O seriado badalado que virou vitrine para o rock do underground chinês
Atualmente o maior sucesso da TV na China, 'The Long Season' atrai imenso público com uma trama eletrizante de crime e uma trilha sonora para lá de cult
Quem assistiu à segunda encarnação do icônico seriado Twin Peaks, em 2017, vai lembrar que o encerramento de cada episódio culminava com a apresentação de um número musical no saloon local, o Bang Bang Bar.
Passaram por aquele micro-palco nomes como Nine Inch Nails, Sharon Van Etten, Moby, mais um bom número de artistas independentes, menos conhecidos mas adorados pelo diretor e criador da série, David Lynch, ele mesmo dedicado a fazer música. Essa leva indie e alternativa incluiu a banda britânica The Veils, a cantora Lissie, o escocês Hudson Mohawke, o trio Au Revoir Simone, o quarteto Chromatics e o grupo Trouble, integrado pelo filho do próprio David, Riley Lynch.
Agora, na China, outro seriado de TV aproveita o encerramento de cada episódio para destacar a música de um determinado artista. Só que a série The Long Season – que também envolve um crime chocante, cometido numa cidade pequena, como acontece na serrana Twin Peaks – dá um passo bem adiante do movimento feito por Lynch para dar espaço exclusivamente a bandas do underground chinês.
São artistas pouco conhecidos, alguns verdadeiramente obscuros, mas intensamente adorados por seus fãs e pares, cuja música é usada para encerrar cada um dos 12 episódios do seriado de maior sucesso atualmente na China desde que estreou no canal de streaming Tencent Video, em 22 de abril.
Essa escolha reflete bem o gosto – e o currículo – do diretor Xin Shuang – ex-guitarrista da Joyside, legendária banda chinesa de punk rock – e a forma como funciona sua parceria com o diretor musical Ding Ke, com quem trabalha há anos em projetos para a TV.
O lineup under/indie selecionado por Shuang e Ding vai do quinteto Hiperson – que faz um rock pós-punk onde a vocalista Shen Sijiang, um tanto inspirada em Siouxsie Sioux, por vezes opta por declamar as letras – ao trio Supermarket – considerado um dos primeiros grupos de rock eletrônico da China.
Uma versão do clássico “Blue Moon” surge interpretada pelo The Mold, grupo de contornos psych-rockabilly e super influenciado pelo americano The Cramps.
A própria Joyside – banda onde militou o diretor do seriado – faz uma aparição, cantando em inglês a canção "If There Is A Tomorrow”.
Enquanto a série não chega ao Brasil, assista ao trailer (em chinês!) e conheça um pouco das atrações musicais de The Long Season.
O som de 'The Long Season'
A exposição com obras feitas no cárcere por presos políticos. “Viver de dança no Brasil é semear flor no deserto”. Também não é fácil a vida em Hollywood dos diretores estreantes. As limitações dos serviços de streaming de música clássica. E um desenho traz a playlist completa dos shows da atual turnê dos Titãs. Consegue identificar todas as músicas?
E mais …
– Em cartaz até dezembro no Centro MariAntonia, da Universidade de São Paulo (USP), na Vila Buarque, a exposição Imagem-Testemunho reúne 41 obras – dentre desenhos, pinturas, colagens e gravuras – feitas por 12 presos políticos em presídios de São Paulo durante os anos 1970. Também fazem parte da mostra 16 documentos relacionados à época e sete vídeos com trechos de depoimentos dos militantes envolvidos nas obras. Uma das militantes/artistas, Rita Sipahi, considera as obras símbolos da "liberdade dentro da prisão”, uma vez que, apesar de proibirem livros, os carcereiros não se importavam com os detentos fazerem desenhos ou pinturas.
– "É dura a vida da bailarina", costuma-se dizer, de brincadeira, na hora de se qualificar, com sarcasmo, um momento difícil. Mas a realidade dos profissionais brasileiros de dança realmente não é fácil. “Viver de dança no Brasil é semear flor no deserto”, atesta o título do texto que escreveu para a Folha de S. Paulo Adriana Nunes, jornalista e bailarina, diretora da Antônima Cia de Dança e intérprete na Mais Companhia. De acordo com Adriana, o panorama para quem se dedica à dança por aqui é bastante árido, diante de obstáculos como a carência de editais, a falta de estratégias de governos e centros culturais para formação de público e o pouco espaço dado pela mídia. "Ainda assim", ela complementa, "movidos por paixão ou teimosia, grupos, coletivos e companhias seguem criando”.
– Tampouco é fácil a vida do diretor de cinema estreante em Hollywood. É a conclusão de um levantamento feito pela University of California-Los Angeles (UCLA), segundo o qual nos últimos 12 anos apenas 23.4% de diretores estreantes conseguiram fazer um longa-metragem produzido por um grande estúdio. Embora o estudo argumente que contratar um diretor estreante não é necessariamente mais arriscado que contratar um nome consagrado e experiente, dois fatores servem para barrar novatos: a priorização de insiders, pessoas que já fazem parte do círculo restrito de profissionais com contatos e reconhecimento, e o critério de se avaliar os projetos conforme a ótica de homens brancos. O que duplica as dificuldades para mulheres diretoras, segundo a revista Variety.
– Desfrutar de música clássica através dos serviços de streaming não proporciona uma experiência sequer próxima daquela dos que preferem música popular, em qualquer de suas vertentes. Mesmo o novo app dedicado aos clássicos, lançado recentemente pela Apple – ainda que superior, em vários aspectos, ao que se consegue através do Spotify, por exemplo, no quesito música clássica – deixa a desejar. Qual seria o motivo? "No pop, você procura pela música ou pelo artista", disse a O Globo Carolina Borges, administradora artística da Orquestra de Auckland, na Nova Zelândia, e pesquisadora do universo do streaming. “Na clássica, há várias formas de fazer uma pesquisa: pelo compositor, pelo período em que a música foi composta, só por um movimento da sinfonia, pelo nome do regente e da orquestra, pelo ano da gravação. É um material muito difícil de se catalogar e, portanto, de ser encontrado”. Há também quem considere inadequada à música clássica a dinâmica de se consumir música faixa a faixa, e não discos inteiros. “Quando você vai escutar uma sinfonia, precisa ouvi-la toda e não só um movimento, ou terá uma experiência menor”, explica o maestro Carlos Prazeres.
– Para se preparar para assistir a um show da histórica turnê Titãs Encontro, que tal desvendar os nomes das músicas representados neste desenho aqui embaixo? Ele foi feito por Max Fromer, filho caçula de Marcelo Fromer, um dos fundadores do grupo, morto em 2001 por atropelamento, e traz a playlist completa dos shows da excursão.
PLAYLIST FAROL 36
A volta dos veteranos da No Wave nova-iorquina. Os suecos do The Hives musicam a “morte" de seu fundador. O primeiro single do quinteto londrino feminino que abriu para os Stones no Hyde Park. O ex-Plimsouls recebe um Leon Russell de frente. O encontro de um produtor de EDM com o mestre da ambient music. A cantora feeo ecoa a fase jazzística de Joni Mitchell. Jeff Tweedy produz o venerado texano Rodney Crowell. O primeiro disco solo da vocalista do Beach House. A Sala Cheia de Dentes testa os limites da voz humana. E o blues pesado contemporâneo do trombonista Reginald Chapman.
Bush Tetras – “Things/Put Together”– Veterano do No Wave nova-iorquino, o grupo sobrevive com apenas dois integrantes da formação original, a cantora e frontwoman Cynthia Sley e a guitarrista Pat Place, e apresenta sua primeira música nova desde 2012.
The Hives – “Bogus Operandi”– Também fora de ação há uma década, o quinteto sueco dá um gosto de seu novo álbum, The Death Of Randy Fitzsimmons, que teria sido criado a partir da descoberta de fitas gravadas pelo fundador do grupo, pretensamente morto ou desaparecido. Ou, então, tudo não passaria de uma pegadinha.
The Last Dinner Party – “Nothing Matters”– Vi o quinteto londrino feminino abrindo para The Rolling Stones no Hyde Park, em julho passado. Logo chamou atenção o rock sofisticado – com pinceladas de art pop – e a presença de palco do grupo, liderado pela vocalista Abigail Morris e turbinado por duas guitarristas de responsa, Lizzie Mayland e Emily Roberts. Mas só agora sai seu primeiro – e atrevidíssimo – single.
Peter Case – “Have You Ever Been in Trouble?” – Esta faixa do novo álbum do ex-Plimsouls se distancia do power pop da banda original de Peter e parece vinda de um outro tempo, com uma sonoridade de blues sulista década de 1970, aparentada com a de Leon Russell.
Fred again/ Brian Eno – "Enough”– O encontro de um produtor de EDM com o mestre da ambient music resulta sombrio, cerimonioso e enevoado.
feeo – “Iris” – Se você gosta da fase jazzística de Joni Mitchell vai adorar a cantora-compositora britânica Theodora Laird (ou feeo, como se identifica), que combina o baixo acústico de Caius Williams com sons eletrônicos, criando um efeito esotérico.
Rodney Crowell – “Everything At Once"– Jeff Tweedy, do Wilco, produziu The Chicago Sessions, o novo álbum do texano Rodney Crowell – aos 72 anos, um bastião do country rock dos Estados Unidos – e, de quebra, duetou em uma das faixas.
Bethany Cosentino – “It’s Fine” – A amostra inicial de Natural Disaster, o primeiro álbum solo da vocalista do celebrado Beach House – pausado por tempo indeterminado – de certa forma aproxima a cantora-compositora do universo sonoro de Sheryl Crow.
Roomful of Teeth – “Psychedelic: I. Deep Blue (You Beat Me)” – O que começa como canto religioso logo se transmuta num eletrizante exercício artístico de expansão das possibilidades da música vocal e da própria voz humana, empreendido por esta Sala Cheia de Dentes de Massachussetts.
Reginald Chapman – “There Is This Thing”– O trombonista Reginald uniu forças com o vocalista Sam France e o guitarrista Jonathan Rado – mais conhecidos como Foxygen – para criar um blues pesado contemporâneo bastante singular, com toques de alt rock.