A Inteligência Artificial chega ao teatro
Já usada na música, no cinema e na TV, a ferramenta vem agora sendo incorporada à feitura de peças teatrais – a forma de arte onde a emoção humana é a base principal.
O uso de Inteligência Artificial na criação e produção em música, cinema e TV já é uma realidade, e vem gerando resultados diversos na mesma proporção que provoca polêmica sobre ética, direitos autorais e a possibilidade de uma ferramenta digital ser capaz ou não de criar arte, um talento que a humanidade demorou milhares de anos para desenvolver.
Usa-se IA para avaliar roteiros, ajustar sons gravados e criar sons artificiais, criar sets de filmagem digitais realistas ou mundos fantásticos, analisar o gosto do público e as tendências para descobrir que tipos de histórias e gêneros fariam sucesso num determinado momento, corrigir nuances de interpretação – a plataforma FaceDirector, da Disney, monta um combinado de diferentes expressões de um ator para afinar o tom de uma determinada cena na pós-produção –, até mesmo para criar campanhas de marketing para um filme ou programa e bolar um trailer que seja mais atraente, baseado em qualidades de outros feitos anteriormente.
Aos poucos, porém, a IA também começa a penetrar em outro espaço artístico: o palco do teatro.
Mas como utilizar Inteligência Artificial num universo tão diretamente ligado à emoção humana? O que se vê nas telas ou se ouve em caixas de som ou fones pode ter sido facilmente manipulado por IA. Mas um ator no palco? Claro que não. Ali é um ser humano em ação. De carne, osso e coração. Quanto aos elementos que tornam a peça possível, porém, a história é bem outra.
Montagens teatrais recentes nos Estados Unidos dão uma ideia dos caminhos que podem ser traçados com a utilização de Inteligência Artificial. Veja o caso de Artificial Flavors. Agindo como narrador do espetáculo, o diretor artístico da companhia nova-iorquina Civilians, Steve Cosson, digita comandos para o ChatGPT criar ali, na hora, diante do público, o roteiro e as letras para uma peça musical. A partir do resultado, o elenco interpreta o resultado, acompanhado por músicos que improvisam estilo, estrutura musical, harmonias e melodias para as letras produzidas pela ferramenta. O próprio programa da peça admite que ela proporciona uma “noite fascinante de caos quase incontido” e o diário americano Washington Post qualificou a produção de “um experimento agradável”.
Outra peça produzida com a ajuda do ChatGPT, Prometheus Firebringer – que se define como sendo “sobre linguagem, tecnologia e poder” – apresentou ao público, recentemente, um elenco digitalmente criado pela ferramenta, máscaras/“personagens”, enquanto a dramaturga e artista Annie Dorsen digitava num computador trechos do mito do Deus grego que se rebelava contra Zeus e dava o fogo aos humanos – que a IA, na sequência, interpretava e reproduzia à sua maneira, por escrito, num telão.
Mais radical, a artista Mona Pirnot passava toda sua peça, I Love You So Much I Could Die, de costas para a plateia no New York Theatre Workshop, digitando num computador suas falas, que eram reproduzidas pela voz sintética da máquina.
O que mais pode ser tentado nessa seara? As possibilidades são muitas e ainda estão para ser desbravadas. Assim como acontece com os avanços tecnológicos que constantemente revolucionam a feitura de conteúdo audiovisual, a incorporação de recursos de IA no teatro é um processo contínuo – e um caminho sem volta.
Resta ver como o artista ou o produtor acolherá essa ferramenta e a utilizará de forma a apoiar sua criatividade e sua capacidade técnica, mantendo viva e ilesa a característica primordial das artes cênicas: sua humanidade.
David Lynch promete “alguma coisa”. Mas o quê? Vem aí a “experiência de narrativa sinfônica multimídia” de Dolly Parton. Que tal ser dono das sobras de um baseado fumado por Snoop Dogg? Lembra do iPod? Virou valioso item de colecionador. E Mark Knopfler e Brian Johnson fazem música e batem altos papos com convidados em seu novo programa de TV.
– Vem aí um novo projeto de David Lynch. Mas o que será, exatamente? Saberemos tudo na quarta-feira, 5 de junho. Quem promete é o próprio realizador de Veludo Azul e Mulholland Drive-Cidade dos Sonhos. Sem postar nada nas redes sociais desde 2022, Lynch apareceu num vídeo curto, de óculos escuros, com a noite chegando a Los Angeles, lá no fundo, para anunciar que “alguma coisa está chegando, para vocês verem e ouvirem”. Não deu pista alguma do que essa “coisa” seria. Um novo filme? Um videoclipe? Uma nova temporada de Twin Peaks? Nenhuma das respostas acima? Ah, o suspense …
– Diva da música country americana, Dolly Parton se aposentou dos palcos oito anos atrás. Mas isso não a impede de anunciar para o ano que vem “uma experiência de narrativa sinfônica multimídia” que celebrará sua música e seu legado. O novo espetáculo mostrará Dolly em telões, conduzindo o público numa “jornada visual-musical” de suas músicas mais conhecidas, interpretadas “com arranjos inovadores” por uma orquestra, mais cantores e instrumentistas convidados.
– Que tal possuir gravações originais, roteiros de filmes, camisetas autografadas e troféus que pertencem a Snoop Doog – e até os restos de um baseado fumado pelo astro do rap? Pois sua chance chegou. Está sendo leiloado um lote parrudo de memorabilia ligada ao artista. Quem se interessar, em adquirir algum item pode dar aqui seu lance até 2 de junho.
– Lembra do iPod, o revolucionário aparelho lançado pela Apple em 2001 que tornou-se redundante e desnecessário na medida em que o iPhone incorporou sua única função – a de guardar e reproduzir música? Pois o produto pioneiro virou item de colecionador e hoje vale muito dinheiro. Um iPod lacrado, jamais usado, foi vendido recentemente pelo equivalente a 150 mil reais. “A febre retrô e a nostalgia têm um ciclo de cerca de 20 anos”, explica Javier Lacort, criador do podcast Infinite Loop, dedicado a tudo relativo à Apple. “Depois de duas décadas, uma moda, uma tendência, um produto, tudo começa a ressurgir”.
– Mark Knopfler – cantor, compositor e guitarrista – e Brian Johnson – vocalista do AC/DC – estão apresentando juntos um novo programa de televisão, Music Legends, no qual recebem artistas diversos – de Tom Jones e Carlos Santana a Nile Rodgers e Emmylou Harris – para conversar e fazer música. A parceria entre os dois britânicos surgiu a partir de uma participação de Mark num outro programa, A Life On The Road, apresentado por Brian. O encontro dos dois foi tão bom que eles desejaram poder continuar conversando por muito mais tempo.
PLAYLIST FAROL 85
A bossa nova com sotaque chino-islandês de Laufey. Cassandra Jenkins, inebriante. Dave Alvin + Jimmie Dale Gilmore. O pop grunge irrresistível de Nilüfer Yania. DIIV faz shoegaze para os anos 2020. Hermeto Pascoal homenageia sua Ilza. O neo-soul funkeado de Lava La Rue. Gen and the Degenerates, punks acidentais. O pop experimental de Mabe Fratti. E o adeus a Doug Ingle, autor do clássico icônico do Iron Butterfly.
Laufey – “From The Start”– Bossa nova com classe e um gostinho todo especial, islandês/chinês, feito por uma artista baseada em Los Angeles.
Cassandra Jenkins – “Delphinium Blue”– A cantora-compositora nova-iorquina demonstra em seu terceiro álbum, My Light, My Destroyer, um estilo de composição e interpretação que vai da declamação a melodias etéreas, às vezes sussurradas, criando um efeito envolvente e inebriante.
Dave Alvin, Jimmie Dale Gilmore – “We’re Still Here” – Dois veteranos do rock americano de raiz – também conhecido como Americana – partem, juntos, numa celebração da resiliência e da vida.
Nilüfer Yania – “Like I Say (I runaway)”– Esta artista londrina mistura música eletrônica, guitarras pesadas e instrumentação acústica de tal maneira que gera um pop grunge irresistível.
DIIV – “Raining On Your Pillow” – Shoegaze para os anos 2020, made in Brooklyn, sucessaço na rádio BBC 6, através desta faixa do novo álbum do grupo, Frog in Boiling Water.
Hermeto Pascoal & Grupo – “Pra você, Ilza”– Aos 87 anos muito bem vividos, Hermeto, um dos artistas mais criativos e imaginativos da música brasileira, mantém-se na ativa e à toda. Ele acaba de lançar um novo álbum, todo dedicado a sua esposa, Ilza, falecida pouco tempo depois dele ter completado um ciclo de composições feitas entre 1999 e 2000.
Lava La Rue – “LOVE BITES” – Se Prince fosse uma artista londrina em atividade agora, talvez soasse algo assim, fazendo esse pop neo-soul funkeado. É uma amostra do primeiro álbum de La Rue, STARFACE, que sai mês que vem.
Gen and the Degenerates – “Girls!” – Numa das falas memoráveis do filme Os Desajustados, de 1987, um dos protagonistas explica que ele e seu amigo saíram de férias “por engano”. A vocalista e letrista Genevieve Glynn-Reeves diz que seu grupo, o quinteto Gen & The Degenerates, de Liverpool, virou uma banda punk “por acidente”. Ainda assim, sua convicção no álbum de estreia, ANTI-FUN PROPAGANDA, desmente a fala – e até mesmo o título do disco. Não há nada de acidental aqui.
Mabe Fratti – “Kravitz” – Em seu novo álbum, Sentir Que No Sabes, a violoncelista guatemalteca Mabe, baseada na Cidade do México, faz um pop experimental em que seu instrumento, parecendo um contrabaixo elétrico, dialoga com teclados e pontadas de metais.
Iron Butterfly – “In-A-Gadda-Da-Vida”– Em algum momento de 1968, o organista Doug Ingle partiu para compor uma nova canção para o repertório da banda de rock pesado que liderava, Iron Butterfly. Munido de uma garrafa de vinho, ele criou um riff marcante para sublinhar a expressão que viraria o título da música, transformado de “In The Garden of Eden” (No Jardim do Éden) em “In-A-Gadda-Da-Vida” quando a garrafa já estava vazia. Com duração de 17 minutos, a faixa ocupou todo o lado B do segundo álbum do IB – tendo virado seu título – e turbinou a vendagem de mais de quatro milhões de exemplares do disco, tornando-se a música-assinatura do grupo. Uma versão mais curta da música, com pouco menos de três minutos, ajudou a popularizar a canção, mas as rádios preferiam mesmo a versão longa, viajandona, original. O sucesso foi tão grande que durante muito tempo o álbum era considerado o mais vendido em toda a história da gravadora do IB, a Atlantic. Doug morreu esta semana, aos 78 anos.