As Cinco Séries de 2024
Jogos de guerra e amor no Japão feudal, a adaptação 'noir' de um livro, a resiliência dos "refugos" da espionagem britânica, comédia + assassinatos e uma destemida embaixadora americana marcaram o ano
Haja tempo para seguir tantas novas séries (ou temporadas inéditas) – e que os neurônios estejam em dia para não perder o fio da meada de cada uma.
Mas as recompensas são muitas: 2024 teve “de um tudo”, em termos de séries: comédias inteligentes, como Hacks; autoficção pesada, como Bebê Rena; adaptações de filmes adaptados de livros, como O Dia do Chacal; histórias policiais com tramas existenciais, como True Detective; e ficção-científica idiossincrática, melancólica ou sobrenatural, exemplificado por Além da Margem, Matéria Escura e Sunny.
De toda a safra, o FAROL pinçou os cinco destaques do ano.
E você? Viu o quê de bom em 2024?
Shōgun (Disney +) – Adaptação do livro de James Clavell que ficou anos-luz à frente da primeira versão para a TV, de 1980, a nova interpretação audiovisual do complexo e profundo relacionamento do navegador inglês John Blackthorne (Cosmo Jarvis) com o poderoso senhor Yoshi Toranaga (Hiroyuki Sanada), em meio a uma intrincada e intensa briga por poder no Japão dos anos 1600 – que envolve tanto as lideranças locais quanto os portugueses, determinados a não repartir com seus vizinhos europeus as riquezas do lugar e a influência sobre nipônicos poderosos –, ganhou ambição maior, densidade, dimensão épica e novas texturas, sublinhando o protagonismo da sábia e inteligente Toda Mariko (Ana Sawai), principal (e dedicada) conselheira de Toranaga – e interesse amoroso do “bárbaro” britânico, num relacionamento fadado à tragédia. De tirar o fôlego.
Ripley (Netflix) – Filmada em preto e branco suntuoso, abrindo mão das cores da Itália para extrair ainda mais dramaticidade da saga sórdida e sombria do trambiqueiro que dá título à série – e ao livro em que se baseia, escrito por Patricia Highsmith em 1955 e já transformado em filme um par de vezes, com Alain Delon e Matt Damon no papel principal –, a série seduziu, apavorou e repugnou em igual medida, graças à representação de Andrew Scott – ao mesmo tempo reptiliana e cativante – e à direção de Steven Zaillian, que nada julga, apenas nos apresenta as maquinações de Ripley, de uma forma que nos mantém acorrentados à telinha, com o coração disparado e as palmas das mãos encharcadas.
Slow Horses (Apple TV+) – A quarta temporada da série sobre um grupo de espiões britânicos “exilados” para um escritório comandado por um veterano pinguço, sujo, azedo mas brilhante (e fiel a sua equipe), os “refugos”, ou “pangarés” do título, desdenhados por colegas de departamentos mais prestigiosos mas incontáveis vezes melhores que eles, demonstrou a saúde criativa e o fôlego dos realizadores e do elenco, de novo comandado por um Gary Oldman impecável, como o chefe dessa trupe de agentes inseguros e fora do esquadro. Os conflitos, dessa vez, envolveram laços de parentesco com os malfeitores e a fragilidade advinda dos efeitos da demência sobre um antes brilhante oficial dos serviços de inteligência da Coroa Inglesa.
Only Murders in The Building (Disney +) – Steve Martin e Martin Short continuaram afiados na quarta leva de episódios da série de comédia co-estrelada por Selena Gomes – e repleta de participações especiais (Meryl Streep sendo a mais estelar, mas muitos outros fazendo o papel de si próprios, como Eva Longoria e Zach Galifianakis, por exemplo) – , em que o trio protagonista investiga assassinatos cometidos no prédio nova-iorquino onde mora, expondo bizarrices próprias e dos vizinhos, todos suspeitos potenciais. Na nova temporada, os episódios ganharam contornos meta, com a entrada em cena de uma personagem vaidosa e traiçoeira: a própria Hollywood, com todo seu brilho e toda sua pequenez.
A Diplomata (Netflix) – Uma das principais delícias da televisão do ano que termina foi a eletrizante continuação da trajetória frenética da embaixadora americana em Londres, Kate Wyler (Keri Russell, irretocável), às voltas com intrigas palacianas e tramas políticas explosivas que testam sua determinação de fazer a coisa certa, seu relacionamento com o (praticamente ex) marido de alto quilate (e com ambições próprias) no mundo da diplomacia, Hal (Rufus Sewell), e poderosos de diferentes plumagens, estaturas e graus de periculosidade. Narrativa envolvente – e viciante –, que leva a devorar todos os episódios de uma vez só e deixa um incontrolável gosto de “quero mais” quando tudo acaba.
Até 2025!
E assim se passou mais um ano.
Foram 41 edições do FAROL, com uma seleção semanal dos principais destaques no noticiário cultural do Brasil e do mundo, mais playlists antenadas no que rolou de mais interessante na música pop e no rock.
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Muito obrigado!
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Logo nos vemos de novo!
Muito obrigado pelo carinho, meu caro, e por seguir o FAROL. Abraços
Ze Emilio,
Parabéns pelo Farol ligadão.
Abs
Paulo