Estamos chegando ao futuro mostrado em 1984?
Quarenta anos após seu lançamento, estão mais em pauta que nunca as questões levantadas em 'O Exterminador do Futuro' quanto aos perigos do uso da Inteligência Artificial
Em 1982, James Cameron estava na pior.
Demitido do filme B que dirigia em Roma – Piranha 2-Assassinas Voadoras – , se enfurnou numa pensione furreca e mergulhou em sono profundo, daqueles de fuga total.
Sua oportunidade de promoção ao posto tão desejado – após anos se afirmando como diretor de arte e craque de efeitos especiais dentro do time do produtor Roger Corman, o cobra do cinema independente pop e barato americano – tinha dado para trás. Agora, era voltar para Los Angeles e recomeçar tudo de novo. Aos 28 anos. Do zero.
Só que naquela noite Cameron sonhou. E o sonho mudou o rumo de sua vida, de sua carreira – e de Hollywood. No sonho, um esqueleto de metal vinha do futuro e agia como um matador de humanos. James decidiu batizar a criatura de O Exterminador do Futuro.
Cameron acordou, entendeu o toque, e pôs mãos à obra. O resto – literalmente – é história.
Há exatos 40 anos, em outubro de 1984, o mundo conhecia o robô do sonho romano, conforme burilado por Cameron para as telas de cinema: um cyborg que viajava para o passado para eliminar a mulher que viria a dar à luz o líder da rebelião humana contra os robôs – que no futuro detinham o domínio do planeta.
Produzido com um orçamento modesto, pouco superior a seis milhões de dólares, O Exterminador do Futuro lançou de maneira espetacular a carreira de James, com uma renda mundial de 78 milhões de dólares (tornando-se um dos lançamentos mais rentáveis da história do cinema), catapultou a de Arnold Schwarzenegger como ator de filmes de ação, e apresentou ao mundo Linda Hamilton, para sempre ligada a seu papel (o de alvo do Exterminador).
A reboque, deu origem a uma franquia que continuou com T2, sucesso retumbante de 1991 (papou 520 milhões de dólares nas bilheterias), mas foi perdendo gás e sentido, mesmo quando o próprio Cameron se envolveu de novo com o tema e reuniu Hamilton e Schwarzenegger para produzir O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, de 2019.
Em meio a efeitos especiais, porrada, muita ação, tirombaços e tiradas que virariam bordões eternos – “I’ll be back!”–, O Exterminador do Futuro levantava questões que hoje repercutem de maneira forte, quando se espalham cada vez mais o desenvolvimento e o uso de ferramentas de Inteligência Artificial. No filme, a Skynet, sistema de IA super-inteligente, inicialmente usado para cuidar da segurança dos Estados Unidos, torna-se tão auto-suficiente que, temerosos de um motim, seus donos tentam desligá-lo. Em represália, o sistema bombardeia o planeta com armas nucleares e passa a comandar um exército de robôs imbatíveis para tomar o poder dos humanos sobreviventes – e exterminá-los.
Nas palavras de Kyle Reese, o humano que lidera no filme a rebelião anti-máquina, vivido na tela por Michael Biehnn, Skynet é algo “novo. Poderoso. Conectado a tudo. Encarregado de comandar tudo. Dizem que ficou inteligente, uma nova ordem de inteligência. Então, viu todas as pessoas como uma ameaça, não apenas as do outro lado. Decidiu nosso destino em um microssegundo... extermínio”.
“É quase, de uma forma engraçada, mais pertinente agora do que era quando foi lançado”, disse Cameron ao site The Ringer, referindo-se a seu filme de 1984, “porque a IA agora é uma coisa real, com a qual temos que lidar, e antes era uma fantasia”.
Numa dessas trapaças do destino, apesar dos riscos oferecidos pela IA que o filme apresenta, ou por causa deles, há pouco James Cameron passou a integrar o conselho da Stability of AI, empresa dedicada a transformar audiovisual através do uso de Inteligência Artificial. Ele justificou à BBC sua decisão. “Passei minha carreira buscando tecnologias emergentes que ultrapassassem os limites do que é possível, tudo a serviço de contar histórias incríveis”, disse. “Eu estava na vanguarda do CGI (imagens geradas por computador) há mais de três décadas e permaneci na vanguarda, desde então. Agora, a intersecção da IA generativa com a criação de imagens CGI é a próxima onda”.
E, mesmo diante dos últimos resultados, não se desconte o surgimento de mais filmes nascidos a partir do Exterminador original. O próprio Cameron já abriu as portas para essa possibilidade numa entrevista para a Empire, revista inglesa de cinema. Mesmo que nas produções futuras não venham mais a aparecer os personagens de Arnold e Linda.
"Certas coisas são da essência do Exterminador do Futuro”, ponderou James à publicação. “Você tem personagens principais impotentes, essencialmente, lutando por suas vidas, que não recebem apoio das estruturas de poder existentes, e têm que contorná-las, mas, ainda assim, de alguma forma, manter uma bússola moral. E aí você joga a IA na mistura. São princípios sólidos para contar histórias hoje, certo?”.
“Então, não tenho dúvidas de que os filmes subsequentes do Exterminador do Futuro não só serão possíveis, mas vão arrasar”, ele continuou. “Mas este é o momento em que você descarta toda a iconografia específica. Se isso for um spoiler, ou revelação, ou o que for, tudo bem. Este é o momento em que você descarta tudo o que é específico dos últimos 40 anos do Exterminador do Futuro, mas você vive por aqueles princípios. É mais que um plano. É isso que estamos fazendo. É tudo o que direi agora”.
Os cliques do baixista do Radiohead ganham livro. Cansados de esperar a estreia da nova temporada de sua série favorita? A estratégia de marketing para badalar a despedida de Stranger Things. As Alucinações Autobiográficas de Jocy de Oliveira. E está aberto o Townshend Studio.
– Baixista do Radiohead, Colin Greenwood passou as duas últimas décadas fotografando seus companheiros de banda – no estúdio, no palco, utilizando transporte público ou remando num lago – geralmente, em situações ou lugares inacessíveis a “estranhos” do “mundo exterior”. Os registros fazem parte agora do livro How To Disappear: A Portrait of Radiohead, junto com um longo ensaio, assinado por Colin, contando a história do grupo.
– Cansados de esperar a estreia da nova temporada da sua série favorita? Vocês não estão sozinhos! Por que demora até dois anos entre o final de uma temporada e o início da outra? Um dos vilões é a dependência de emissoras e plataformas de streaming em métricas para conseguirem avaliar o sucesso ou o fracasso do que já foi exibido. Sem esses números ninguém quer tomar decisão alguma. É uma situação “absolutamente insustentável”, ralhou Katherine Pope, da Sony Pictures Television, responsável por hits como The Last of Us, numa entrevista dada durante o Mercato Internazionale Audiovisivo, em Roma. “É frustrante e injusto com os fãs”, disse. E não importa que a temporada tenha demonstrado ser sucesso logo de largada. Ela dá como exemplo extremo disso os três anos de espera por novas temporadas de Ruptura e Euphoria, ambos de enorme audiência. E o que dizer da necessidade imperativa de precisar prestar muita atenção nas aberturas de temporada feitas para recapitular? Quem lembra do que aconteceu 24 meses atrás?
– Por falar em novas temporadas, vem aí a quinta e última leva de episódios de Stranger Things, e para pré-badalar a despedida do programa iniciado em 2016 a Netflix preparou uma série de ativações, “experiências” e até joalheria e uma linha de histórias em quadrinhos. A começar por um módulo de aulas de spinning para a marca Peloton contendo 20 minutos de visuais e música da séries. A Darkhorse Comics lançará a nova coleção de HQ Stranger Things and Dungeons & Dragons: The Rise of Hellfire. E o cinema Egyptian, em Los Angeles, exibirá filmes selecionados conforme a curadoria dos irmãos Duffer, criadores da série, mostrando algumas de suas influências ao criar Stranger Things, como O Iluminado, Os Caça-Fantasmas, e Poltergeist-O Fenômeno.
– Pioneira da música eletroacústica, compositora de óperas feministas, cineasta, dramaturga e escritora, a curitibana Jocy de Oliveira, de 88 anos, resolveu repassar sua trajetória em livro. Seu recém-lançado Alucinações autobiográficas (título melhor, impossível) reflete sobre o convívio com personagens ilustres, mas também familiares e amigos, alguns até inventados, a bem da narrativa. O livro traz, ainda, fotos de família e códigos QR para o leitor navegar conteúdo audiovisual extra-páginas.
– Foi inaugurado na campus Ealing da Escola de Música da University of West London (UWL) The Townshend Studio, uma instalação criativa e de ensino com os sintetizadores e os instrumentos usados por um antigo aluno – ninguém menos que Pete Townshend – em discos clássicos do The Who e de sua carreira solo. O intuito do guitarrista, compositor e produtor é deixar um legado para as novas gerações e criar um elemento catalizador da criatividade. Estão ali 12 sintetizadores – incluindo o ARP Modelo 2500, de 1970, usado no álbum Quadrophenia, e um dos únicos 10 exemplares fabricados do Yamaha GX-1, do mesmo ano, vendido na época por mais de 60 mil dólares. "Minha esperança é que o estúdio seja um espaço criativo para aprendizado, colaboração, experimentação e brincadeira, inspirado pelo legado artístico e criativo de Ealing, uma área fundamental para o desenvolvimento da música britânica nos anos 1960”, disse Townshend. Além de Pete, também estudou em Ealing outro artista importante do rock: Freddie Mercury.
PLAYLIST FAROL 101
A música singular da dupla Tarta Relena. A poesia em música de Antonio Cicero. Father John Misty se aproxima do glam rock. Paul Weller desencava uma novidade. A mescla de funk, jazz, soul e rock do veterano Cymande. A estreia solo de Dora Morelenbaum. O pop eletrônico de Kelly Lee Owens. Uma inédita de Bryan Ferry. E outra do Tears for Fears. A despedida à voz original do Iron Maiden.
Tarta Relena– “Si veriash a la rana”– As barcelonenses Helena Ros e Marta Torrella formam uma dupla das mais singulares, que criou um espaço todo seu, harmonizando hinos litúrgicos, música medieval e batidas eletrônicas, cantando em línguas diferentes, do espanhol ao catalão, passando pelo grego e o latim.
Marina – “Fullgás”– Filósofo, poeta, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras, Antonio Cicero também criou canções marcantes junto com uma variedade de parceiros – de Adriana Calcanhoto e Frejat a João Bosco e Lulu Santos. Mas foi com a irmã Marina Lima que ele construiu uma das melhores e mais frutíferas colaborações da música brasileira, representada aqui por um dos maiores hits da cantora, no qual ele, poeta atilado, brinca com o termo-título, juntando energia total e efemeridade. Antonio morreu esta semana, aos 79 anos.
Father John Misty – “She Cleans Up”– Uma amostra do sexto álbum do cantor-compositor americano, Mahashmashana, agendado para sair mês que vem, esta faixa traz Joshua Tillman em modo quase glam-rock, não muito distante da primeira fase solo de John Lennon, de sonoridade áspera, agressivo.
Paul Weller – “Change What You Can”– Não satisfeito em ter lançado um álbum, 66, lá no início do ano, o Modfather decidiu desencavar mais quatro faixas para compor um EP adicional.
Cymande – “Chasing An Empty Dream” – E aqui está um grupo nascido mais de 50 anos atrás, no Reino Unido, que mesclava funk, jazz, soul e rock, com uma sonoridade aparentada com a dos Neville Brothers. Agora, mostra um pouco seu novo álbum, Renascence, com lançamento previsto para o início de 2025.
Dora Morelenbaum – “Caco” – Produzido por Ana Frango Elétrico, PIQUE, o primeiro álbum solo da artista carioca, egressa do grupo Bala Desejo, traz uma bossa contemporânea, século 21, conjugada com ecos da bossa original e do samba-jazz.
Kelly Lee Owens – “Love You Got”– Com uma instrumentação e um arranjo que saúdam a sonoridade do Kraftwerk, a artista galesa burilou uma faixa ao mesmo tempo hipnótica e dançante.
Bryan Ferry – “Star” – O decano dos românticos do rock inglês celebra 78 anos de vida e meio século de carreira – como parte do revolucionário Roxy Music ou solo – com uma generosa compilação (os cinco discos de Retrospective: Selected Recordings 1973-2023), na qual se destaca esta nova gravação, feita em parceria com Trent Reznoir, Atticus Ross e a cantora/pintora Amelia Barratt.
Tears for Fears – “The Girl That I Call Home”– Em 2022, a dupla britânica lançou seu primeiro disco de inéditas em 17 anos, The Tipping Point. Foi o ponto de inflexão para retomar com vontade a carreira e voltar a fazer shows. Agora, saem o filme contendo trechos da turnê daquele disco, mais um álbum gravado ao vivo em Nashville, Songs for a Nervous Planet, com quatro faixas inéditas, estas de estúdio. Dentre elas, uma canção dedicada por Roland Orzabal a sua nova esposa, Emily.
Iron Maiden – “Wrathchild” – Antes de Bruce Dickinson assumir os vocais do Iron Maiden, o posto era ocupado pelo londrino Paul Di’Anno. Com ele, o grupo gravou seus dois primeiros álbuns e lançou algumas de suas faixas mais memoráveis, como a música que dava nome ao grupo e esta. Por conta de seu comportamento – cheirando, segundo ele, 24 horas por dia, sete dias por semana –, Paul “foi saído” do IM antes do álbum que consagrou o grupo – The Number of the Beast – para partir numa carreira solo ou como integrante de outras bandas, como Rockfellas e Gogmagog. Problemas de saúde o levaram a se apresentar sentado numa cadeira de rodas nos últimos anos. E na semana passada Paul morreu, aos 66 anos.