Os 50 anos de amizade entre Picasso e Miró ganham mostra monumental em Barcelona
Mais de 250 obras, trazidas de 35 coleções e instituições de diferentes partes do mundo, contam, em dois espaços museais da cidade catalã, uma história de respeito e admiração
Foram cinquenta anos de convívio, admiração, respeito, desafio mútuo e, sobretudo, amizade, entre dois dos maiores artistas do século 20 – Pablo Picasso e Joan Miró, ambos espanhóis.
Uma amizade tão grande e uma obra tão ampla e rica, somados os trabalhos icônicos criados por cada um, que mereceram agora não apenas uma mostra conjunta e celebratória dessa relação, mas uma exposição monumental, distribuída em dois espaços museais de Barcelona, na Espanha: a Fundació Joan Miró, no Parque Montjuíc, e o Museu Picasso, em el Born.
Urdida durante cinco anos, a oito mãos, por Margarida Cortadella e Elena Lorrens – representantes do Museu Picasso – junto com Teresa Montaner e Sònia Villegas – da Fundació Miró –, a mostra reúne mais de 250 obras trazidas de 35 instituições e coleções privadas espalhadas pelo mundo inteiro. Algumas delas jamais vistas em Barcelona. E coincide com o aniversário de 50 anos da morte de Picasso.
Há, inclusive, o intercâmbio temporário de trabalhos entre suas moradas fixas originais. Dessa forma, especialmente para a duração da mostra, obras que sempre estiveram no Museu Picasso foram para a Fundació Joan Miró – e vice-versa.
“Muito já foi escrito sobre eles, mas queríamos saber o que significava a amizade deles. Este é o fio condutor que nos ajudou a sustentar a estrutura da exposição”, explica Llorens. Por isso, a exposição conjunta não busca uma abordagem formal das suas obras nem segue uma ordem cronológica, mas “olha para a história desta amizade”, como define Cortadella, a partir do momento em que os dois artistas se encontram pela primeira vez, na Paris de 1920, até chegar à morte de Picasso, em 1973. Tudo pontuado pela arte – em especial, o surrealismo – , as guerras e as diversas disciplinas em que os dois artistas atuaram, além da pintura, como a escrita e a cerâmica.
Embora completamente diferentes na personalidade e na linguagem artística, ”Picasso e Miró se reconhecem um no outro em sua liberdade criadora, em seu impulso transgressor e em sua capacidade para abrir novos caminhos’, escreveu Teresa Sesé, no jornal La Vanguardia.
Miró-Picasso pode ser visitada até 25 de fevereiro de 2024.
O trabalho do "pai da poesia inglesa” chega à internet. Taylor Swift é agora, oficialmente, uma bilionária. Martin Scorsese se esbalda nas redes sociais. A arte indígena do Brasil vai para a Bienal de Veneza. E a reação de Hollywood ao conflito entre Israel e o Hamas revela uma divisão inesperada.
– Todo o trabalho de Geoffrey Chaucer que está sob a guarda do British Museum acaba de chegar à internet. Poeta e diplomata do século 14, conhecido principalmente por The Canterbury Tales, uma das primeiras obras literárias de grande importância a serem escritas em inglês médio, Chaucer é considerado por muitos o pai da poesia inglesa, e o trabalho de digitalização de quase 25 mil peças – incluindo ilustrações medievais elaboradíssimas – demorou dois anos e meio.
– Quando desembarcar no Brasil, mês que vem, para shows da turnê Eras, Taylor Swift poderá ser chamada, oficialmente, de bilionária. Esse é o cálculo da revista Bloomberg, que contabilizou: 400 milhões de dólares pelo catálogo de gravações; 370 milhões por vendas de ingressos e merchandising; 120 milhões de rendimentos no Spotify e no YouTube; 110 milhões em bens pessoais; 80 milhões em vendas de música. E isso não leva em conta o cômputo final do faturamento da atual turnê, que já acumulou 700 milhões de dólares em vendas de ingresso – e ainda faltam quase 90 shows. Pode tornar-se a turnê de música mais lucrativa de todos os tempos.
– Martin Scorsese está sabendo muito bem como utilizar as redes sociais para se comunicar com o público, em geral, e com os fãs mais interessados nas observações do diretor sobre o cinema de todos os tempos. Na conta no TikTok da filha, Francesca Scorsese, ela mesma uma cineasta, Martin diverte todo mundo com brincadeiras leves. Por exemplo, dirigindo seu cachorro, Oscar, como se o totó estivesse num teste para uma filmagem. Ou, então, tentando adivinhar o significado de gírias usadas pelas novas gerações. Enquanto isso, sozinho, criou dias atrás – justo quando estreou seu novo longa, Assassinos da Lua das Flores – uma conta na Letterboxd, plataforma que permite a espectadores de filmes registrarem, avaliarem e comentarem o que andam assistindo. Já deixou registrado quase 70 filmes dos que já viu.
– A arte indígena ocupará o pavilhão do Brasil na 60ª Bienal de Veneza de 2024. Artistas como Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Wapichana selecionarão as obras que participarão da mostra, intitulada "Ka’a Pûera: Nós Somos Pássaros que Andam”, que abordará questões de marginalização e violação dos direitos territoriais ao mesmo tempo em que celebrará a resiliência e a memória das comunidades indígenas brasileiras. "O pavilhão será imbuído da visão de curadores e artistas de povos originários, que trazem uma perspectiva urgente para o mundo”, diz José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
– A maneira como Hollywood reagiu ao conflito atual entre Israel e o Hamas revelou uma divisão até agora desconhecida, que deixou vários judeus se sentindo abandonados pela indústria de entretenimento que ajudaram a fundar. A revelação é do jornal The New York Times. Segundo a publicação, os próprios estúdios de cinema optaram pelo silêncio, enquanto um dos principais sindicatos, o do roteiristas, preferiu não se manifestar publicamente sobre a questão. Alguns roteiristas chegaram a ameaçar sair do sindicato, outros anunciaram que deixariam de pagar temporariamente suas mensalidades. “Depois do 7 de outubro, não teria sido difícil para as pessoas emitir comunicados no sentido de que estupro, assassinato ou sequestro de civis não são aceitáveis”, disse a rabino Sharon Brous, fundadora do Ikar, uma congregação em Los Angeles frequentada por muitos diretores, roteiristas e executivos de Hollywood. “Mas como isso não aconteceu”, ela conclui, “muita gente está chocada e com medo”.
PLAYLIST FAROL 59
Os Beatles para o século 21. Elapsie revisita clássicos do rock e do pop usando sua língua indigena. A confluência de Afrobeats e gospel na música de Mr. Eazi. O batuque primal e a energia sanguínea de Nadine Sha. Flyte + Laura Marling. Silvana Estrada canta o amor não correspondido. O psicodelismo à enésima potência do The Third Mind. O Yard Act dá uma rasteira no ouvinte. O indie pop da dinamarquesa ee gee. E o samba/R&B/Hip-hop de Jota.pê.
The Beatles– “Now And Then”– Quem imaginaria que em 2023 o mundo teria discos novos dos Rolling Stones e dos Beatles?
E, no entanto, aí estão Hackney Diamonds, e, agora, “Now And Then”.
Mas enquanto o novo álbum dos Stones mostra o trio-núcleo revigorado e com fome de jogo, o novo single está sendo divulgado como "a última" música a ser lançada sob o nome do quarteto de Liverpool. É um encerramento de ciclo, uma conclusão de trajetória. E como tal possui um condimento emocional bem mais carregado – e agridoce. É o registro através do qual os Beatles se despedirão do mundo – pelo menos, o fonográfico.
Nascida de uma fita demo gravada de maneira rudimentar por John Lennon em algum momento do final da década de 1970, dada por Yoko Ono aos então Threetles, “Now And Then” era para ter sido trabalhada e aprimorada por Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr e incluída num dos três volumes da Antologia editada entre 1995 e 1996. A qualidade técnica da demo, entretanto, impediu que isso acontecesse: o som do piano tocado por John na demo tornava impossível utilizar a voz de Lennon a contento. Quando George decretou que as tentativas estavam resultando em “lixo”, “Now And Then” foi deixada de lado.
Até que, em 2021, o documentário Get Back mostrou que havia uma saída para o problema. Peter Jackson, o diretor, utilizou no projeto uma nova tecnologia de áudio – ironicamente chamada de MAL, o mesmo nome do fiel faz-tudo dos Beatles, Mal Evans – capaz de separar instrumentos de vozes. Assim, era possível isolar a voz de John do piano. E concluir a feitura de “Now And Then”.
Paul e Ringo fizeram questão de registrar novas participações. Foram mantidas as passagens de violão e guitarra de George. Quando faltou um solo, Paul encarregou-se de homenagear Harrison tocando uma guitarra slide em estilo parecido com o do antigo companheiro de banda. Por fim, McCartney, Giles Martin e Ben Foster escreveram e gravaram um arranjo de cordas.
O resultado final valoriza a voz, a melodia, a letra e a emoção intencionada por Lennon. Em vez do fiapo quase fantasmagórico de “Free As A Bird” e “Real Love”, John soa plenamente presente, vivo – e jovem.
Tanto que a voz de Paul – a de um homem de 81 anos, sem o mesmo brilho e vigor de antes – aparece com menos destaque, uma forma de se minimizar o contraste, ou de dar elegância a essa combinação de vozes tão clássicas e tão entranhadas na nossa memória, hoje combinadas de maneira tão diferente.
Em termos musicais, “Now And Then” fustiga a emoção de quem há décadas convive com os Beatles, através do contrabaixo brilhante de McCartney, de um arranjo de cordas repleto de pequenas “revisitas” – ecos de “I Am The Walrus” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” surgem aqui e ali– e de vocais enxertados de “Because”, “Here, There And Everywhere” e "Eleanor Rigby" .
Para um grupo com uma discografia tão brilhante, é até irreal querer equiparar “Now And Then” à criatividade e à força dos Beatles quando estavam juntos e no topo da forma. Mas o que se conseguiu aqui foi uma página final com emoção, inventividade e qualidade para celebrar a obra de artistas que definiram o DNA de tudo que foi feito no pop e no rock.
Na música, de tom melancólico, John canta sobre o reconhecimento de uma perda, e do quanto aquilo que foi perdido impactou positivamente a vida, e de como devemos ser gratos por isso.
“Now And Then” nos lembra quem são os Beatles e todas as perdas sofridas no grupo, e oferece uma despedida com gosto de saudade.
Elisapie – “Wish You Were Here“ – Indígena canadense do povo Inuk, Elapsie regravou em sua língua-mãe standards do pop e do rock, dando a eles um tratamento folk ou indie sofisticado, mas sempre com toques tribais, especialmente na percussão. Com a ajuda de The Westerlies, quarteto de metais de Nova York, repensou um dos clássicos do Pink Floyd.
Mr. Eazi – “Exit”– Afrobeats e gospel comvergem nesta faixa de The Evil Genius, o primeiro álbum de estúdio de Eazi, artista já de enorme sucesso na África, através de compactos e mixtapes. Acompanhado aqui pela participação cintilante do Sowetto Ghospel Choir.
Nadine Sha – “Topless Mother”– A cantora-compositora britânica inaugura um novo selo da EMI – baseado em Manchester, em vez da Londres de hábito – com um single de seu novo álbum, Filthy Underneath, misturando batuque primal e energia sanguínea com distorção e microfonia.
Flyte – “Tough Love”– A dupla britânica – composta de Will Taylor e Nick Hill – evoca muito do indie pop de Joseph Arthur neste single agridoce, feito com a colaboração da conterrânea Laura Marling.
Silvana Estrada – “Qué Problema”– Sempre que a cantora-compositora mexicana Silvana tem algo a dizer, o FAROL prestará atenção. Nesta canção sobre amor não correspondido, ela alia seu cuarto venezuelano a piano elétrico, bateria, violoncelo e flauta.
The Third Mind – “Sally Go Round The Roses” – Os ecos de Grace Slick e The Jefferson Airplane são inevitáveis, mas o grupo formado por Dave Alvin, dos Blasters, Victor Krummenacher e David Immerglück, do Camper Van Beethoven, e Michael Jerome, do Better Than Ezra (aqui auxiliados pelos vocais de Jesse Sykes), pisa ainda mais fundo no psicodelismo, embalado pela máxima de Miles Davis: gravar sem ensaios, sem arranjos pré-determinados, e ver no que dá.
Yard Act – “Dream Job”– Abrindo com uma releitura da introdução de “Got To Give It Up”, de Marvin Gaye, para dar a suspeita de que vem por aí festa, o quarteto de Leeds, na Inglaterra, dá uma rasteira no ouvinte ao falar, de maneira sarcástica, sobre as agruras da vida do músico. Mas é tudo dançável e cheio de ganchos, parte do novo álbum do grupo, Where’s My Utopia?.
ee gee– “she-rex”– Harmonias precisas, climas à Sufjan Stevens e uma guitarra havaiana marcam o indie pop do novo single da dinamarquesa Emma Grankvist.
Jota.pê– “Um, Dois, Três”– Samba/R&B/Hip-hop cheio de ginga do segundo álbum solo do cantor-compositor paulista, Se O Meu Peito Fosse O Mundo.