Estamos chegando perto da turnê que rende um bilhão de dólares
Preços estratosféricos para ingressos, altíssima demanda por shows e excursões de longa duração formam uma “tempestade perfeita” no showbiz internacional
O crescimento vertiginoso da demanda por shows de música – represada por muito tempo, de maneira inédita, pela pandemia –, a oferta de grandes atrações na estrada, mundo afora, e a atual dinâmica de precificação de ingressos estão prestes a gerar um fenômeno inédito, senão em termos de cifras.
Por causa desta "tempestade perfeita”, mega estrelas da música pop, como Beyoncé e Taylor Swift, podem, muito em breve, ultrapassar a marca inédita de um bilhão de dólares em vendas de ingressos para shows de uma mesma turnê.
Para se ter uma ideia da dimensão desse número, leve em conta os números do atual campeão do setor, Elton John, cuja turnê de despedida, Farewell Yellow Brick Road, ainda em curso, já ultrapassou 800 milhões de dólares de renda com as vendas de ingressos. Esta excursão final, a essa altura, acumulou nove etapas que levaram Elton a diferentes partes de Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Europa, e ainda tem apresentações marcadas pelo menos até julho deste ano, na Suécia, se nenhum outro show for adicionado (na América do Sul e na Ásia, por exemplo). Ou seja, pode muito bem ser ele o artista a cruzar essa marca histórica.
Em comparação, o Coldplay – outro grande imã de público do universo pop – quebrou recordes em São Paulo ao atrair mais de 435 mil fãs para as inéditas seis noites de shows no Estádio do Morumbi. Mas a expectativa de cômputo final dos cifrões de sua atual turnê mundial é de "apenas" 340 milhões de dólares, abaixo do 10º colocado no ranking de turnês mais lucrativas da história: o Metallica, que colecionou 417 milhões de dólares durante a tour WorldWired, que durou de 2016 a 2019.
Já Swift e Beyoncé trafegam num outro patamar de popularidade, bem mais próximo do de Elton. Taylor já acumulou quase 600 milhões de dólares em vendas de ingressos durante sua atual turnê americana, que começou há pouco, em março, e tudo por conta apenas de shows realizados nos Estados Unidos.
Ed Sheeran também exibe números espetaculares: quase 780 milhões de dólares pelas 255 noites de sua atual turnê. Só que os parâmetros de precificação de ingressos dele limitam esse volume, para benefício dos fãs. Se ele não pede mais de 88 dólares por pessoa em seus shows, Beyoncé e Swift cobram, no mínimo, mais que o dobro, para início de conversa. E a capacidade de atrair público das duas parece ilimitada.
Quando foram anunciadas as vendas para a turnê The Eras, de Taylor, em novembro passado, 3.5 bilhões de pedidos de compra de ingressos – dos quais muitos feitos por bots, vale dizer – enlouqueceram o sistema de vendas da Ticketmaster nos Estados Unidos, pois era um volume de acessos equivalente a quatro vezes o máximo já atingido pela empresa.
Para conseguir atender a toda a demanda por ingressos Swift precisaria fazer mais de 900 shows em estádios grandes, 20 vezes mais que a turnê prevê.
Por sua vez, Beyoncé começa em maio sua turnê Renaissance, com a qual percorrerá Estados Unidos e Europa até setembro. Isso, por enquanto. Sempre podem ser adicionados mais shows e mais países – e, ao contrário de Swift, Beyoncé tem uma tradição mais consistente de apresentações fora dos Estados Unidos.
Nessa hora, entram no computo geral também os valores pedidos pelos ingressos. E os da turnê de Beyoncé variam de um mínimo em torno de 180 dólares, lá longe do palco, a lugares praticamente no colo da artista, pelos quais são pedidos três mil e quinhentos dólares.
Preços estratosféricos, de fato, e não para todo bolso. No entanto, quase toda a lotação da turnê de Beyoncé – ou dessa primeira fase dela – está esgotada. O que significa que há quem esteja disposto a pagar tanto para ver um show de seu artista favorito. E que a marca do bilhão de dólares recebidos por turnê está cada vez mais próxima.
Ritchie reclama seu império pop. Casa de Serge Gainsbourg aberta ao público. Algum dia sonhou ser James Bond? Coachella online (vezes seis). E o adeus a Al Jaffee.
– O maior fenômenos de música pop no Brasil do início da década de 1980, o cantor e compositor britânico Richard David Court – ou Ritchie, como tornou-se conhecido país afora – prepara a comemoração dos 40 anos de Voo de Coração, álbum de 1983 de onde saíram mega hits como “Menina Veneno”, "A Vida Tem Dessas Coisas” e a faixa-título, sucesso capaz de vender mais discos e cassetes que o até então eterno campeão fonográfico de todo ano, Roberto Carlos. Movido a uma sonoridade electropop, Ritchie viria a dar continuidade a seu imenso sucesso como o álbum do ano seguinte, A Vida Continua, que continha a também popularíssima "A Mulher Invisível”. Hoje com 71 anos, ele coleciona mais de 70 milhões de acesso em seu canal no YouTube. Diante do enorme interesse renovado por sua música, em 25 de maio Ritchie deslancha com um show no Cine Joia, em São Paulo, uma turnê que o levará, ainda, a Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba.
– A antiga casa de Serge Gainsbourg, o legendário cantor, ator e diretor francês que deu ao mundo provocações pop como o conhecidíssimo "Je t’aime moi non plus”, de 1969, gravado com sua esposa, a também atriz e cantora Jane Birkin, será oficialmente aberta ao público, a partir do final de setembro deste ano. Depois que Serge morreu, em 1991, sua residência parisiense já vinha atraindo fãs, que levam flores e mensagens ao local. Agora, a casa – que pertence à filha de Serge e Jane, a atriz Charlotte Gainsbourg – poderá ser vista por dentro também, e os visitantes conhecerão de perto alguns objetos pessoais do artista, de roupas, livros, fotos e instrumentos a brinquedos e pinturas de Salvador Dali. A expectativa é de que a Maison Gainsbourg receba 100 mil visitantes por ano.
– Algum dia sonhou ser James Bond? Não chega a ser uma realização completa, mas uma agência de viagens criou um itinerário que mergulhará você no mundo de luxo e aventura de 007. Mas vai custar caro. Muito caro. Para celebrar os 60 anos do personagem, a produtora EON Productions – que faz os filmes de James Bond – juntou-se à agência Black Tomato para elaborar um roteiro de no mínimo cinco noites, por pelo menos dois lugares diferentes da Europa, que oferece uma série de atividades, dentre elas efeitos especiais, cenas perigosas (de mentirinha, claro) e jantares nababescos. O custo da brincadeira? A partir de 18.500 dólares, por pessoa. Fora a passagem de avião.
– O fim de semana é da primeira parte do festival de Coachella, mas quem não estiver em pessoa na Califórnia para assistir a shows de atrações como os headliners Bad Bunny, Rosalía, Blackpink e Frank Ocean (veja aqui o lineup completo) ao longo das duas etapas do evento, que rola até 23 de abril, pode se ligar no YouTube, que oferecerá nada menos que seis canais de streaming diferentes durante todo o festival.
– Quem costumava ler a revista MAD – um ícone dentre as revistas de humor e quadrinhos do século 20 – vai lembrar que dobrando-se a ilustração da contracapa chegava-se a uma imagem e a uma mensagem ocultas e super bem sacadas. Essas “dobradinhas" eram criação do legendário cartunista Al Jaffee, sulista do estado da Georgia, nos Estados Unidos, filho de imigrantes russos, que trabalhou na revista desde 1955 e morreu semana passada, aos 102 anos. Mas Al fez muito mais na revista, como a série “Respostas Cretinas Para Perguntas Imbecis”.
PLAYLIST FAROL 32
As histórias do coração rock ’n’ roll de Lucinda Williams. Peter Gabriel celebra o que sai e o que entra. Metallica intacto e inconfundível. Public Image Ltd. dramático e nórdico. Jonathan Wilson arrojado, quase delirante. Os 30 anos do Pato Fu. O pop idiossincrático de This Is The Kit. O folk psicodélico de Josephine Foster. Pat Metheny revisita os arquivos. E a despedida de Cynara.
Lucinda Williams – “New York Comeback”– Recuperando-se de um derrame, nossa diva do country-rock bluesado retorna com uma das faixas de seu novo álbum, Stories from a Rock N Roll Heart, com acompanhamento de luxo de Bruce Springsteen e Patti Scialfa.
Peter Gabriel – “i/o”– Na faixa-título de seu primeiro álbum em 21 anos Peter se cerca do Soweto Gospel Choir para celebrar o que entra (input) e sai (output), em termos de produção, comunicação e emoção.
Metallica – “72 Seasons”– O som clássico do quarteto californiano mantém-se intacto e inconfundível na faixa-título de um verdadeiro evento fonográfico-musical: o álbum de metal mais esperado do ano.
Public Image Ltd. – “Penge” – Com ares nórdicos e dramáticos, a segunda faixa do primeiro álbum do grupo em oito anos – End of the World, que sai em agosto – é descendente direta de “Flowers of Romance” e compõe um conjunto de canções dedicadas a Nora Forster, esposa de John Lydon que morreu no inicio de abril, de complicações decorrentes do Alzheimer.
Jonathan Wilson – “Marzipan” – Cantor, compositor, produtor de Father John Misty e caubói espacial com fortes influências do country-rock feito em Laurel Canyon nos anos 1960, em seu novo single Jonathan parte para uma narrativa arrojada, quase delirante, com arranjo orquestral e fragmentado, inspirado numa gravação antiga de Jim Pembroke, britânico que cantava no grupo finlandês Wigwams, de rock progressivo, para falar de sua descoberta do country tradicional e do jazz – e do afastamento do ser humano de sua própria humanidade.
Pato Fu– “No Silêncio” – O quinteto mineiro celebra 30 anos em atividade com nove novas faixas de um pop irresistível.
This Is The Kit – “Inside Outside” – Baseada em Paris, Kate Stables faz um pop idiossincrático que provoca e surpreende, produzida por Gruff Rhys, dos galeses Super Furry Animals.
Josephine Foster – “Pendulum” – Violão, rabeca que lembra Mellotron, grilos e uma sonoridade fantasmagórica compõem o folk psicodélico da americana do Colorado, cujo novo álbum, Domestic Sphere, acaba de sair.
Pat Metheny – “From The Mountains”– O guitarrista resolveu revisitar os arquivos de som guardados numa pasta em seu computador – rascunhos, ideias, testes de novas guitarras – e decidiu que nove deles estavam prontos para ser mostrados ao mundo. O resultado é o álbum Dream Box, que será lançado em junho.
Cynara e Cybele – “Sabiá”– A baiana Cinara de Sá Leite Faria tornou-se conhecida como Cynara ao formar com a irmãs Cybele, Cylene e Cyva, em 1964, o Quarteto em Cy, um dos grupos vocais mais famosos da MPB. Ao lado de Cybele, ela cantou corajosamente para um Maracanãzinho furioso de raiva “Sabiá", parceria de Tom Jobim e Chico Buarque que vencia ali o Festival Internacional da Canção de 1968, contrariando a preferência do público por “Para Não Dizer Que Não Falei Das Flores”, hino engajado de Geraldo Vandré. Cynara morreu esta semana, aos 78 anos, após uma pneumonia.