Música como você nunca ouviu antes
O formato Dolby Atmos conquista fãs, músicos, serviços de streaming e gravadoras ao oferecer uma experiência sonora imersiva inédita, que ressignifica discos clássicos e aponta para o futuro da música
Em 2012, o diário The New York Times relatou que os Laboratórios Dolby – marca tradicional britânica, existente desde 1965, especializada em tecnologia do som e em redução de ruído em fitas – haviam acabado de disponibilizar um novo formato para equipar os sistemas de som dos cinemas: o Dolby Atmos, “capaz de movimentar sons numa sala de exibição de uma maneira inteiramente nova e realista”. O título da matéria previa que o recém-nascido Dolby Atmos “tornaria ainda mais assustadores os filmes de terror”.
Dez anos mais tarde, o Dolby Atmos é o formato mais usado nos cinemas, está presente nos sistemas de home video e nos filmes das plataformas de streaming, mas tornou-se também o padrão que vem revolucionando a maneira como ouvimos música.
Desde que o mundo começou a consumir música pré-gravada, no século 19, o desenvolvimento de novas tecnologias e novos formatos vem buscando aprimorar a experiência auditiva: os cilindros de cera que alimentavam os fonógrafos, discos de 78, 33 e 45 rotações por minuto, cassetes “normais" ou 8-track, mixagem quadrifônica, compact discs, DATs, Blu-rays, som surround 5.1. O Dolby Atmos é o mais recente dessa longa linhagem e serve não apenas para abrir e aprofundar o espectro sonoro, de forma que o ouvinte é cercado de som por todos os lados, inclusive de cima, mas também para, assim como aconteceu com a popularização das tecnologias digitais provocada pela chegada dos CD’s, permitir (mais) reedições tentadoras de discos importantes, agora oferecendo uma experiência imersiva inédita.
Que o digam Pink Floyd, Beatles, Rolling Stones, Elton John, Bruce Springsteen e Beach Boys, alguns dos artistas de longa carreira que tiveram seus álbuns clássicos remixados para o novo formato, atraindo velhos e novos fãs para adquirir um disco com 40 ou 50 anos de existência, agora revelado de uma nova maneira.
Não são apenas os veteranos com extensos catálogos valiosos que estão se beneficiando do Dolby Atmos. As novas gerações, representadas por nomes como Billie Eilish, Michael Kiwanuka, Jennifer Lopez, The Weeknd, Alicia Keys e Sam Smith, também vem adotando o formato, e há aqui um elemento deveras importante para uma adesão tão grande e rápida, e esse elemento pode ser resumido a uma palavra: Apple.
A Apple Music – o braço de streaming de música do gigante tech – investiu pesado no Dolby Atmos, focada em seu formato de áudio “espacial", oferecido online, em seus fones de ouvido AirPods e Beats Fit Pro – e em seus recém-lançados óculos Vision Pro. Chegou a incentivar gravadoras a fornecer material remixado em Atmos. Por causa desse agressivo pontapé inicial da Apple, como bola de neve o formato passou a ser adotado também por outros provedores de streaming de música – Amazon Music e Tidal, por exemplo – e hoje atinge mais de 500 milhões de ouvintes em 160 países.
Detentor do maior market share dentre as plataformas de streaming de música, com mais de 160 milhões de assinantes, equivalente a 31% do mercado, o Spotify ficou de fora, mantendo apenas os arquivos musicais de mixagem tradicional, em estéreo, coerente com sua postura conservadora de não abraçar novas tecnologias de som.
Os defensores do Dolby Atmos saúdam o formato como um antídoto a uma era onde música vem sendo usada como pano de fundo – durante o trabalho, o estudo, um passeio ou uma viagem de ônibus ou metrô – e uma volta a uma relação de maior intensidade e intimidade com a música, apreciando-se nuances e detalhes que agora são manipulados de maneira quase infinita, graças ao formato.
É quase uma retomada do ritual dos fãs que adquiriam um novo disco e sentavam-se diante de um aparelho de som, concentrados naquele momento, para degustar a nova aquisição, um segundo por vez. Só que agora a música não sai apenas de duas caixas de som posicionadas na frente do ouvinte. Ela parece vir de todos os lugares e envolve a pessoa de tal maneira que ela se sente dentro da música.
Giles Martin, craque da mixagem e especialista em Beatles – seu pai, George Martin, produzia os discos de John, Paul, George e Ringo – , elogia o formato, mesmo que a aparelhagem necessária para desfrutar em casa o Dolby Atmos ainda não seja plenamente acessível. Mas os preços tendem a diminuir com o tempo e existem equipamentos que reproduzem o formato usando apenas uma caixa de som. Um exemplo seria a Era 300, fabricada pela californiana Sonos.
"Mick Jagger veio me visitar no estúdio e conversamos sobre Atmos”, Giles contou à revista Variety. “Toquei algumas faixas (remixadas) para ele, que perguntou: 'Ótimo, mas como as pessoas vão escutar isso?'. É uma pergunta importantíssima. Por isso é interessante você ouvir Atmos saindo de apenas uma única caixa para entender o quanto o formato já progrediu”.
Martin acredita que um importante momento de popularização do Atmos virá quando o formato tornar-se largamente disponível em automóveis, também. Mercedes-Benz e Volvo são algumas das montadoras que já se preparam para isso. “Faz todo o sentido usar Atmos nos carros”, afirma Giles. “Porque num carro você sabe onde as pessoas estão”.
Ao comparar a mixagem em estéreo convencional de um disco com sua versão em Dolby Atmos, Tyler Hayes, do site AppleInsider, preferiu a maneira como a voz do cantor se destacava melhor em estéreo. “Ficava perto da minha cara”, escreveu, ,“ou logo em cima do meu cérebro”.
Por outro lado, Hayes afirma que o Dolby Atmos adiciona uma melhora notável e significativa à música. E que “só tende a melhorar na medida em que mais artistas e produtores compreenderem como podem esculpir músicas com o novo formato”.
“Goste ou não”, ele concluiu, "a música espacial é o futuro da indústria musical”.
O livro clássico de George Orwell continua atual, 120 anos depois. A pixel art ganha espaço. O diretor Roland Emmerich lança video game, seriado e animação. O projeto musical que reuniu dois dos maiores guitarristas de rock. E os segredos da música que John Williams cria para filmes.
– Cento e vinte anos depois de sua publicação, o livro 1984, clássico de George Orwell sobre uma sociedade distópica subjugada por um governo autoritário e onipresente, é um dos livros mais vendidos mundo afora, com mais de 100 milhões de exemplares adquiridos em edições feitas em 65 idiomas. No entanto, ao entregar os originais à editora londrina Secker & Warburg, Orwell manifestou frustração com seu próprio trabalho, para ele "abominável" e "horroroso". O desempenho do livro contradisse as previsões pessimistas de George e 1984 permanece atual e relevante, como explica a BBC News Brasil.
– A pixel art – uma composição digital, geralmente em baixa resolução, com ares retrô, lembrando vídeo games antigos, por vezes “fofinha" e propositadamente/artísticamente “tosca”– vem conquistando cada vez mais espaço na cultura pop, em parte impulsionada pela popularidade das NFT's. O diário O Globo selecionou alguns exemplos de destaques no gênero, pinçados de trabalhos feitos por artistas do Brasil e do mundo.
– Diretor de arrasa-quarteirões de bilheteria de ficção-científica como O Dia da Independência e Godzilla, o diretor e produtor Roland Emmerich fez uma parceria com os criadores dos jogos Warframe e World of Warcraft para montar uma nova franquia, Space Nation, que será composta de um video game descrito como uma "ópera espacial” (o que imediatamente traz à lembrança a série Guerra nas Estrelas), um seriado de TV e um punhado de curtas de animação. Primeiro, virá o jogo, capaz de reunir vários jogadores de uma só vez, que participam de uma jornada pela região chamada de Telikos, habitada por espécies alienígenas e comandada por três diferentes facções, cada uma com seu objetivo e sua ideologia.
– Já ouviu falar do Projeto Star Fleet, integrado por dois dos maiores guitarristas do rock? Pois esse projeto existiu em 1985, quando resultou num mini-LP, tinha em seus quadros ninguém menos que Brian May, do Queen, e Eddie Van Halen, e sua música finalmente virá à tona, au grand complet, com o lançamento, mês que vem, de um caixote contendo todas as 23 músicas gravadas no estúdio Record Plant, em Los Angeles, por May, Eddie, mais o baixista Phil Chen (que era da banda de Rod Stewart), o tecladista Fred Mandell e o baterista Alan Gratzer. O nome do projeto é o mesmo da série japonesa de animação que Brian assistia junto com o filho, Jimmy, que na época tinha quatro anos, e o primeiro single do caixote é justamente uma releitura do tema de abertura do programa.
– Qual é o segredo do veteranérrimo John Williams para encantar platéias do mundo inteiro com a música icônica – e inesquecível – que compõe para clássicos de Hollywood como E.T.-O Extraterrestre, Tubarão e as séries Indiana Jones e Star Wars , e que já rendeu ao mestre cinco Oscars? Segundo a avaliação do diário francês Le Monde, tudo está no leitmotiv, “um tema melódico ou harmônico destinado a caracterizar um personagem, uma situação, um estado de espírito e que, na forma original ou por meio de transformações desta, acompanha os seus múltiplos reaparecimentos ao longo de uma obra”. O jornal convocou uma jovem sinfônica – a Curieux – para explicar detalhadamente como isso se dá. É uma verdadeira aula de música.
PLAYLIST FAROL 43
Beck + Odyssey = pop dançante retrô. Os 34 anos de atividade do Texas. The Alarm celebra a vida. O pop sofisticado de Lloyd Cole. O momento em que Justin Vernon se transforma em Bon Iver. Devendra Banhart eletrônico, dark e cool. O classic rock de Picture Parlour. O psymangue do "Cavalo de Cão” recifense. O álbum póstumo do cérebro e coração do Sparklehorse. E o romantismo de Richard Hawley.
Beck/Phoenix – “Odyssey“ – O cantor-compositor americano uniu-se ao quarteto francês de alt-pop para gravar esta faixa com sabor retrô que antecede a turnê conjunta que farão por Estados Unidos e Canadá.
Texas – “After All” – Uma das atrações do Palco Pirâmide do Festival de Glastonbury, na semana passada, o grupo escocês de rock 'n’ soul liderado por Sharleen Spiteri comemora os 34 anos de carreira com uma mega compilação de 16 faixas, duas das quais inéditas, dentre elas esta.
The Alarm – “Forwards” – Composto no hospital, enquanto o frontman Mike Peters lutava contra a leucemia, o 21º álbum do grupo galês de enorme sucesso nos anos 1990 tem um sabor de vitória contra os reveses, de retomada e de foco no futuro.
Lloyd Cole – “The Idiot” – Quase 40 anos separam o sucesso do grupo original de Lloyd – os Commotions – e o novo álbum de pop sofisticado de Cole, On Pain, cujo foco é exatamente a passagem do tempo e o que ela provoca em nós. O tempo fez bem a Lloyd, que hoje, mais maduro, soa mais afiado, apoiado em sintetizadores e numa dose bem medida de auto-tune. Aqui ele homenageia dois de seus heróis, Iggy Pop e David Bowie, citando a Berlim que os dois adotaram, no passado, para ser o antídoto a uma Los Angeles devoradora.
Justin Vernon – “hazelton”– Existem músicas que prenunciam uma transformação no estilo ou na direção de um artista. É o caso desta faixa, gravada por Justin em algum momento entre 2005 e 2006, quando ainda era integrante do grupo DeYarmond Edison. O grupo não sobreviveu, Justin iniciou o projeto Bon Iver, e esta música tornou-se outra, “Holocene", que já consolidava a nova identidade artística e musical de Vernon. Agora, está sendo relançada dentro do parrudo caixote Epoch, com 83 faixas gravadas por Justin e seus colegas da antiga banda, anos atrás.
Devendra Banhart – “Twin” – Produzido por Cate Le Bon, Devendra abraça os sintetizadores e a sonoridade dark-cool dos anos 1980 em seu novo álbum, Flying Wig.
Picture Parlour – “Norwegian Wood” – Estiloso e pesado, atualizando a fórmula de classic rock, o primeiro single do quarteto de Manchester chega seis meses depois do primeiro show do grupo. O título, inspirado no do clássico dos Beatles, explica-se por também ser uma canção de desamor.
Surke, Indigodj – “Cavalo do Cão” – Integrantes do coletivo recifense BoiKOT, Indigo e Surke – DJs e produtores musicais – mergulham no psymangue nesta releitura de “Trincheira da Fuloresta”, de Siba e a Fuloresta, canção familiar a quem já conhece Nação Zumbi.
Sparklehorse – "Evening Star Supercharger” – Banda americana de indie rock criada por Mark Linkous, o Sparklehorse deu a largada com imenso sucesso, graças ao álbum Vivadixiesubmarinetransmissionplo, lançado em 1995. Mas a trajetória de Mark – que tinha acabado de colaborar com Danger Mouse no projeto Dark Night of The Soul – foi interrompida precocemente quando ele tirou a própria vida, em março de 2010, no meio da gravação de Bird Machine, um álbum que só sai agora, após ter sido concluído pelo irmão e pela cunhada de Mark, com base em anotações que ele deixou, detalhando o que planejava para cada música.
Richard Hawley – “Not The Only Road”– Escocês e ultra romântico, Hawley resolveu revisitar uma música sua de 20 anos atrás, sobre as dores do amor, com a perspectiva que só a vida pode trazer, aqui optando por um arranjo que remete a um clima de faroeste, onde o caubói segue em passo lento no seu cavalo, a caminho do sol poente.