As memórias rock 'n' roll do Príncipe Stash conquistam milhões de fãs no TikTok
Aristocrata e bon vivant, Stash conviveu com Beatles, Stones, Pink Floyd e Hendrix no auge da Swinging London – e agora conta tudo em postagens repletas de detalhes saborosos
Um senhor de 81 anos tornou-se uma das novas sensações do TikTok.
Ele convida todo mundo a “visitá-lo” em sua biblioteca, onde relata para a câmera histórias de seu passado e mostra alguns dos objetos que colecionou ao longo do tempo. Tudo com a verve e o charme de um bom contador de “causos”.
Mas não se trata de um senhorzinho fofo qualquer relembrando os bons tempos e exibindo o que acumulou no decorrer da vida. Este é o príncipe Stanislas Stash Klossowski De Rola – ou Príncipe Stash, simplesmente –, aristocrata sangue-azul que conviveu com Beatles, Rolling Stones, Jimi Hendrix e Pink Floyd nos anos 1960 e 1970.
Alto, magro, barbudo, com os longos cabelos brancos enrolados em dreads grossos, a voz grave e curtida pelo tempo, vestindo caftans, túnicas e batas, os dedos cheios de anéis, Stash conquistou 135 mil seguidores e milhões de views no TikTok postando passagens de sua vida envolvendo a realeza do rock e as origens das peças e dos enfeites que estão espalhados em suas residências – um castelo de 1.300 anos na Itália, uma casa nas montanhas da Suíça e uma casa de praia em Malibu, na Califórnia.
O que faz maior sucesso, naturalmente, são suas aventuras no mundo do rock no auge da Swinging London, para o qual Stash entrou quando tornou-se percussionista na banda de Vince Taylor, o cantor inglês de enorme sucesso por suas roupas de couro (luvas, inclusive), seu topete gomalinado e seu rebolado que, no auge da popularidade, enlouqueceu – e acabou tornando-se a inspiração para David Bowie, quando criou o personagem Ziggy Stardust.
Stash conheceu os Beatles e os Stones por causa do convívio na estrada, como parte da banda de Vince. E essa proximidade o levou para dentro dos círculos mais íntimos dos dois grupos: ele estava no estúdio quando os Beatles gravaram "You Know My Name (Look Up The Number)”, foi preso junto com Brian Jones por posse de drogas e gravou um disco psicodélico com o fundador dos Stones que nunca foi lançado, teve casinhos com Marianne Faithfull e Anita Pallenberg (respectivamente, namorada de Mick Jagger e mulher de Keith Richards), morou durante um tempo na casa de Paul McCartney (por onde desfilava “um harem de meninas"), e passou o Rèveillon de 1967 para 1968 e tomou ácido com Syd Barret, com quem teria viajado “para outra dimensão”.
Quanto a Jimi Hendrix, "tão fino, bem educado e adorável”, Stash tem uma história bastante singular. Os dois estavam repartindo um táxi quando Stash admitiu não conseguir ter certeza da idade de Jimi, na época com apenas 25 anos. Stash disse ao guitarrista que ele parecia muito mais velho do que deveria ser. Jimi respondeu que as pessoas comentavam muito isso, quando o conheciam. "É porque eu dormi muito ao relento”, foi a explicação dada.
As postagens possuem uma qualidade notável e isso é resultado do trabalho de uma especialista em branding, a californiana Sandy Grigsby, que contratou uma equipe para iluminar, filmar, editar e postar os vídeos de Stash.
O objetivo dele é, através da visibilidade obtida com seu sucesso no TikTok, conseguir transformar em museu-residência seu castelo em Montecalvello, na Itália, onde os visitantes poderão conhecer seus livros e suas antiguidades, algumas em sua família há séculos.
“Há 40 anos venho escrevendo um livro com minhas histórias”, o príncipe disse ao jornal The Guardian, “mas sempre fui muito tímido”. A julgar pelas postagens que vem fazendo, a timidez está sendo curada.
A busca pelo contrabaixo perdido de Paul McCartney. O hip-hop fortalece a autoestima das crianças. Ator Seth Rogen fatura com a maconha. Documentário recupera a memória do Canecão. E a 35ª Bienal de São Paulo já começou.
– Ajude Paul McCartney a encontrar o contrabaixo perdido. O músico – que se apresenta no Brasil no final do ano – está buscando o baixo Höfner que adquiriu em 1961, em Hamburgo, na Alemanha, por 30 libras esterlinas (o equivalente, hoje, a quase 400 dólares), e com o qual gravou e tocou, junto com os Beatles, até 1969, quando o instrumento icônico, em forma de violino, sumiu sem deixar vestígio. Paul vem utilizando outras versões do mesmo contrabaixo, mas ninguém sabe onde ficou o original, depois das gravações do álbum Let It Be. O Lost Bass Project está sendo comandado por Nick Was, representante da Höfner, com o auxílio de dois jornalistas da BBC News, o casal Scott e Naomi Jones, ambos documentaristas. Há 12 anos Nick está em busca do instrumento, que hoje valeria 10 milhões de libras – ou cerca de 186 milhões de reais.
– O hip-hop fortalece a autoestima das crianças. Esta é a afirmação de“Big” Richard Santos, rapper, doutor em Ciências Sociais e professor na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), entrevistado pelo jornal Nexo. Ao falar de questões do dia a dia de crianças negras e periféricas com poesia, o gênero musical reforçaria o senso de pertencimento e o orgulho de expressarem quem são. “No hip-hop, crianças e adolescentes ganham recursos para lidar melhor com sua negritude, cabelo, estética e vestimentas. Ao reconhecer seu potencial, uma criança é capaz de desenvolver todos os seus aspectos lúdicos”, diz Santos. Para ele, o hip-hop faz parte da “pedagogia da autonomia” de Paulo Freire, ao trazer o sentimento de pertencer a uma comunidade, não apenas para integrar um grupo, mas “interferir de forma ativa e positiva para transformar os espaços em que vive e interferir nas relações do mundo – ainda que impere na sociedade a branquitude”.
– Você deve conhecer o ator americano Seth Rogen por conta das tantas comédias besteirol que ele estrelou. Mas talvez você não saiba que Seth também é um empresário da indústria de cannabis nos Estados Unidos. Ele não apenas lançou sua própria linha de maconha – Houseplant, oferecendo, inclusive, pacotes com baseados pré-enrolados – como vem fazendo sucesso também com acessórios de cerâmica que ele mesmo cria. Dentre eles, um cinzeiro fundo, com lugar para se pousar os cigarros, entre uma tragada e outra. Não é para qualquer bolso: o cinzeiro custa 95 dólares. Mas já é um enorme sucesso de vendas.
– A craque Clélia Bessa está produzindo um documentário sobre o Canecão, a cervejaria e casa de shows carioca inaugurada em 1967 e abandonada desde 2010, após uma série de quiprocós jurídicos com a UFRJ, dona do terreno. Para isso, ela e o diretor Bruno Levinson vêm colhendo depoimentos de alguns dos que passaram por aquele palco, que marcou a carreira de tantos artistas brasileiros. Tocaram lá Roberto Carlos, Elis Regina, Alcione, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e a linha de frente do rock brasileiro da década de 1980: Blitz, Barão Vermelho, Kid Abelha, Lobão e Biquini Cavadão. O Canecão também recebeu atrações internacionais de rock, de Alice Cooper a Echo and the Bunnymen e Ramones. A ideia é lançar o documentário ano que vem.
– O Pavilhão Ciccillo Matarazzo, projetado por Oscar Niemeyer, abriga até 10 de dezembro a 35ª Bienal de São Paulo, aberta ao público na quarta-feira passada. Mil e cem obras e instalações de 121 artistas – dos quais 40 são brasileiros – compõem a mostra, organizada em torno do tema “Coreografias do Impossível”. Parte do time de curadores, a artista e escritora portuguesa Grada Kilomba explica que "esta Bienal não é para afirmar tudo aquilo que sabemos, todo o saber que nos foi dado, ancorado numa história de violência, colonial e patriarcal. Queríamos criar liberdade para novas narrativas, essa foi nossa primeira coreografia do impossível”.
PLAYLIST FAROL 51
Os Rolling Stones com fome de jogo. A nova banda de Will Butler, do Arcade Fire. O clima norueguês da nova do Beirut. Duane Betts mostra que música vem de berço. O rock indie com jeitão de rock de raiz do Ratboys. O R&B cool e sensual de Naomi Sharon. Macie Stewart regrava Kraftwerk. O rock barulhento e vertiginoso de Lupe De Lupe. E os climas musicais etéreos e hipnotizantes de Maria BC.
The Rolling Stones – "Angry”– Mick, Keith e Ronnie apresentam ao mundo seu primeiro álbum de inéditas desde 2005, Hackney Diamonds, que sai em 20 de outubro, através de um single que prenuncia a versão “nova era” da banda que os três dizem estar começando. É ao mesmo tempo “tradicional” e “moderno”, na medida em que combina assinaturas musicais do grupo – os riffs de Richards, o rugido debochado de Mick, cantando cada vez melhor, os solos divertidos e econômicos de Wood e Keith – com produção state-of-the-art (cortesia do jovem Andrew Watt) e mixagem século 21 que poderão aproximar os Stones de novas gerações sem alienar os velhos fãs. O trio-núcleo mostra-se disposto e com fome de jogo, desafiando os anos e as probabilidades de octogenários fazerem rock ’n’ roll vital. Steve Jordan assume as baquetas com vigor (Charlie Watts aparece em apenas duas das 12 faixas do álbum, “Mess It Up” e “Live By The Sword”, gravadas em 2019) e o contrabaixo sujo, funky e distorcido – tocado aqui não por Daryl Jones, mas por Keith – alimenta o motor da locomotiva Stones com veneno e energia sanguínea. "Angry” não se equipara aos clássicos perenes da banda, e seria até injusto esperar epifanias dos Stones após mais de 60 anos de serviços tão bem prestados ao rock. Mas gruda na memória e tem um apelo pop irresistível. E um mundo com os Stones continua sendo infinitamente melhor do que sem eles. O vídeo de "Angry” reforça esse sentimento, com a atriz Sydney Sweney dançando e cantando de pé num Mercedes-Benz conversível vintage – e vermelho – que passeia por Sunset Boulevard, em Los Angeles, em meio a outdoors “vivos" onde os Stones aparecem tocando em diversas fases de sua carreira (embora somente de 1972 para cá), por vezes parecendo dublar a música nova. Ali, do passado e no presente, eles lembram a todos quem manda no pedaço, como se disparassem, à queima-roupa: “sabe com quem está falando?”.
Will Butler – “Stop Talking“ – O single de Will, apoiado pelo quarteto nova-iorquino Sister Squares, soa bastante como seu grupo original, o Arcade Fire. Faz parte do primeiro álbum deste novo projeto de Butler, que sai no final do mês.
Beirut – “So Many Plans”– O cantor, compositor e instrumentista Zach Condon compôs e gravou o novo álbum do Beirut na ilha norueguesa que dá nome ao disco, Hadsel, inspirado pela geografia e pelo clima do local – e por um órgão de igreja dos anos 1800 que encontrou.
Duane Betts – “Stare At The Sun”– Filho de peixe grande, Duane tem o primeiro nome do guitarrista e bandleader com quem seu pai – também guitarrista – trabalhou ao longo de décadas, como co-fundador do Allman Brothers Band, da qual o filho também participa. Agora com 45 anos, Duane está lançando seu primeiro álbum solo, Wild & Precious Life, cercado de outros agregados da família Allman, como o guitarrista Derek Trucks, sobrinho de um dos bateristas originais da banda seminal de blues-rock sulista, Butch Trucks.
Ratboys – “Morning Zoo” – O quarteto, de Chicago, faz um rock indie com jeitão de rock de raiz, de sonoridade vintage, com guitarras harmonizando, rabecas e os vocais cativantes de Julia Steiner. Seu novo álbum, The Window, acaba de ser lançado.
Naomi Sharon – “Definition of Love”– Contratada pelo selo do mega astro Drake, a cantora, de raízes na Holanda e no Caribe, faz um R&B cool e sensual que lembra muito Sade, mas adaptado à sonoridade atual.
Macie Stewart – “Neon Lights” – Multiinstrumentista de Chicago e vocalista do Ohmme, Macie resolveu fazer uma versão sua de uma das faixas de Man Machine, álbum do Kraftwerk lançado em 1978, adicionando guitarras e cordas ao caldo de sintetizadores, a cargo de Jeremiah Chiu.
Lupe De Lupe– “Eduardo”– Ezequiel Neves teria uma única palavra para descrever o som desse quarteto mineiro, cujo terceiro álbum, Um Tijolo Com Seu Nome, restringe cada uma das 24 faixas barulhentas e vertiginosas a dois minutos, no máximo : descaralhante.
Maria BC – “Amber/Watcher" – Baseada em Oakland, na Califórnia, Maria é uma vocalista e guitarrista com formação clássica que é capaz de criar climas musicais etéreos e hipnotizantes, auxiliada também por sons eletrônicos. Ela construiu duas músicas que funcionam como metades de uma mesma obra – e, por isso, são indissociáveis.