Quem é você?
Na 100ª edição do FAROL, os leitores são o tema principal: suas preferências, seu comportamento, aquilo que os interessa ou atiça.
Dois anos atrás, em agosto de 2022, acendemos pela primeira vez as luzes do FAROL.
Começava ali um novo projeto de jornalismo cultural: uma plataforma digital que reunia os destaques de publicações brasileiras e de diferentes partes do mundo – selecionadas conforme cuidadosa curadoria – mais um texto original, pautado por temas candentes do momento, fechando tudo com uma playlist trazendo os 10 destaques musicais da semana.
Naquela edição inicial, ainda tateando o formato ideal, apontávamos para o futuro, falando da combinação da Inteligência Artificial na criação de música ("Teria emoção?", queríamos saber), reconstruíamos uma visita ao estúdio Electric Lady, em Nova York, onde o Clash estava gravando o álbum Combat Rock, e apresentávamos um acalanto comovente da mexicana Silvana Estrada.
Chegamos agora à edição de número 100 do FAROL com um sentimento de imensa gratidão pela quantidade sempre crescente de leitores que toda semana aceitam receber nossa newsletter por email ou chegam aqui trazidos por recomendações (muito obrigado!) ou pelas redes sociais.
Por isso, hoje dizemos a todos vocês muito obrigado!
Vocês são a pauta principal de hoje – ou melhor, quem vocês são.
Porque são vocês que nos estimulam a produzir um conteúdo cada vez melhor, mais afinado, mais interessante, que reproduza um mundo cultural em eterno movimento, em constante transformação.
Tentamos sempre aprender um pouco sobre vocês, através de uma pesquisa feita ano passado (preparem-se, pois logo vem outra), das enquetes semanais que instituímos recentemente (não se preocupe, essa semana não perguntaremos nada, podem descansar) e de seu engajamento com os assuntos que publicamos.
Descobrimos que vocês se animam quando a matéria principal é sobre música, cinema – ou a respeito de algo inusitado, como a arte radical e “desconfortável” da diretora e coreógrafa austríaca Florentina Holzinger. São uns safadinhos, também: a matéria recordista de leitura (quatro vez mais do que a média) falava sobre o “corte de diretor” de Calígula, filme de 1979 descrito como “um desfile de depravação” por uma crítica da época, e que aqui consideramos um “luxuoso e caro longa histórico/fantasioso/pornô … misturando arte e sexo, e estrelado por Malcolm McDowell, a hoje Dame Helen Mirren, Peter O’Toole e John Gielgud – mais uma legião de peladões e peladonas em variadas formas de furiosa e explícita atividade sexual – que ganhou fama e mitologia no decorrer de quatro décadas de escândalo e intrigas. Talvez, justamente por isso”.
Vocês gostam muito de listas, também, acessadas com enorme interesse toda vez que publicamos uma. Não poderia ser diferente – quem não se diverte fuçando, concordando ou vociferando com as escolhas de Melhores do Ano?
Vocês se dividem entre ler jornais online ou no papel (quase 50/50), ainda sintonizam o rádio, assinam de quatro a seis canais de streaming de vídeo, preferem ouvir música em CDs e leem até dois livros por mês.
Foi muito bom saber também que 80% de vocês ficariam decepcionados se o FAROL deixasse de existir, e nos tranquiliza constatar que o nível de cancelamentos de assinaturas é irrisório, um cisquinho acima de zero por cento.
De nossa parte, saibam que nosso desejo é oferecer um FAROL semanal sempre tinindo, antenado, em cima do lance cultural. E está em nossos planos expandir a plataforma, com mais conteúdo – audiovisual, inclusive – e até um aplicativo dedicado.
Tem sido uma longa e sinuosa jornada, mas divertida e gratificante. O FAROL só faz crescer no número de leitores. E isso nos mostra que estamos no caminho certo.
Novo documentário sobre os Beatles foca na chegada do grupo aos Estados Unidos, em 1964. Como nasceu o Coringa? Os formatos esdrúxulos escolhidos pelo Green Day para seu novo disco. Criadores migram do YouTube para Hollywood. E o adeus à versão em papel de duas revistas veteranas.
– Vem aí mais um documentário sobre os Beatles. Produzido por Martin Scorsese – chegado ao mundo da música desde sempre (são dele longas dedicados ao concerto de despedida de The Band, a George Harrison e aos Rolling Stones) – e dirigido por David Tedeschi (realizador de Personality Crisis: One Night Only, observação a respeito do mutante David Johansen, vocalista do New York Dolls), o novo Beatles ’64 traz imagens inéditas (registradas pelos craques Albert e David Maysles, os mesmos de Gimme Shelter) e entrevistas novas com Paul McCartney e Ringo Starr para explorar os acontecimentos em torno da chegada do grupo de Liverpool a Nova York, no auge da Beatlemania, para se apresentar para 73 milhões de telespectadores do Ed Sullivan Show e fazer seu primeiro show em solo americano, no Coliseum de Washington, D.C.. O documentário poderá ser visto na Disney + a partir de 29 de novembro.
– Já que está em cartaz Coringa: Delírio a Dois vale mergulhar na investigação das origens do personagem. Bob Kane, criador das aventuras em quadrinhos de Batman e Robin, junto com Bill Finger, explica que o Coringa foi inspirado na representação do ator Conrad Veidt no filme mudo O Homem Que Ri, do diretor expressionista alemão Paul Leni, lançado em 1928. Numa entrevista de 1994, Kane contou que já existia uma noção de como seria a personalidade do personagem, mas o martelo só foi batido quando Finger chegou a uma reunião com uma foto de Veidt, dizendo: “Esse é o Coringa”.
– O trio pop-punk americano Green Day encontrou uma forma para lá de inusitada para reeditar seu álbum Dookie, de 1994. Cada uma das 15 faixas do disco Demastered vem num formato … esdrúxulo ou obsoleto. Por exemplo: sob a forma da melodia de uma campainha de porta, ou como uma mensagem recebida numa secretária eletrônica, como a musiquinha de um jogo do Game Boy, ou como soaria se tocada num disquete de computador, com direito a tlec-tlec-tlec e tudo. Para adquirir uma das faixas, disponibilizadas apenas em arquivos digitais, é preciso concorrer a um sorteio.
– Halloween chegando, momento propício para falar da migração para Hollywood dos criadores de conteúdo de terror que antes habitavam o YouTube. Um dos motivos é a proliferação de anúncios na plataforma online, o que quebra o clima de tantos em tantos minutos. Outro é a restrição etária, algo mais contornável no cinema ou em plataformas de streaming – basta determinar a faixa indicativa. Tudo isso reduzia a capacidade de monetização desse tipo de conteúdo. Portanto, os criadores partiram para pastos mais verdejantes. Exemplos: Sam e Colby (que tinham 13 milhões de assinantes no YouTube, nada desprezível) abriram seu Sam and Colby: The Legends of the Paranormal em 350 cinemas da rede Cinemark, nos Estados Unidos, e o filme arrecadou quase dois milhões de dólares em sua primeira semana de exibição. E a badalada produtora A24 acaba de contratar Ken Parsons – criador de conteúdo com apenas 18 anos de idade – para fazer um filme baseado em sua série para o YouTube, Backrooms, imensamente popular. Isso depois de ter contabilizado 92 milhões de dólares com o filme Talk To Me, igualmente realizado por criadores para a plataforma de vídeos, a dupla Danny e Michael Philippou.
– Baixas no mundo do papel pintado. Após 58 anos de publicação, a revista mensal americana Guitar Player deixa de existir na versão papel para continuar apenas como um site. A edição final sai na semana que vem, trazendo Jimmy Page na capa e uma longa celebração das décadas da revista. Por sua vez, a também americana Sound & Vision, dedicada a aparelhos de áudio e vídeo (sucessora da um dia venerada Stereo Review, um dos modelos para a brasileira Somtrês, que circulou por aqui nos anos 1970 e 1980), simplesmente fechou as portas, sem planos de continuar online.
PLAYLIST FAROL 100
St. Vincent en español. O groove hipnótico do Goat. A sonoridade praieria de Joachim Cooder. Joni Mitchell ao vivo, em 1979. O pop-folk sofisticado de Jennifer Castle. Real Estate regrava Elton John. Mombojó regrava Alceu Valença. Peter Perrett afiado. O pop alternativo de Saya Gray. E o som suntuoso de Yukimi.
St. Vincent – “Hombre Roto”– Para coincidir com suas apresentações na Espanha, Annie Clark está lançando uma nova versão de seu álbum mais recente, All Born Screaming, agora todo regravado na língua daquele país.
Goat – “Ouroboros”– Groove hipnótico, psicodélico e pesado, cortesia das suecas em seu sexto álbum, formando o círculo interminável de morte e ressurreição do título da faixa.
Joachim Cooder – “Cool Little Lion”– Nesta canção de Dreamer’s Motel, seu novo e econômico álbum (são apenas sete faixas), co-produzido pelo mesmo Martin Pradler que trabalhou já com The Pretenders, Shawn Mendes e John Mayer, o percussionista angeleno chega mais pop e saca da cartola uma sonoridade praieira, solar, apoiado, como sempre, pelo pai Ry, encarregado de violão, guitarras e bandolim.
Joni Mitchell – “Big Yellow Taxi”– Continuam vindo à tona preciosidades registradas ao longo da carreira de uma de nossas musas eternas, a canadense de impacto enorme no folk a partir dos anos 1960. Aqui, num trecho de um show de 1979, ela se cerca da sonoridade jazz que cultivou durante aquele período, com a participação dos craques Pat Metheny (guitarra), Jaco Pastorius (baixo), Lyle Mays (teclados) e Don Alias (bateria).
Jennifer Castle – “Blowing Kisses” – Também canadense, em Camelot, seu sétimo álbum, a veterana Jennifer traça também a trilha do pop-folk sofisticado seguida por sua conterrânea Tamara Lindeman, de cujo projeto, The Weather Station, falamos aqui na semana passada.
Real Estate – “Daniel” – O quarteto de Nova Jersey mergulha no soft-rock dos anos 1970 em seu novo álbum. A faixa-título é uma regravação de um hit de Elton John.
Mombojó – “Coração Bobo”– Por falar em regravação, o grupo pernambucano escolheu um clássico de Alceu Valença para integrar sua primeira coleção de covers em duas décadas.
Peter Perrett – “Disinfectant” – Com a língua eternamente afiada e disposição de gente com um terço da sua idade, o veterano ex-frontman do Only Ones chega a seu terceiro álbum solo com forma de garoto e sabedoria de ancião.
Saya Gray – “SHELL (OF A MAN)” – Há um quê do lado mais experimental de Paul McCartney nesta faixa do álbum de estreia da cantora-compositora canadense (elas estão mandando na playlist da semana!) de pop alternativo, Saya.
Yukimi – “Break Me Down” – A sueca, que praticava o eletropop com o grupo Little Dragon, traz arranjos e vocais suntuosos para seu primeiro single individual, parceria com a britânica Lianne La Havas.