É hora de frear a Inteligência Artificial? Mas será possível?
Figurões da tecnologia e pensadores pedem pausa na “corrida descontrolada” no desenvolvimento de IA. Mas alguns dos mesmos personagens cortam times de responsabilidade ética relativa à ferramenta
"Precisamos aprender a dominar a inteligência artificial antes que ela nos domine".
Esse é o alerta urgente, emitido pelo historiador Yuval Noah Harari e por Tristan Harris e Aza Raskin, cofundadores do Centro Para Tecnologia Humana, no artigo que escreveram para o The New York Times na semana passada. Para eles, a IA – cada vez mais difundida e cada vez mais poderosa – é capaz de “hackear as fundações de nossa civilização”.
Perguntam: “como será vivenciar a realidade através de um prisma produzido por uma inteligência não humana?”.
"A IA poderia rapidamente consumir toda a cultura humana – tudo que produzimos no decorrer de milhares de anos – , digerir e começar a esguichar uma enxurrada de novos artefatos culturais”, ponderam Noah, Tristan e Aza. "Não apenas ensaios escolares, mas também discursos políticos, manifestos ideológicos, livros sagrados para novos cultos. Quando chegarmos a 2028, a corrida presidencial (nos Estados Unidos) pode não ser mais administrada por humanos”.
O artigo é uma das manifestações recentes de figurões do mundo da tecnologia, cientistas, pensadores e até o incontornável Elon Musk para se por um freio na “corrida descontrolada” no desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial.
Ao mesmo tempo, centenas destes entendedores (e empreendedores) do assunto assinaram uma carta aberta pedindo que sejam interrompidos até mesmo testes de tecnologias de IA superiores ao GPT-4 criado pela OpenAI.
A lista de signatários vem aumentando, por estar aberta ao público, em geral, e inclui desde professores universitários a representantes do Google e da Microsoft à cofundadora do Skype; do renomado pesquisador Yoshua Bengio a Steve Wozniak, um dos pais da Apple. A carta, escrita pelo Future of Life Institute, entidade dedicada a monitorar os riscos que novas tecnologias podem trazer à humanidade, pede uma pausa “verificável e pública” de seis meses a todos que atualmente estão trabalhando em modelos avançados de IA e sugere até intervenção governamental para garantir essa parada.
Ao mesmo tempo, o Center for AI and Digital Policy, grupo dedicado à preservação da ética no uso da inteligência artificial, declarou que o GPT-4 é um “risco à segurança pública” e pediu ao governo americano para investigar o fabricante da ferramenta, a OpenAI, por estar pondo em risco os consumidores.
Mas isso é factível? Intervenção de governos, mundo afora? Os desenvolvedores estão dispostos a fazer essa pausa?
Num movimento oposto e contraditório, diversas companhias de tecnologia estão reduzindo ou mesmo eliminando suas equipes dedicadas à supervisão dos aspectos éticos no uso responsável de IA de suas plataformas. Segundo o The Washington Post, o Twitch, serviço de streaming da Amazon, mandou embora todos os funcionários de sua equipe dedicada à questão. E a Microsoft e o Twitter – signatários da carta aberta – reduziram seus times de responsabilidade perante a IA.
"É como se todos estivessem participando de uma corrida”, disse Timnit Gebru, cientista da computação que liderava o time de ética em IA do Google, antes de ser demitida, em dezembro de 2020. "E tudo que eles querem é vencer essa corrida. Quem não estiver contribuindo para isso é inútil”.
A ética no uso de IA “é vista como uma fonte de gastos e não de renda”, afirma Rumman Chowdhury, ex-chefe do time de ética, transparência e responsabilidade no desenvolvimento de machine learning (o aprendizado de máquinas) do Twitter – demitida por Elon Musk em novembro passado. “Creio que as companhias mais inteligentes sabem o quanto (esse comportamento) vai custar no longo prazo. Mas muitas delas só pensam em termos de curto prazo”.
O Skank diz adeus. Sydney Sweeney, mecânica de carros? Cameron Crowe prepara cinebio de Joni Mitchell. Questlove revigora ‘Aristogatas'. E a Disney corta relações com o Metaverso.
E mais …
– Após mais 30 anos de carreira, o Skank se despediu de seus fãs em grande estilo, com um espetáculo para 50 mil pessoas no Mineirão, em Belo Horizonte, no domingo passado (26/3). Os principais sucessos do grupo figuraram no repertório do show emocionante e emocionado – como "Garota Nacional", "Pacato Cidadão" e "Dois Rios" – e Milton Nascimento abriu mão de sua própria aposentadoria para acompanhar o quarteto em “Resposta”. A partir de agora, os integrantes do Skank alçam voos solo – como já vêm fazendo o vocalista e guitarrista Samuel Rosa e o tecladista Henrique Portugal – e formam outras bandas – caso do baixista Lelo Zaneti, integrante agora do Trilho Elétrico. Entretanto, fica deixada aberta a porta para que o Skank, “em determinado momento, de forma pontual, retome alguma coisa”, disse Samuel.
– Você pode conhecê-la pelas participações marcantes que fez em séries como O Conto da Aia, Euphoria e White Lotus. Mas sabia que a grande paixão da jovem estrela Sydney Sweeney são os carros? Nascida numa família de mecânicos, Sydney já vinha compartilhando com o público seu talento para reconstruir automóveis, encarregando-se, ela mesma, de restaurar um Ford Bronco 1969 – vermelho – e detalhando o trabalho com postagens em seu canal no TikTok, apropriadamente batizado @syds_garage. O que não passou desapercebido pela fábrica Ford, nos Estados Unidos, que logo contratou a atriz para fazer parte da Built Ford Proud, ação de marketing criada em conjunto com a Dickies, fabricante de uniformes e macacões, para conquistar novas gerações de consumidores. Duvida dos talentos extra-telas de Sydney? Pois, então, dê uma olhada neste vídeo.
– Cameron Crowe vai dirigir uma cinebio de Joni Mitchell. Pelo que relatou o site Above The Line, ainda não se sabe se o novo projeto do veterano jornalista dos anos áureos da Rolling Stone e diretor do longa Quase Famosos (cujo roteiro rendeu-lhe um Oscar) será um documentário ou um filme autobiográfico, com diferentes atrizes representando a legendária cantora-compositora canadense de 79 anos em diversas fases de sua vida e carreira. O fato é que os dois, amigos e colaboradores desde que Cameron entrevistou Joni para a RS, em 1979, estão desenvolvendo juntos esse projeto faz dois anos.
– Enquanto isso, Ahmir "Questlove" Thompson, baterista do The Roots – que hoje é a “banda da casa” do programa The Tonight Show – e vencedor do Oscar de Melhor Documentário pelo excelente Summer of Soul, sobre o Festival Cultural do Harlem de 1969, dirigirá para a Disney uma refeitura do longa de animação 'Aristogatas', de 1970. Ele também se encarregará da trilha musical do filme, que misturará animação computadorizada com cenas filmadas com humanos de verdade.
– Adeus ao Metaverso! Mas já? Pelo menos, é como pensa a Disney, ao despedir toda a equipe – 50 pessoas – que vinha desenvolvendo as estratégias da companhia para tudo ligado ao Metaverso, o espaço virtual tão em voga, atualmente. Isso acontece após o ex-CEO, Bob Chapek, ter sido substituído pelo mesmo Bob Iger que dirigira o império Disney entre 2005 e 2020. Não é uma ação isolada – para economizar 5.5 bilhões de dólares, Iger planeja demitir sete mil funcionários, como anunciou ao reassumir o posto, em novembro passado. Mas a medida, ainda que radical, demonstra uma atitude mais comedida do mundo do entretenimento em relação ao assunto. Até a Meta de Zuckerberg já estaria desviando seu foco principal para as questões ligadas aos rápidos (e assustadores, para muitos) avanços em termos de Inteligência Artificial.
PLAYLIST FAROL 30
O novo single de Pete Townshend. O funk cósmico de Meshel Ndgeocello. Lou Reed convida para o tai chi. Durand Jones faz soul music e R&B de sonoridade vintage. Os Fruit Bats acordam em Los Angeles. Um misto de Hawkwind com Charlie Daniels Band. A bossa nova contemporânea de Gabriel da Rosa. O synth-pop cintilante de Japanese House. O hino de negritude de V V Brown. E o metal pesado de Liturgy.
Pete Townshend – “Can't Outrun Te Truth”– O primeiro single solo em quase três décadas do cérebro criativo do The Who é uma balada country, com pinta de Velho Oeste, nascida no lockdown, que remete imediatamente à sonoridade acústica de parte de sua brilhante colaboração com Ronnie Lane, Rough Mix. A música fala de saúde mental e dos efeitos do isolamento imposto pela pandemia, especialmente sobre a indústria de shows, que alimenta trabalhos beneficentes como o do Teenage Cancer Fund, entidade para o qual reverterá a renda gerada por essa música.
Meshel Ndgeocello – “Virgo”– Riffs de baixo batucados no teclado, um clima de busca espacial e a harpa etérea de Brandree Younger fazem da faixa do novo álbum de Meshel – The Omnichord Real Book – um funk verdadeiramente cósmico.
Lou Reed – “Open Invitation” – Sobra das gravações do álbum New Sensations, lançado em 1984, este single novo sai só agora, quase 10 anos depois da morte de Lou, e seu foco é no tai chi, a arte marcial chinesa que era uma das paixões de Reed em seus últimos anos de vida.
Durand Jones – “Lord Have Mercy” – Soul music e R&B de sonoridade vintage, com traços de gospel e rock, é o que faz em seu primeiro álbum solo, Wait Til I Get Over, o vocalista dos Indicators. Nos sentimos numa espécie de cápsula sonora do tempo, onde os anos 1960 e o presente – e tudo no meio – se encontram.
Fruit Bats – “Waking Up In Los Angeles” – O projeto de Eric D. Johnson – um dos integrantes de outro grupo de neo folk de quem sempre falamos aqui, o excelente Bonny Light Horseman – gravou um single sobre a busca por lares espirituais que, na verdade, tem um alvo geográfico real.
William Tyler & The Impossible Truth – “Area Code 601” – “Vamos terminar com uma música que é um misto de Hawkwind com Charlie Daniels Band”, anuncia à platéia William – guitarrista de Nashville e colaborador de artistas como Silver Jews e Lambchop – antes dele e sua banda mergulharem de cabeça num tema instrumental longo e que, como prometido, combina o rock sulista clássico e o som viajandão de dois grupos-marco dos anos 1970. E só para sublinhar a raiz southern, o nome da música é emprestado do código DDD usado para a parte sul do estado do Mississippi. O resultado é um fascinante country rock progressivo.
Gabriel da Rosa – “Jasmim Parte 1” – Gaúcho mas hoje baseado em Los Angeles, Gabriel traz dos anos 1960 e 1970 a inspiração para a bossa nova contemporânea de seu single de estreia.
The Japanese House – “Boyhood” – O projeto da britânica Amber Bain faz um synth-pop atraente e cintilante, onde entram até violões, para falar de amor e esperança.
V V Brown – “Black British” – Sly Stone, Prince, Funkadelic, James Baldwin, Erykah Badu, Soul to Soul e Martin Luther King Jr pairam como santos padroeiros deste hino de negritude da ativista e cantora-compositora britânica, que retoma a carreira após cinco anos fora de ação.
Liturgy – “Before I Know The Truth”– O metal pesado do quarteto de Haela Ravenna Hunt-Hendrix não é para todos. Oscila entre momentos de sublime delicadeza e lirismo, disciplina Frippiana e esporreiras catárticas, sublinhadas por vagidos lancinantes. Abra os ouvidos e deixe-se envolver por este universo sônico tão único.