David Hockney, em todo o esplendor e colorido de seu mais recente quarto de século
Fundação Louis Vuitton monta em Paris a maior retrospectiva já feita do artista britânico, mostrando suas facetas de pintor, fotógrafo, desenhista e cenógrafo
Desde terça-feira, 8 de abril, os 11 salões da Fundação Louis Vuitton, um prédio desenhado por Frank Gehry em Paris, estão recheados com mais de 400 obras daquela que é a maior mostra já dedicada ao trabalho do artista britânico David Hockney, um dos principais nomes da arte moderna, pop.
Intitulada David Hockney 25, a exposição concentra o foco no que foi criado no último quarto de século, conforme a curadoria de Norman Rosenthal, historiador de arte inglês que conhece Hockney desde 1971. O que significa que os visitantes verão paisagens e retratos que marcaram a carreira de David, mas também peças bem mais recentes, feitas não com pincel e tintas, mas com um iPad.
Tudo representativo das inúmeras facetas de Hockney: pintor, fotógrafo, desenhista, cenógrafo.
Os “maiores sucessos” das sete décadas de carreira de David estão lá, claro, logo nos dois primeiros salões da fundação – dentre eles, “Portrait of An Artist (Pool with Two Figures)”, de 1972, e o imenso painel “A Bigger Grand Canyon", de 1998. Os trabalhos mais atuais são de 2024 (“After Blake: Less Is Known Than People Think”) e fecham o percurso da exposição junto com um autorretrato novo, “Play Within a Play”, no qual vê-se o artista contemplando sua própria arte.
Hockney – hoje com 87 anos e necessitado de cuidados médicos 24 horas por dia (o que não o impede de continuar fumando) – envolveu-se com todos os detalhes da mostra, selecionando desde a tonalidade exata das paredes de cada salão da fundação (amarelo, azul e verde, sempre vibrantes) à distribuição pelo prédio de seus trabalhos, e participando da edição do jornal que será distribuído aos visitantes.

Para Rosenthal, seria possível expôr o dobro de obras – caso houvesse espaço suficiente. O trabalho de Hockney “não tem fundo”, explicou Norman ao The New York Times.
“Comparo o trabalho dele ao de Picasso”, disse David à agência Reuters. “Não porque são a mesma coisa, mas porque a escala de seu trabalho, de sua imaginação e de toda sua realização, em si, não são diferentes”.
Em seu garimpo para a mostra, Norman desencavou até trabalhos inéditos de David – guardados pelo próprio Hockney – e outros muito pouco vistos, como a pintura “Renaissance Head”, de 1960, que está na Fundação Gulbekian, em Lisboa.
Mesmo com a saúde debilitada, Hockney continua trabalhando de quatro a seis horas por dia, com a ajuda de assistentes. E compareceu, em pessoa, à abertura da exposição. Acompanhado de seu médico e de seu cachorro, o bassê Tess.
“Achei que não conseguiria estar aqui”, disse rindo em uma entrevista à BBC, admitindo seu eterno e ininterrupto amor por cigarros. “Sou um fumante feliz”, ele admite.
“Ele ama a vida. Ele ama a arte, ele ama pintar”, afirmou Rosenthal ao The Guardian.
Bono na Croisette. Mauricio de Sousa contra a Inteligência Artificial. Que tal ter sua própria Netflix? Ralph Fiennes dirige uma ópera. O novo projeto de Walter Salles. As primeiras imagens – e os primeiros sons musicais (do Nine Inch Nails) – do novo filme da série 'Tron'.
– A partir de 30 de maio a Apple TV + começa a exibir Stories of Surrender, versão em forma de documentário do espetáculo solo que Bono apresentou, "Stories of Surrender: An Evening of Words, Music and Some Mischief" , durante uma temporada no Beacon Theatre, em Nova York, em 2023 – que, por sua vez, era uma extensão do livro lançado pelo cantor do U2 – , agora acrescido de entrevistas com familiares e amigos para um mergulho biográfico na vida e na carreira do artista. Dirigido por Andrew Dominik (o mesmo realizador de dois documentários sobre Nick Cave), o novo filme se propõe a revelar o lado pessoal da jornada de Bono "como filho, pai, marido, ativista e astro de rock". Mas dias antes o doc será exibido no Festival de Cannes, na França. Thierry Frémaux, diretor do festival, descreve o trabalho como um "filme-ensaio, um filme-concerto, um filme-teatro, um filme-performance, um filme-poesia".
– Primeiro foi a enxurrada de fotos manipuladas por ferramentas de Inteligência Artificial para virarem desenhos ao estilo do japonês Studio Ghibli, que produziu a obra do diretor Hayao Miyazaki, clássicos de animação como A Viagem de Chihiro. Agora, começam a surgir fotos trabalhadas por IA para reproduzirem o traço de Maurício de Sousa, o criador da Turma da Mônica. Não demorou até o estúdio Maurício de Sousa Produções (MSP) por a boca no trombone. "A MSP reforça que o uso de qualquer elemento relacionado aos personagens está protegido por leis de direito autoral e propriedade intelectual. Não autorizamos a criação de conteúdos que violem esses direitos, nem admitimos associações com discursos de ódio, desinformação ou práticas que contrariem os valores da empresa. Há mais de 60 anos, defendemos a ética e o compromisso com a cultura e agiremos sempre que esses princípios forem desrespeitados", afirmou a empresa, por meio de nota. Miyazaki já havia se manifestado contra a IA, chamando a animação criada assim “um insulto à própria vida”.
– Que tal ser dono ou dona de sua própria plataforma de streaming? Ter um Netflix para chamar de seu? É o que a Vimeo – o maior competidor do YouTube – está oferecendo a seus usuários. E não precisa estar por dentro de altas tecnologias e saber códigos de programação. O novo serviço, “Vimeo Streaming”, permite que se crie um canal próprio de streaming – com seu próprio aplicativo – que você mesmo programa e com o qual passa a faturar. A iniciativa oferece a possibilidade de se estabelecer faixas de assinatura, organizar eventos ao vivo e vender merchandising. Ainda por cima, a Vimeo cria para você chamadas para promover vídeos ou campanhas específicas. Ah, e ferramentas de Inteligência Artificial permitem que cada um de seus vídeos possa ser disponibilizado em diferentes línguas.
– Visto recentemente liderando o elenco do premiado Conclave, o ator Ralph Fiennes vai dirigir sua primeira ópera. Sua montagem de Eugene Onegin, baseada no livro de Alexander Pushkin e com música de Tchaikovsky, estreará no Palais Garnier, em Paris, em janeiro do ano que vem. A ligação de Fiennes com a obra vem de longa data: em 1999, ele protagonizou o filme Onegin, dirigido por sua irmã, Martha.
– Já se sabe qual novo filme fará Walter Salles, cujo Ainda Estou Aqui coletou um punhado de prêmios mundo afora, inclusive o Oscar de Melhor Filme Internacional. Será uma série documental de cinco partes sobre Sócrates, o jogador de futebol e ativista brasileiro. “É sobre migração interna no Brasil desde o começo. Assim, torna-se um projeto sobre futebol, e como (Sócrates) logo percebeu que o futebol era um veículo extraordinário para transformação política”, explicou o cineasta numa workshop do Instituto de Cinema de Doha, no Catar.
– Caiu nas redes o primeiro trailer do terceiro filme da série iniciada em 1982 por Tron, o longa de ficção-científica que revolucionou o gênero em 1982 quando combinou atores e cenários verdadeiros com computação gráfica de ponta. O novo Tron: Ares traz nos papéis principais Jared Leto e Greta Lee, mais o astro do filme original, Jeff Bridges, dentro de uma história onde um programa digital sofisticado e poderoso invade o mundo real numa missão perigosa, na qual os humanos se veem, pela primeira vez, frente a frente com seres criados por Inteligência Artificial. A trilha musical é da dupla Trent Reznor e Atticus Ross, que pela primeira vez assina esse tipo de trabalho com o nome de seu conhecido grupo, Nine Inch Nails.
PLAYLIST FAROL 115
O adeus a Clem Burke. A volta do Pulp. Bruce Springsteen abre o baú. O Hives em ótima forma. A nova de Wet Leg. O Arcade Fire se reestrutura. A estreia de Lexi Jones (filha de Bowie). A tapeçaria sonora de Lucy Dacus. Envy of None dá vida nova a Alex Lifeson. E a densa "parede de som” de The Underground Youth
Blondie – “Dreaming”– A introdução tonitruante da faixa de abertura do quarto álbum do Blondie, Eat To The Beat, de 1979, dá uma dimensão da enormidade do talento e da força do baterista Clem Burke – e de sua importância para a sonoridade do grupo. Junto com a vocalista e frontwoman Debbie Harry e o guitarrista e cabeça Chris Stein, Clem foi o único integrante da banda original a tocar em todos os 11 álbuns do grupo e deixou sua marca em inúmeros sucessos, dentre eles “The Tide Is High” e “Heart of Glass”. Depois, participou de uma das mais matadoras formações do Eurythmics e integrou supergrupos – como o International Swingers. Clem morreu esta semana, aos 70 anos.
Pulp – “Spike Island”– Demorou “apenas” 24 anos, mas sai na primeira semana de junho o novo álbum de um dos grupos definidores do Britpop, habilmente chamado More. O anúncio do disco, feito ontem, aconteceu de surpresa, junto com a revelação deste primeiro single.
Bruce Springsteen – “Rain in the River”– Primeira amostra do mega-caixotão que Bruce lança em junho, Tracks II: The Lost Albums, com nada menos que sete álbuns de material inédito. Ao todo, serão 83 faixas registradas ao longo de quatro décadas, tudo repertório de álbuns que já estavam, em boa parte, mixados e prontos para sair, mas que permaneceram inéditos – até agora.
Hives – “Enough is Enough” – Faixa do álbum Play It Again Sam – agendado para julho – , que mostra o quinteto sueco em ótima forma, disparando riffs, bom humor e refrão às catadupas.
Wet Leg –“catch these fists”– O disco de estreia da dupla foi um dos Melhores de 2022, conforme nosso ranking de fim de ano. Agora, a dupla inglesa de indie pop retoma o fio da prosa com o álbum Moisturizer, que sai em julho.
Arcade Fire – “Year of the Snake”– Quem também está com disco novo para sair é o grupo canadense liderado por Win Butler (que, embora acusado de assédio sexual recentemente, ganhou o apoio de seus companheiros de banda, inclusive de sua esposa, Régine Chassagne). O novo Pink Elephant – o primeiro que o AF lança em três anos – tem lançamento marcado para maio. O primeiro gostinho chega por meio de uma faixa de longo cozimento, dentro de um tema de transformação e reestruturação: com a multiinstrumentista Chassange cantando e tocando o baixo (algo que habitualmente não faz), enquanto Win (normalmente focado no violão e na guitarra) se ocupa da bateria.
Lexi Jones – “Along the road”– O pai dela chama-se David Bowie. Começou a prestar atenção? Pois bem. Xandri, o primeiro álbum de indie rock com tonalidades folk da cantora/compositora – cujo nome completo é Alexandria Zahra Jones – , saiu na semana passada, meio que na encolha, com ecos, ainda que remotos, de Neko Case.
Lucy Dacus – “Forever Is A Feeling”– A cantora americana de folk pop indie incorpora elementos eletrônicos para criar uma convidativa tapeçaria sonora na faixa-título de seu quarto álbum.
Envy Of None – “Stygian Waves”– Para o guitarrista Alex Lifeson a vida pós-Rush passa por esse quarteto, e a companhia de músicos mais jovens, como a vocalista Maiah Wynne, ajuda a sublinhar o vigor deste segundo álbum do grupo.
The Underground Youth – “You (The Feral Human Thunderstorm)”– Em seu décimo-segundo álbum, o grupo britânico (mas sediado em Berlim) pratica o que seu fundador, Craig Dyer, descreve como “um wall of sound composto de baterias de hip-hop, arranjos no estilo de Lee Hazelwood e melodias no Mellotron inspiradas por Serge Gainsbourg”. Tá bom, então.