Os Rolling Stones abrem espaço – e uma nova plataforma de divulgação – no mundo virtual
Em meio a um mercado fragmentado e ultra-competitivo, artistas de música recorrem ao Roblox, espécie de playground virtual que oferece jogos, eventos de ativação de marca,. vendas – e até shows
Já não basta fazer shows ou lançar discos, aparecer na televisão ou tocar no rádio. Mesmo porque esse mundo, como o conhecíamos, não existe mais.
O mercado anda tão fragmentado que turnês aparentemente tiro-certo andam sendo canceladas a torto e a direito (vide os casos recentes de Jennifer Lopez e Black Keys e mesmo de festivais), possivelmente vitimadas por um excesso de oferta de shows após a longa seca da pandemia. As cifras de vendas de discos físicos (antes representativas de grande parte dos proventos) repartem espaço com os números gigantes do mundo do streaming (que, ironicamente, rende bem menos aos artistas). Enquanto isso, rádios tornam-se cada vez mais segmentadas e pulverizadas, seja em formatos tradicionais, via satélite ou internet. Cada vez menos milho para cada vez mais galinhas.
Para um artista de música, neste tão volátil e movimentado século 21 o sustentamento de carreira precisa incluir uma série de desdobramentos para a divulgação, que vão de forte presença nas redes sociais (cujo ranking varia constantemente, o que deixa todo mundo na ponta dos cascos o tempo inteiro), em podcasts (que se multiplicam feito fogo em mato seco, o que torna ferrenha a disputa por audiência), a vendas de catálogo (especialmente pelos artistas mais velhos, dentre eles Paul Simon, Bruce Springsteen e Bob Dylan), “ressurreições” via Inteligência Artificial (não-autorizadas, algo tentado com Stevie Marriott, ex-Small Faces e ex-Humble Pie, para grita geral) ou hologramas (como se fez com o Abba, com o aval e a participação do próprio quarteto, já afastado dos palcos), e a realização de parcerias para a criação de produtos paralelos à música, sejam eles roupas, bebidas, cruzeiros, exibições de acervo, jogos eletrônicos ou o metaverso (algo, na verdade, que ainda está em fluxo).
Tudo para manter ou aumentar a visibilidade e a popularidade de um artista de música.
Esta semana, por exemplo, os Rolling Stones anunciaram que também farão parte do universo do Roblox, uma espécie de playground virtual onde acontece uma variedade de eventos, desde shows e competições a vendas de produtos exclusivos.
A pleno vapor na estrada, em meio a uma turnê de 21 shows pelos Estados Unidos a reboque de seu novo álbum, Hackney Diamonds, lançado no final do ano passado, os Stones passam agora a integrar um time que já inclui artistas como YUNGBLUD, Elton John, Nicki Minaj e Lil Nas X. Todos embarcaram na mesma onda de marcas famosas e bem solidificadas – leia-se Nike, Gucci, Spotify e Ralph Lauren – que adotaram o Roblox como um trampolim adicional de fidelização de público e geração de renda.
Via Roblox, os Stones oferecerão na Beat Galaxy, uma plataforma virtual de música criada em 2023 especialmente pelo Universal Music Group – que distribui o catálogo do grupo –, jogos interativos ligados a seus maiores sucessos, com entrega de prêmios como recompensa, venda de mercadoria exclusivamente criada para a plataforma, e abrirão uma rede social e um clube virtual só seus.
“Levar nossa música ao mundo virtual da Beat Galaxy é uma maneira inovadora de conectar como nossos fãs, novos e já existentes”, comemoraram os Stones num release, cientes, imagina-se, de que atingirão uma faixa etária bem jovem com a entrada no Roblox, o público já habituado a essa plataforma.
Embora falte avaliar o resultado real da iniciativa, é uma jogada que mostra a vontade do grupo, em atividade desde 1962, ajustar-se aos tempos atuais.
E os mesmos Stones já estão em negociações para se perpetuar para além da própria morte. A exemplo do que o Kiss fez recentemente. Junto com a Industrial Light & Magic – produtora de efeitos visuais fundada por George Lucas nos anos 1970 e ainda hoje à frente do seu tempo – , os fundadores Paul Stanley e Gene Simmons traçaram o caminho para "uma nova era” na trajetória do Kiss, criando versões virtuais dos quatro personagens que integram o quarteto.
O próprio Mick Jagger admitiu isso – e com entusiasmo – nas entrevistas feitas para promover o lançamento de Hackney Diamonds.
Mick, Keith Richards e Ron Wood não vão durar para sempre. Sem sua presença física, não será mais possível lotar estádios. Mas avatares e hologramas (autorizados) podem manter aceso o interesse por “shows” que tentem reproduzir a sensação de vê-los ao vivo.
Apostar nessas novas tecnologias não deixa de ser inteligente. Especialmente quando se sabe, como dito numa música dos próprios Stones, que o tempo não espera por ninguém.
Netflix abre shoppings. De onde vem a língua portuguesa? Colegas relembram Donald Sutherland. Uma convenção para fãs de Robert De Niro. E um membro do clã Van Halen reparte o palco com o Mr. Bungle de Mike Patton.
– A Netflix está saindo das telas de TV e de dispositivos móveis para ocupar espaços físicos com um universo ligado ao seu conteúdo. Primeiro, vieram as lojas/experiências temáticas pop-up que reproduziam cenários de Stranger Things e vendiam mercadorias ligadas à série. A partir do ano que vem começarão a ser abertos “shoppings” Netflix nos Estados Unidos (os dois primeiros serão na Pensilvânia e no Texas). Os espaços de quase 10 mil metros quadrados – antes ocupados por lojas de departamentos – terão restaurantes temáticos e venderão mercadorias, de novo relacionadas a filmes e séries de maior sucesso na Netflix, como Bridgerton, Squid Game e, claro, Stranger Things. A idéia não é exatamente gerar renda adicional, mas transformar esses locais de comércio em ferramentas de marketing, criar buzz em relação ao conteúdo da plataforma de streaming.
– De onde vem a língua portuguesa? Do espanhol, como alguns acreditam? Segundo o linguista lusitano Fernando Venâncio, ex-professor da Universidade de Amsterdã e autor do livro Assim nasceu uma língua, o caminho até chegar-se ao Português é bem outro, apesar de ter havido uma influência da Espanha entre os séculos XV e XVI. “As gêneses de um e de outro (o Português e o Espanhol) são nitidamente diferentes”, diz Fernando. O Português proveio do latim, através do galego. Esse processo já é nítido por volta do ano 600 d.C.”. Ele até levanta a existência de uma terceira língua intermediária, o leonês, hoje ainda presente sob a forma do mirandês que se fala em alguns territórios portugueses. Fernando aponta, ainda, o distanciamento entre o Português de Portugal do praticado no Brasil. Ainda que a linguagem culta ainda seja largamente a mesma nos dois lados do Atlântico, “a expressão diária começa a diferenciar-se de tal modo que gera a dúvida e mesmo a incompreensão. Isso leva a que obras literárias de outras línguas sejam traduzidas no Brasil e em Portugal separadamente, como se de idiomas diferentes se tratasse”.
– O cinema perdeu na semana passada Donald Sutherland, versátil ator canadense que esteve em alguns filmes-marco de sua geração, da comédia anti-guerra M.A.S.H., um dos clássicos do diretor Robert Altman, a Klute-O Passado Condena (ao lado de Jane Fonda), Os Invasores de Corpo, Novecento e Casanova de Fellini. Recentemente visto na série de filmes Jogos Vorazes, Donald tinha 88 anos. Colegas de ofício, atores e diretores relembraram o talento do colega, “um ícone da tela capaz de transformar um filme”, segundo o diário britânico The Guardian.
– Já vimos convenções dedicadas a quadrinhos, à série Jornada nas Estrelas, mas uma convenção somente para reunir fãs de Robert De Niro? Pois a De Niro Con aconteceu dias atrás, em Nova York, com ingressos que custavam de 150 a 1.750 dólares, dependendo do que cada categoria de preço oferecia. Durante os três dias de convenção, quem ia lá podia tatuar no corpo a cara de algum dos personagens famosos interpretados pelo ator, passear pelo quarto caquético onde morava Travis Bickle, protagonista de Taxi Driver, gravar um vídeo lutando boxe como se fosse o Touro Indomável ou visitar uma reprodução do bar de Os Bons Companheiros.
– Colaboração explosiva a de Wolfgang Van Halen – filho de Eddie – com o Mr. Bungle, grupo do vocalista Mike Patton (Faith No More) e do guitarrista Scott Ian (Anthrax). O jovem baixista empunhou a guitarra para subir ao palco num show do Mr. Bungle no Festival Graspop Metal Meeting, em Dessel, na Bélgica, para, juntos, fazerem uma versão de “Loss of Control”, faixa do disco Women and Children First, do Van Halen. A íntegra da apresentação está no Instagram do Mr. Bungle.
PLAYLIST FAROL 89
John Lennon definitivo. Mavis Staples dançante. Mike Campbell + Graham Nash. O queridinho Mysterines. Black Country Communion numa vibe Zep. O power-pop rock do Redd Kross. A mini-ópera de RAYE. O synth-pop de Brimheim. O peso e a marra de Hello Mary. E Chrystabell + David Lynch.
John Lennon – “Mind Games”– O quarto álbum solo de estúdio pós-Beatles de John, lançado originalmente em 1973, ganha o tratamento Definitivo com uma reedição ultra parruda, que inclui a evolução das canções, de demos à produção final, com supervisão de Sean Ono Lennon.
Mavis Staples – “Worthy”– Junte o gospel e o soul de uma das vozes mais marcantes da música americana com a produção eletropop da jovem MNDR – nom de plume da também americana Amanda Lucille Warner. O resultado é este single ao mesmo tempo dançante e inspirador, para Mavis comemorar seus 84 anos (a idade que Lennon teria hoje).
Mike Campbell – “Dare To Dream” – O ex-Heartbreakers preserva o som de rock clássico com um tantinho de sotaque sulista no terceiro álbum à frente de seu novo grupo, o Dirty Knobs, Vagabond, Virgins & Misfits. Aqui, recebe a adição da voz de Graham Nash.
The Mysterines – “The Last Dance” – Um senhor quê de PJ Harvey – na forma da frontwoman Lia Metcalfe cantar – faz parte da identidade musical do quarteto de rock indie vindo de Liverpool, queridinho atual das rádios britânicas. Seu novo álbum, Afraid of Tomorrows, acaba de sair.
Black Country Communion – “Stay Free”– O quarteto que reúne o guitarrista Joe Bonamassa, o baixista e vocalista Glen Hughes (ex-Deep Purple e ex-Whitesnake), o tecladista Derek Sherinian e o baterista Jason Bonham (filho de John e seu substituto na última reunião do Led Zeppelin) acaba de lançar seu quinto álbum de rock pesado, com uma sonoridade não muito distante da de Physical Graffiti, álbum clássico do Zep.
Redd Kross – “I’ll Take Your Word For It” – Veterano californiano do power pop-rock, o projeto dos irmãos Jeff e Steve McDonald mantém em seu oitavo álbum, In The Red, um vigor de juventude, após 45 anos de atividade.
RAYE - “Genesis”– A artista britânica canta os prós e contras de ter vinte e poucos anos com sete minutos de uma mini-ópera pop que mistura diferentes estilos – de rap e hip-hop a jazz estilo big band– e destaca suas excepcionais qualidades vocais.
Brimheim – “Dancing in the Rubble”- Os destroços de uma separação são o fundamento para esta amostra de RATKING, o segundo álbum da dinamarquesa Helena Heinesen Rebensdorff, que assina Brimheim, com tons operísticos e toques de synth-pop safra anos 1980.
Hello Mary – “0%” – Trio nova-iorquino feminino com peso e marra de alta tonelagem, impulsionado pela modulação de Stella Wave nos vocais e na bateria, contrastando entre a doçura e a ferocidade absoluta.
Chrystabell & David Lynch – “Sublime Eternal Love”– Vocês devem lembrar de ter lido aqui neste FAROL, não muito tempo atrás, sobre o cineasta e músico bissexto David Lynch anunciar que “algo que estava por vir”. Pois este “algo” chegou e é uma colaboração musical com a artista texana com quem David trabalhou pela primeira vez quando usou uma de suas músicas na trilha do filme Inland Empire, em 2006, e a quem arregimentou para representar a agente Tammy Preston em Twin Peaks: The Return. Misterioso, em clima de sonho, o single prenuncia um álbum, Celophane Memories, que sai em agosto.