A febre de literatura web que já conquistou 330 milhões de chineses se alastra mundo afora
Mais de 200 países consomem hoje os romances pop chineses distribuídos exclusivamente online que movimentam 5.5 bilhões de dólares em seu país de origem
Você pode nem ter ouvido falar dela ainda, mas é algo que muito em breve poderá entrar no seu radar, de uma forma ou de outra: a literatura pop escrita na China para ser vendida e consumida online, feita por autores pertencentes à Geração Z.
Mais de 330 milhões de pessoas na China – um em cada quatro habitantes – leem esse tipo de livro, criado para ser consumido em dispositivos móveis. São romances fantasiosos, recheados de lutas de espada, viagens no tempo, artes marciais, suspense e romances que atravessam gerações. E é um número que tende a aumentar. O mercado chinês de literatura online registrou um crescimento anual de 8.8% no ano passado, atingindo uma receita equivalente a 5.5 bilhões de dólares.
E o sucesso está extrapolando os limites do país asiático de tal maneira que seu alcance vem sendo comparado ao dos filmes produzidos em Hollywood e dos seriados coreanos. Mesmo porque muitos títulos, de tão populares, acabam sendo adaptados para o cinema ou para a TV.
Segundo dados divulgados na semana passada, durante a 13ª edição da China Digital Publishing Expo, os leitores internacionais – também da Geração Z, em sua maioria, nascida entre 1996 e 2010 – somaram mais de 150 milhões, em 2022, e gastaram 412 milhões de dólares em romances online dentro das cinco categorias preferidas por esse público: histórias urbanas, faroestes, ficção-cientifica, fantasia (tanto oriental quanto ocidental) e gaming.
Também em 2022, mais de 16 mil desses títulos foram exportados/traduzidos para outros países, com 6.400 livros até sendo publicados em versão papel fora de seu país de origem. Estima-se que mais de 200 países já consomem esse conteúdo chinês.
Na China, essa produção online é comercializada quase 100% pela plataforma Qidian, enquanto os leitores de outros países optam por sua versão internacional, a WebNovel, ou pela competidora WuxiaWorld. Essas duas últimas, sozinhas, receberam quase 20 milhões e 6 milhões de visitas, respectivamente, no último mês de agosto. Não é surpresa, portanto, que os chineses acreditem estar diante de uma onda crescente de popularidade internacional para seus produtos literários digitais – e para sua cultura pop.
É como pensa, por exemplo, Wang Xiang, integrante do comitê de literatura online da Associação Chinesa de Escritores. Para ele, os romances chineses online utilizam métodos de storytelling e criam personagens com poderes super-humanos semelhantes aos encontrados nos filmes de Hollywood. Por isso, disse Xiang, numa entrevista, essa vertente da literatura “tornou-se um núcleo cultural global comparável aos filmes e às séries americanas, em termos de alcance e influência mundial”.
“Os romances online podem ser considerados a maior fonte de conteúdo original atualmente no mercado chinês”, afirmou Jing Ruyi, analista da iResearch Consulting, especializada no mercado chinês online.
Outro aspecto importante da internacionalização dos romances online chineses é como eles apresentam a cultura da China de uma forma atraente num momento em que aquele país é visto, por muitos, como um antagonista do Ocidente.
"Embora o nascimento da literatura online não possa ser separado da globalização da economia e da cultura”, explicou ao jornal Global Times Chen Dingjia, pesquisador da Academia Chinesa de Ciência Social, “(ela) é uma expressão singular da cultura chinesa para o mundo inteiro e é uma maneira singular de tornar global a cultura (do país)”.
Filme espanhol usa animação para falar do desaparecimento de pianista brasileiro preso pela ditadura argentina. O grosso da receita do mercado fonográfico vem das plataformas de streaming. A Amazon quer ganhar mais dinheiro com o streaming, de qualquer maneira. Fãs de seriado da Netflix podem viver como sua heroína em Paris. E livro enfoca os 10 grandes álbuns do rock gaúcho.
– A carreira do pianista brasileiro Tenório Jr. foi interrompida em 1976, dias antes do golpe militar eclodir na Argentina, quando estava em Buenos Aires, acompanhando Vinícius de Moraes e Toquinho em turnê. Confundido por militares golpistas com um guerrilheiro, Tenório foi preso e acabou morrendo fuzilado, embora seu corpo jamais tenha sido encontrado. Agora, essa tragédia chegará aos cinemas em filme do diretor espanhol Fernando Trueba (vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1992, por Sedução). Mostrado no Festival de San Sebástian, na semana passada, Atiraram no Pianista mistura animação com live-action para reproduzir cenas de época e situações dramatizadas. Por isso, é codirigido pelo designer e ilustrador Javier Mariscal, colaborador também de outro filme de Trueba , todo de animação, Chico e Rita. Carlos Heli de Almeida conversou para O Globo com os dois realizadores sobre o filme, que abrirá o Festival do Rio no dia 5 de outubro e chegará aos cinemas brasileiros cerca de um mês depois.
– Mais de 99% da receita do mercado fonográfico brasileiro vem das plataformas de streaming, revela o relatório da Pró-Música Brasil – associação formada por produtores. São R$ 1.181 bilhão de um total de R$ 1.191 bilhão. Suportes como CD’s e LP’s são responsáveis por apenas 0,6% do bolo. O mesmo relatório mostra que a indústria fonográfica do país cresceu 12,6% no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período no ano passado.
– Enquanto isso, a Amazon busca maneiras de aumentar a receita de seu serviço de streaming, Prime Video. E um dos caminhos para isso será a inclusão de anúncios na programação, começando já no início de 2024. A medida será tomada inicialmente nos Estados Unidos, no Canadá, na Alemanha e no Reino Unido. No entanto, embora essa seja uma tendência entre as empresas de streaming, a Amazon se beneficiaria de uma dose dupla de recursos: quem não quiser ver seus filmes ou seriados interrompidos por anúncios (embora garanta-se que os intervalos comerciais não se comparariam ao que se pratica na TV aberta) precisará pagar um pouco mais pela assinatura. Mas quem quiser poderá clicar no anúncio – digamos, de uma peça de roupa ou de um artigo doméstico – para comprar aquele produto no site da própria Amazon. Ou seja, ela ganharia mais dinheiro de uma forma ou de outra. Tudo isso enquanto a Amazon está sendo acusada pela Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC) de monopolizar os serviços do mercado online , ao forçar ilegalmente os vendedores de sua plataforma a usar sua logística e sua entrega em troca de um lugar de destaque no seu site.
– Os fãs da série Emily In Paris, sucesso na Netflix, podem agora visitar os mesmos pontos da Cidade Luz onde vive a protagonista, graças a uma parceria entre uma startup de turismo – a Dharma – e a produção do seriado. Grupos de 8 a 16 “Emileaders" participarão de experiências imersivas em locações conhecidas de quem acompanhou os episódios, segundo três núcleos de interesse: estilo de vida, moda e romance. O que significa beber coquetéis de Lillet-Spritz, aprender a paquerar em francês, ter aulas de pastelaria – e visitar lojas chiques. A viagem de cinco dias custa a partir de três mil e seiscentos dólares (cerca de 18 mil reais).
– Os 100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho foram compilados em livro organizado pelo jornalista Cristiano Bastos (autor de Gauleses Irredutíveis-Causos e Atitudes do Rock Gaúcho) junto com o artista gráfico, fotógrafo e diretor de arte Rafael Cony (que trabalhou com artistas como Garotos de Rua e Ratos de Porão) e com a ajuda da curadoria de diversos colaboradores. São 308 páginas levantando 50 anos de produção musical e fonográfica do Rio Grande do Sul. O livro é um desdobramento de postagens feitas no Facebook durante a pandemia e assinala como ponto de partida do rock no estado o LP Rock On The Big Hits, lançado, em 1959, pelo Conjunto Melódico Norberto Baldauf – onde o grupo gravou “Stupid Cupid” utilizando instrumentos regionais, como acordeão e gaita –, antes de chegar a artistas como Liverpool, Almôndegas, Bixo da Seda, Papas na Língua, Engenheiros do Hawaii, Replicantes, Biba Meira e Júpiter Maçã. Mas, segundo Cristiano Bastos, o livro é bem mais do que o recorte sobre os 100 álbuns do título, nem foi feito para rankear esses discos, "porque eles aparecem em ordem cronológica e o livro tem vários outros capítulos e esquadrinha toda a produção fonográfica da música jovem no Rio Grande do Sul dos anos 1950 em diante. O que resulta, no final, num apanhado de mais de mil obras fonográficas compiladas”. Um artista ganha destaque especial no livro: Luiz Vagner, músico negro de Bagé que é o nome mais citado na publicação. Pioneiro do rock e do reggae, craque do samba-rock, integrante de um dos grupos seminais do estado, Os Brasas, Luiz é merecedor até de uma música feita por Jorge Benjor. “De certa forma a gente devolve o cetro do rock and roll para um negro!”, enfatiza Cristiano. Foram impressos apenas mil exemplares do livro, mas ainda restam alguns à venda por telefone: (51) 9919-6952.
PLAYLIST FAROL 54
Julico celebra a música. Chrissie Hynde tem saudade de Copacabana. Anoushka Shankar dialoga com Nils Frahm. Ex-Monkee regrava R.E.M.. Jimi Hendrix apavora os fãs dos Monkees. Lydia Loveless com piano e emoção. Colleen troca a viola da gamba por sintetizadores. David Holmes e Raven Violet festejam radicais, desajustados, párias e sonhadores. A canção agridoce de Alaíde Costa. E os Rolling Stones fazem o impossível acontecer.
Julico – “Música“ – Guitarrista, compositor e vocalista do The Baggios, o sergipano Julico Andrade – aqui solo – celebra a música com arranjo enérgico que combina Jovem Guarda, Tim Maia e Isaac Hayes.
Pretenders – “The Copa”– Talvez não muita gente lembre, mas houve um tempo em que Chrissie Hynde morou em Copacabana, no início dos anos 2000. E as memórias desse tempo motivaram essa faixa nostálgica e claramente praieira sobre a lembrança de um amor perdido às margens da Princesinha do Mar.
Anoushka Shankar – “Daydreaming”– Um diálogo, uma dança, um romance, tudo tecido de maneira envolvente por notas musicais entre a cítara de Anoushka e o piano do alemão Nils Frahm.
Micky Dolenz – “Shiny Happy People”– O único integrante vivo dos Monkees – o fenômeno pop/audiovisual que foi uma irresistível atração da década de 1960 –, Dolenz regrava aqui o R.E.M. de três décadas depois, mas com um jeitão de sua banda original. Faz parte de um EP de quatro faixas todo dedicado ao repertório do grupo de Michael Stipe, Mike Mills e Peter Buck, com lançamento previsto para novembro. Dele também fazem parte versões de "Radio Free Europe", ‘"Man on the Moon" and "Leaving New York.
Jimi Hendrix– “Killing Floor”– Por falar em Monkees, em agosto de 1967 Jimi era um artista emergente nos Estados Unidos, apesar de já ser uma sensação na Inglaterra. Um grupo seleto se encantara por ele no Festival de Monterey, dois meses antes, mas era preciso mostrar ao país inteiro os sons revolucionários do artista. A estratégia da gravadora foi adicioná-lo ao lineup da turnê mais popular da temporada – encabeçada pelos Monkees. Um dos shows dessa excursão aconteceu no Hollywood Bowl, em Los Angeles, que agora sai em disco, e a principal lembrança de quem esteve lá é de uma multidão de adultos, adolescentes e crianças desbundados (ou verdadeiramente assustados) com aquela atração inesperada e desconhecida, que fazia um blues-rock selvagem, barulhento, violento, cheio de distorção e microfonia, anos-luz distante do som dos Monkees.
Lydia Loveless – “Summerlong” – A veterana do alt-country mergulha mais profundo em seu sexto álbum, Nothing’s Gonna Stand In My Way, alternando peso e guitarras com piano e emoção.
Colleen – “Be Without Being Seen-Movement II”– A parisiense Cécile Schot trocou as mini-sinfonias, o violão clássico e a viola da gamba que utilizou em 20 anos de carreira por sintetizadores para criar em seu recém-lançado oitavo álbum – Le jour et la nuit du réel –, composto de suítes instrumentais com alguns movimentos até bem curtos, mas ricos em sonoridade.
David Holmes/Raven Violet – “Necessary Genius”– Irlandês de Belfast, David tem um currículo rico em trabalhos para o cinema e para a TV, solo ou como parte de seu trio, Raven Violet. Aqui, com todos juntos e misturados, utiliza sons eletrônicos vintage, anos 1980, para celebrar "radicais, desajustados, párias e sonhadores", listando desde Nina Simone, Samuel Beckett e Enio Morriconne a John Coltrane, rock and roll, Serge Gainsburg e Jane Birkin e Sinead O’Connor, todos “gênios necessários”.
Alaíde Costa – “Ata-me”– Prestes a comemorar 88 anos de idade e 70 anos de carreira, Alaíde gravou esta canção agridoce do pernambucano Junio Barreto, produzida com classe e elegância pelo mesmo time – Marcus Preto, Pupillo e Emicida – com quem trabalhou no álbum O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim, do ano passado.
The Rolling Stones – “Sweet Sounds of Heaven” – Sabe aquele disco dos Stones que você considerava impossível de se materializar a essa altura do campeonato? Uma gravação emocionante, impactante, vibrante, surpreendente, genuína, arrepiante, feita com garra e vigor autênticos? Pois é, o impossível acaba de acontecer. Depois de um "Angry” enxuto mas sem grandes surpresas, os Stones disponibilizaram essa semana mais uma faixa de seu 24º álbum, Hackney Diamonds. E que porrada! É majestosa, soul e gospel com peso e emoção, impulsionada por guitarras (em momentos diferentes líricas, blueseiras e ferozes) se entremeando, sax e trompete sublinhando, dinâmica e envolvente. Tem ecos de Exile on Main St., sim, mas não é requentada. Pelo contrário – a produção de Andrew Watt (que toca o baixo nesta e em outras faixas do disco) respeita os contornos vintage da canção mas a posiciona agora, atendendo ao que Jagger já disse para definir esse novo disco: isso são os Stones hoje! Num raro momento do grupo trazer para o estúdio convidados especiais, Stevie Wonder contribui com pontuadas e acompanhamento no Fender Rhodes, no piano e no sintetizador, enquanto Lady Gaga ocupa um posto que já foi ocupado por Merry Clayton em “Gimme Shelter”, fazendo contraponto com Mick, que está (já escrevi isso antes e não canso de repetir) cantando cada vez melhor, o que é quase um milagre, considerando-se que estamos falando de um homem de 80 anos de idade. Os Stones gravaram a música todos juntos num mesmo salão do estúdio Henson, em Hollywood (ex-lar dos estúdios de Charlie Chaplin e ex-QG da gravadora A&M), tocando num círculo com Wonder e Gaga, e a curtição dos músicos é literalmente audível. Quando Jagger pede a Stevie para tocar alguma coisa, ele saca do piano um para de riffs matadores e imediatamente arranca gritos entusiasmados de Ronnie Wood: "That's right, baby!”. É tudo ao vivo. É tudo muito vivo. E tudo isso já torna "Sweet Sounds of Heaven” a melhor gravação, a mais significativa, feita pelos Stones desde … 1981? Mas há um outro aspecto que torna a faixa ainda mais especial: ela homenageia, mesmo que de forma obliqua, Charlie Watts (que, diga-se a verdade, faz falta aqui, com seu swing e sua elegância musical), quando, logo no início, Mick canta sobre os doces sons que chegam dos céus e abençoa o Pai, o Filho … e o som da bateria.