musical imersiva” para ser acessada exclusivamente através dos óculos Vision Pro da Apple, chamada The Weeknd: Open Hearts e descrita como sendo “um formato de mídia de 180 graus que aproveita vídeo imersivo de altíssima resolução e áudio espacial para colocar os espectadores no centro da ação”. O trailer postado pelo gigante tech dá um gostinho do que está sendo anunciado.
– Houve um tempo em que o acordeão era cobiçado na China. A Baile (nome mais que apropriado), um dos maiores fabricantes do instrumento e marca-símbolo do passado socialista do país, operou até o início dos anos 2000. Agora, um de seus ex-empregados, Shen Jian, de 67 anos, tomou para si a missão de revigorar a fábrica, na periferia de Xangai, um esforço hercúleo que custou-lhe o casamento. Ele mesmo narra, em vídeo, como tem sido essa jornada.
PLAYLIST FAROL 104
BADBADNOTGOOD + Tim Bernardes + Arthur Verocai. Sílvia Pérez Cruz canta Caetano. O indie-pop solar de West 11. Joan Armatrading, desafiadora e triunfante. A sonoridade clássica de Paul Kelly. O supergrupo Silverlites. O romantismo psicodélico do Boogarins. Art Garfunkel, pai e filho. Rachel Fuller + Pete Townshend regravam The Who. E o adeus à voz de It’s A Beautiful Day.
BADBADNOTGOOD – “Poeira Cósmica”– Quem sabe escolher bem as companhias está muito bem. O trio de jazz de Toronto se cercou aqui de Tim Bernardes e do gigante Arthur Verocai para um viagem sonora estonteante entre Brasil e Canadá.
Sílvia Pérez Cruz – “Sampa”– Cantora catalã, Cruz concentrou o repertório de seu novo álbum, Lentamente, no cancioneiro latino-americano, acompanhada do violonista argentino Juan Falú. Aqui, regravou um clássico de Caetano Veloso, em português.
West 11 – “Love Resistance”– O que acontece quando músicos britânicos trocam o clima temperado de suas terras pelo sol de Portugal? O resultado é o indie-pop luminoso do trio formado por Beth Hirsch (a voz usada pelos franceses do Air), e dois baixistas, Phil King (ex-Lush) e Mark Shaw (ex-Train Set).
Joan Armatrading – “I’m Not Moving”– Com seu vozeirão ainda mais maturado com o tempo, a veterana artista britânica, agora setentona, lança um desafiador e triunfante álbum de rock, How Did This Happen And What Does It Now Mean, no qual ela se encarrega de tocar praticamente todos os instrumentos.
Paul Kelly – “Northern Rivers” – Faixa do recém-lançado 29º (!!!) álbum do veterano do rock australiano, Fever Longing Still, uma coleção de canções com sonoridade clássica, por vezes lembrando Tom Petty.
Silverlites – “Don’t Go, Don’t Stay” – Mais um supergrupo de rock pintando no pedaço. Desta vez, formado por Peter Buck (ex-REM), Rich Robinson (do Black Crowes), ambos nas guitarras e nos violões, mais Joseph Arthur (vocais e guitarras) e o baterista e produtor Barrett Martin (ex-Screaming Trees). O projeto nasceu de uma conversa em 2019 mas só se materializou bem mais tarde. E com um detalhe: a sequência das músicas, conforme aparece no primeiro álbum do Silverlites, foi estabelecida por Mark Lanegan, vocalista do Streaming Trees que morreu em 2022.
Boogarins – “Corpo Asa”– O quarteto goiano está de volta, com uma amostra de seu quinto álbum, Bacuri, que sai no fim do mês. Romantismo psicodélico, cheio de lirismo – e pop.
Art Garfunkel Jr., Art Garfunkel – “Old Friends” – Pai e filho – de vozes tão próximas – harmonizam na mesma música que o Art mais velho tornou famosa quando gravou com seu então parceiro, Paul Simon, em 1968.
Rachel Fuller, Pete Townshend – “The Seeker”– Músicas do repertório do The Who, como esta, fazem parte da produção musical The Seeker, capitaneada por Rachel Fuller, inspirada no livro Siddartha, de Herman Hesse. O maridão Townshend participa do espetáculo – e da trilha musical – no papel do sábio barqueiro Vasodeva.
It’s A Beautiful Day – “White Bird”– Na década de 1960, o sexteto era um dos grupos musicais de São Francisco que simbolizavam a sonoridade hippie e sua filosofia de liberdade, especialmente através desta canção, uma espécie de hino psicodélico, como bem definiu o The New York Times. É uma composição da vocalista e tecladista Linda LaFlamme, uma das fundadoras do grupo, cuja voz se destaca. Linda morreu na semana passada, aos 85 anos.