As Cinco Melhores Séries de 2022
'Star Wars' para gente grande, a despedida de gala de Saul Goodman e o retrô-futurismo de 'Ruptura' proporcionaram os melhores momentos do ano na TV
A farta variedade oferecida pelos canais de streaming em 2022 trouxe para as telas caseiras suspense, galáxias distantes, crimes, quebra-cabeças intrigantes, comédias e dramas de diferentes matizes.
O que torna extremamente complicado pinçar os destaques dessa fornada de conteúdo.
Como deixar de fora, por exemplo, The Old Man (uma tour de force para Jeff Bridges e John Lithgow) ou Slow Horses (o time de espiões “mentorado” com um misto de desprezo e amor torto por Gary Oldman)? E a temporada final de Ozark?
Mas nossa peneira precisou ser bem fina e deixou passar apenas os cinco principais títulos do ano.
5 – Mal de Família (Apple+) – Cinco irmãs irlandesas (Sharon Horgan, Anne-Marie Duff, Eva Birthistle, Sarah Greene e Eve Hewson) se unem para assassinar o marido de uma delas, um homem torpe – John Paul (Claes Bang, na pele do vilão que amamos odiar) – , mau, disposto a pisar em quem for para progredir na vida ou só para espezinhar a outra pessoa, mesmo (e especialmente) se for a própria esposa ou uma das cunhadas. Esse é o ponto de partida para esta divertidíssima história de humor negro britânica, adaptada de uma série belga. John Paul é enterrado logo no início e o público fica colado na tela desde o primeiro episódio, tentando desvendar a identidade do assassino, enquanto observa o desenrolar de todas as razões pelas quais ele merecia morrer. Quem das irmãs Garvey o matou? Todas? Nenhuma?
4 – Andor (Disney+) – A melhor série baseada no universo Star Wars criado por George Lucas quase pode ser descrita como “Guerra nas Estrelas para gente grande”. O roteirista e diretor Mike Gilroy – o mesmo do longa Rogue One, de 2016 – urdiu, no cargo de showrunner, episódios eletrizantes, recheados de tramas adultas e realistas em torno do personagem-título (Diego Luna), ao mesmo tempo outsider e herói envolvido na rebelião contra o Império.O time de atores coadjuvantes é de altíssimo quilate: de Stellan Skarsgård (o líder rebelde Luthen Rael) a Fiona Shaw (Maarva, a "mãe coragem" adotiva de Andor, de partir o coração), Denise Gough (a durona e ambiciosa Dedra Meero, supervisora das forças imperiais de segurança) e Anton Lesser (o temido e ardiloso Major Partagaz).
3 – Better Call Saul (Netflix) – A segunda metade da sexta – e última – temporada da série focada na transformação do advogado medíocre e complexado Jimmy McGill no ardiloso armador legal que se batizou de Saul Goodman e enriqueceu (e tornou-se alvo) trabalhando para traficantes perigosos ofereceu uma master class brilhante de roteiro, direção e representação, com atuações brilhantes de seu elenco-núcleo: Jonathan Banks (Mike Ehrmantraut) Giancarlo Esposito (Gus Fring), Patrick Fabian (Howard Hamlin), Rhea Seehorn (Kim Wexler) e Bob Odenkirk (Saul Goodman). Foi uma despedida de gala.
2 – White Lotus (HBO Max) – Sexo, traição, morte, um hotel de luxo num local paradisíaco e paisagens idílicas fizeram da segunda temporada da série criada por Mike White uma das mais apetitosas e irresistíveis de 2022, apoiada por um elenco estelar que trazia a divina Jennifer Coolidge de volta da primeira leva de episódios para uma trama intrincada, passada na Sicília, envolvendo hóspedes endinheirados e infelizes, funcionários do hotel e locais. Com direito, de quebra, a repetidas homenagens ao cinema (como O Poderoso Chefão), especialmente o italiano: uma cena reproduz, quadro a quadro, uma sequência de L’avventura, filme de 1960, dirigido por Michelangelo Antonioni.
1 – Ruptura (Apple+) – Mas nada em 2022 se comparou ao arrojo e à originalidade de Ruptura. A partir de seu conceito ficção-científica retrô-futurista – as crises que vão borbulhando lentamente na Lumon, uma empresa onde os funcionários são submetidos a um procedimento que separa em seus cérebros a vida profissional da pessoal, de forma que uma jamais invada a outra – , a série empurrou seus personagens – Mark (Adam Scott), Helly (Britt Lower), Irving (John Turturro), Dylan (Zach Cherry) e Harmony (Patricia Arquette, espetacular) – para uma rota de colisão inexorável, cujo clímax, literalmente no último segundo do episódio final, é de tirar o fôlego.
Quer Mais Listas de Melhores Discos do Ano? Tem!
Mundo afora, os álbuns que foram destaques em 2022
Na semana passada, mostramos aqui nossa seleção dos cinco principais álbuns do ano.
Mas como votaram o The New York Times, o NME, a rádio KCRW, de Los Angeles, a BBC 6, a rede de rádio National Public Radio e o site Pitchfork, por exemplo?
Clique aqui embaixo e descubra.
E mais …
Os Paralamas festejam os 40 anos do Ronca Ronca. Os Globos de Ouro voltarão para a TV. E agora? A dança de Wandinha viraliza e inspira. Mais de 700 páginas dedicadas a Macca – e esse é apenas o primeiro volume da nova biografia. Molly Ringwald relembra seu trabalho com Godard. E Caetano periga caetanear os evangélicos
– Neste sábado (17/12), os Paralamas do Sucesso comemoram no palco do Qualistage, no Rio de Janeiro, os 40 anos do Ronca Ronca – programa pilotado por Mauricio Valladares que nasceu em 1982, na Rádio Fluminense FM, com o nome de Rock Alive, e hoje, várias iterações mais tarde, arrasta multidões online e está disponível também sob a forma de podcasts. A data também marca o lançamento de um vinil inédito (e prensado em vermelho!), com a apresentação que os Paralamas fizeram em 1999, no estúdio onde era realizada aquela encarnação do programa de Mauricio, quando tocaram clássicos (“The Tears of A Clown”, de Smokey Robinson & The Miracles, “Sunshine of Your Love”, do Cream, e “Sweet Sixteen”, de B. B. King) e surpresas (“Caleidoscópio”, sucesso de Dulce Quental, e "Eu Quero Ver o Oco", dos Raimundos). Detalhe: foi tudo gravado numa fita cassete! Em mono!
– Saiu na segunda-feira (12/12) a lista de indicados para a 80ª edição dos Globos de Ouro, prêmio dado aos destaques do ano no cinema e na TV pela Hollywood Foreign Press Association, grupo de correspondentes internacionais baseado em Los Angeles que recentemente caiu em desgraça por causa de acusações de falta de diversidade entre seus integrantes e de práticas duvidosas, equivalentes a corrupção. A premiação será transmitida em janeiro, ao vivo, pela NBC, nos Estados Unidos, após um hiato de um ano, em que aconteceu apenas como um evento online, fechado. A dúvida, após as mudanças internas operadas pela HFPA para se recuperar da polêmica em que se envolveu, é se os astros indicados – e que são a principal atração dos Globos de Ouro – comparecerão à premiação e se a transmissão será bem-sucedida o bastante para reabilitar o evento e garantir-lhe um novo fôlego. A revista The Hollywood Reporter – um dos trades que tomam o pulso da industria de entretenimento – consultou nove estrategistas especializados na temporada de premiações para avaliar as chances de sucesso e sobrevida do prêmio. Todos responderam anonimamente, o que garantiu respostas 100% sinceras.
– A dança de Wandinha Addams no baile Rave’N, ao som de “Goo Goo Muck”, música do The Cramps, mostrada no quarto episódio da série de enorme sucesso da Netflix, tornou-se sensação viral nas redes sociais, mereceu matéria no The New York Times ("A Dança de Wandinha é um Convite. Seja Esquisito”) e motivou até as bailarinas do Scala, em Milão, a fazerem sua própria versão da coreografia.
– Trabalho de fôlego é isso aí: saiu a primeira parte de uma extensa biografia de Paul McCartney que vai ocupar, no final, quatro volumes parrudos, dedicados exclusivamente à carreira solo do ex-Beatle, tudo escrito pelo autor e jornalista Allan Kozzin e o documentarista Adrian Sinclair. As 720 páginas do novo The McCartney Legacy: Volume 1: 1969/1973 cobrem desde a dissolução da banda que Paul formava com John, George e Ringo até o lançamento de Band on The Run, o terceiro álbum individual de Macca.
– Estrela de algumas das comédias românticas icônicas dos anos 1980, a atriz Molly Ringwald contou à revista The New Yorker como foi sua experiência sendo dirigida por ninguém menos que o Deus do cinema em pessoa – Jean-Luc Godard – quando ela representou Cordelia numa adaptação de Rei Lear, de Shakespeare, filmada em 1987. Ela admite que nunca tinha visto um único filme de Godard e que sua única referência dele era um cartaz pendurado na parede de uma butique parisiense, onde aparecia uma colagem de vários clássicos do mestre. Ela conta, ainda, que tudo aconteceu por incentivo de Norman Mailer, gigante da literatura americana.
– Quem se surpreendeu com a colaboração de Caetano Veloso com o pastor batista Kleber Lucas no louvor “Deus Cuida de Mim”, recém-disponibilizado nas plataformas digitais, precisa ler o texto publicado em O Globo sobre o assunto, escrito por Gabriel Trigueiro, doutor em História Comparada pela UFRJ. Lembrando a fase cristã de Bob Dylan nos anos 1970, Gabriel alerta os que “tem medo de que a igreja possa catequizar Caetano”. Para o autor, estes não levam em conta a força que o artista tem. "O perigo é ele caetanizar os evangélicos”, concluiu.
PLAYLIST FAROL 17
O novo álbum do guitarrista que quase virou um Stone. O hip hop gigante da miúda Little Simz. Brandi Carlile regrava David Bowie. Toyah e Robert Fripp juntos em novo single. O samba psicodélico do Au Revoir Saudade. E a despedida de Djalma Corrêa e Leno.
Harvey Mandel – “Crazy Town” – O americano Harvey quase ocupou a vaga de Mick Taylor antes da efetivação de Ron Wood como o quinto Stone. Chegou a tocar em duas faixas de Black and Blue (“Hot Stuff” e “Memory Motel”), álbum lançado em 1976, como parte de seu teste para entrar na banda. Mas foi gongado por Keith Richards. E a vida seguiu. Aqui, aos 77 anos, Mandel soa mais próximo das explorações sonoras de Jeff Beck em território jazzístico do que do rock do grupo que por pouco não integrou.
Little Simz – “Gorilla” – O hip hop desta rapper britânica miúda é gigante em sua ambição e espírito de aventura, como reiterado na faixa de seu recém-lançado novo álbum, NO THANK YOU.
The Bad Ends – “The Ballad of Satan’s Bride” – “Supergrupo" integrado pelo ex-baterista do R.E.M. – Bill Berry – e o vocalista do Five Eight, outra venerada banda veterana de Athens, Georgia – Mike Mantione – , o Bad Ends faz uma música divertida, descompromissada, bem-humorada e com muita auto-gozação, descrita por eles mesmos como sendo “rock depressivo de coroas”.
Brandi Carlile – “Space Oddity”– A divina Brandi lançou uma versão super deluxe de seu excelente álbum do ano passado, In These Silent Days, incluindo agora gravações novas, feitas em seu estúdio caseiro, como este cover fantástico do clássico de David Bowie.
Cat Stevens – “18th Avenue (Kansas City Nightmare)” – Catch Bull At Four, lançado em 1972, foi o primeiro álbum de Cat a chegar ao topo da parada nos Estados Unidos, propulsionado por arranjos mais complexos e com instrumentação mais rica, incluindo teclados e cordas, e está sendo relançado, em versão remasterizada, comemorativa de 50 anos.
Toyah – “Sensational”– Após meses a fio municiando seu canal no YouTube com covers super bem-humoradas, Toyah convocou o maridão Robert Fripp para acompanhá-la em seu novo single digital.
Meg Baird – “Will You Follow Me Home”– O folk psicodélico da americana Meg traz nesta faixa cheia de groove anos 1960 de seu terceiro álbum, Furling, um riff que lembra “Breathe”, do Pink Floyd.
Au Revoir Saudade – “Au Revoir Saudade”– Misture um fluminense, um paulistano e uma francesa, misture tudo em Paris – e o resultado é um samba psicodélico charmoso e hipnotizante.
Djalma Corrêa – “Baiafro” – O nome de Djalma aparece em um bom número de créditos em discos de alguns dos maiores artistas da música brasileira, de Chico Buarque e Gilberto Gil a Maria Bethânia e os Doces Bárbaros. Mas o trabalho do percussionista – morto semana passada, aos 80 anos – foi além de suas participações como músico de estúdio ou de palco. Em 1970, fundou o Baiafro, e sempre se dedicou à pesquisa da percussão afro-brasileira, como exemplificado por seu álbum solo, lançado em 1978, parte da coleção Música Popular Brasileira Contemporânea, da gravadora Philips.
Leno e Lílian – “Devolva-me”– Gileno Osório Wanderley de Azevedo despontou na Jovem Guarda, quando formava dupla com Lílian Knapp. Conhecidos como Leno e Lílian, lançaram um punhado de sucessos, dentre eles “Pobre Menina”, versão de “Hang On Sloopy”, dos americanos McCoys, e esta faixa, décadas mais tarde regravada por Adriana Calcanhoto. Leno ainda integraria o grupo Renato e Seus Blue Caps e em 1971 faria um álbum solo de rock mais pesado, Vida e Obra de Johnny McCartney, que não passou pela censura e só saiu em 1994. Leno morreu na semana passada, aos 73 anos.