A Apple reinventa o futuro. De novo
Com seus novos óculos de realidade mista, a companhia que revolucionou nossas vidas com iPhones espera operar mágica semelhante ao estabelecer uma nova forma de relação entre máquinas e humanos
Aconteceu quando chegou às lojas o computador de mesa Macintosh, em 1984, facilitando a vida de quem considerava os PC's complicados demais de usar ao oferecer um interface simples e intuitivo e a adição de um mouse amigável. Aconteceu quando o iPod tornou portátil e facilmente acessível toda nossa coleção de discos. Aconteceu quando o iPhone mostrou que um telefone, um computador e uma câmera fotográfica cabiam num mesmo aparelho equipado com um revolucionário mostrador de touch screen. Aconteceu quando o iPad surgiu como plataforma portátil alternativa de lazer e trabalho. Aconteceu quando o Apple Watch trouxe para o modelo tradicional de relógio de pulso uma abundância de funcionalidades adicionais, inclusive monitores de bem-estar.
Agora, no inicio da semana, aconteceu quando foi lançado o Vision Pro, os óculos de realidade mista que, promete a Apple, vão revolucionar a maneira como usamos computadores e interagimos com eles.
Há pelo menos um concorrente de peso para o Vision Pro – o Quest 3, óculos de realidade mista da Meta –, mas, da mesma forma como fez com os computadores para uso pessoal, os dispositivos portáteis pessoais, os smartphones e os smart watches, a Apple dispara na frente com um produto que pode até nem ser o primeiro criado naquela categoria mas amplia de maneira exponencial as possibilidades oferecidas pela ferramenta.
Comandado com gestos sutis das mãos, os olhos e a voz (embora possa ser também utilizado junto com um laptop ou mesmo um teclado virtual), o Vision Pro oferece uma experiência envolvente e imersiva no trabalho, no lazer e mesmo no dia a dia, como nunca antes, proporcionando o que a Apple chama de computação espacial.
Por meio de um visor de vidro laminado tri-dimensional, acomodado numa armação feita com uma liga de alumínio ultra-leve, e equipado com uma tira larga e flexível que abriga também os fones de ouvido, o Vision Pro é, ao mesmo tempo, um computador multi-telas, uma sala de cinema imersivo, uma tela de jogos eletrônicos interativa, um projetor de fotos, uma televisão que consegue ocupar todo seu campo de visão e a primeira câmera em 3D feita pela Apple.
Instalados nos novos óculos estão 12 câmeras, cinco sensores e seis microfones. Para se ter uma ideia da qualidade de imagem dos aparelhos Vision Pro, eles projetam 23 milhões de pixels, mais do que uma TV 4K. O som, por sua vez, equivale ao Spatial Audio oferecido pelos Air Pods mais modernos do fabricante.
Além disso, o que você enxerga virtualmente ao usar os óculos consegue ser perfeitamente integrado à realidade ao seu redor, de forma que você é capaz de interagir com pessoas e situações verdadeiras – e as pessoas conseguem enxergar seus olhos e se comunicar com você.
Ao usar o Vision Pro você pode acessar os aplicativos que normalmente usa em seu computador, criar e trabalhar com telas simultâneas, situadas em espaços de visão diferentes. Pode participar de reuniões virtuais e compartilhar – ou receber – arquivos em 2D ou 3D, usando gestos para mover e manipular abas, documentos e imagens.
Na hora de assistir a um filme, você pode aumentar à vontade o tamanho da imagem da “tela" onde ele está sendo exibido – e, ainda, criar um ambiente virtual em que o retângulo ocupado pelo filme é cercado de uma floresta ou do universo. E, segundo quem já testou, a experiência de mergulhar num filme em 3D através do Vision Pro demonstra o potencial máximo do formato de uma maneira que os cinemas não conseguem.
Já quando for ver um jogo de futebol, basquete ou vôlei você terá acesso a diferentes telas simultâneas, mostrando, além da partida, o placar, estatísticas, replays personalizados, pontos de vista diferentes, tudo ao mesmo tempo.
O Vision Pro não é para todos. O preço inicial de 3.500 dólares – quase 18 mil reais – o afastará da maioria, quando for comercializado no início do ano que vem. É um custo sete vezes maior que o do Quest 3. Tampouco o novo aparelho agrada a todos, caso de Lauren Goode, jornalista da revista Wired. “Todo produto bem-sucedido da Apple nas últimas duas décadas desapareceu em nossas vidas, de certa maneira”, ela escreveu, no inicio da semana, depois de ter testado o Vision Pro. "O iPhone, nos nossos bolsos; o iPad, nas nossas bolsas; o Apple Watch, morando nos nossos pulsos; e os AirPods, acomodados em nossos ouvidos. Mas o Vision Pro é diferente de qualquer outro produto moderno da Apple em um aspecto crucial: ele não desaparece. Pelo contrário, ele seria uma intrusão”.
Pode ser considerado um incômodo a necessidade de se usar os óculos plugados, por um cabo, numa bateria do tamanho de um iPhone pequeno. Também foi relatado por quem experimentou o Vision Pro que, após um certo tempo, ele cansa, pelo peso e pela própria experiência sensorial. E, em termos de design – sempre um ponto de honra para a Apple durante a gestão de Steve Jobs e ao longo de sua parceria com o designer Jon Ive – há quem diga que o aparelho deixa a desejar.
"A Apple deixou de ser uma empresa guiada pelo design”, lamentou um funcionário da empresa, ao explicar a disputa travada entre a equipe de design da Apple e os executivos pela forma final do Vision Pro, o que teria gerado um produto aquém do que poderia ser.
Talvez o veredito mais sensato sobre o Vision Pro seja o dado pela jornalista Joanna Stern no The Wall Street Journal. "A Apple está se diferenciando (da concorrência) ao oferecer uma experiência que é completamente fundamentada na realidade", escreveu Joanna. “Não é uma realidade virtual através da qual você escapa da realidade. Pelo contrário, (o Vision Pro) traz o mundo digital para seu mundo real. Exceto que, ao retirar os óculos, senti como se tivesse passado um tempo em algum outro lugar, e que só agora estava de volta à realidade”.
Black Sabbath na ponta das sapatilhas. Streaming filmes de bem-estar. Café com os Stones. Chá com o Pulp. Não espere trailer do novo (e último) filme de animação do mestre Hayao Miyazaki. E o centenário de nascimento do fotógrafo Richard Avedon ganha exposição em Nova York.
– Vem aí Black Sabbath–O balé. Sim, você leu direito. Diretor do Birmingham Royal Ballet, o cubano Carlos Acosta capitaneou uma equipe de três compositores e três coreógrafos, mais um bom número de músicos e bailarinos, para criar um balé em três atos inspirado no Sabbath – uma banda nascida naquela mesma região da Inglaterra –, com estreia em setembro. Tony Iommi, guitarrista do grupo, trabalhou lado a lado com Acosta e sua equipe. O balé reproduz momentos importantes da carreira do Sabbath e mostra como a música do grupo teve impacto mundial, inclusive ajudando a criar um gênero musical, o heavy metal. No decorrer do espetáculo, haverá versões reimaginadas de clássicos da banda, como "Iron Man", "Paranoid" e "War Pigs".
– Um canal de streaming dedicado inteiramente a filmes de bem-estar e meditação. Essa era a diretriz de Bruno Wainer, um dos produtores de cinema mais bem sucedidos do país, para criar o canal Aquarius, que entra em operação na quarta-feira, 14 de junho. Envolvido na produção de filmes icônicos – como Central do Brasil e Cidade de Deus – e daquele que tornou-se a maior bilheteria de todos os tempos – os 170 milhões de reais coletados por Minha mãe é uma peça 3 – , Bruno sofreu de ansiedade e pânico, achou que iria morrer, mas se tratou, utilizando, por ordem médica, até documentários que ajudassem a acalmar a mente. O resultado foi tão positivo que Wainer resolveu compartilhar o tratamento – e transformá-lo em seu novo negócio. O novo canal – dirigido pelo filho de Bruno, Gabriel Wainer – estreia já com 100 títulos em seu catálogo, dentre eles John Lennon:The Dreamer; O Sal da Terra, de Wim Wenders, sobre o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado; e In Silico, que enfoca um estudo que tentou simular o cérebro humano com computadores.
– Topa um café? Procure os Rolling Stones. Prefere chá? Aí já é com o Pulp. Explicando: a banda de Mick e Keith lançou sua própria marca de café, Start Me Up, criado junto com o fabricante Keurig. É uma edição limitada. O café é para ser tomado gelado. E não sai barato. Prepare-se para desembolsar 140 dólares na aquisição de todo um kit, que envolve, além das cápsulas prontas para o consumo, a máquina onde utilizá-las – enfeitada com a famosa língua-logo do grupo –, mais um copo, igualmente decorado. Já o grupo liderado por Jarvis Cocker entrou em parceria com a Dragon Fly Tea para produzir um chá preto com seu nome: o Pulp Monday Morning Tea. Para ser tomado quente, é bem mais acessível – menos de cinco libras esterlinas por uma caixa com 50 sachês, cada um deles trazendo um trecho de letra de uma das músicas do grupo.
– Mestre da animação, o diretor japonês Hayao Miyazaki, de 82 anos, ganhador do Oscar pelo clássico A Viagem de Chihiro, anunciou que lançará em 14 de julho seu derradeiro filme – How Do you Live? – sem promoção, marketing ou mesmo trailer. O porquê? Ele acredita que muita informação antecipada estraga as surpresas do filme, usando como exemplo uma produção que teve nada menos que três trailers antes de seu lançamento. “Se assistir a todos (os trailers), você (já) sabe tudo que vai acontecer", argumentou. "Então, quero fazer o oposto”.
– Para celebrar os 100 anos de nascimento de Richard Avedon – americano que tornou-se um dos grandes nomes da fotografia por conta de um trabalho que misturou ensaios de moda e imagens icônicas de pessoas comuns, famosas e poderosas – o diário britânico The Guardian pediu a diferentes personalidades – do cineasta Spike Lee à modelo Cindy Crawford – que selecionassem seus cliques favoritos de Avedon, cujo centenário está sendo marcado com uma exposição na galeria Gagosian, em Nova York. Um dos destaques é a montagem com a série de imagens feitas com Marilyn Monroe dançando, em 1957, escolhida pelo próprio galerista.
PLAYLIST FAROL 40
Bob Dylan em preto e branco (mas só o áudio). Joan Jett jovem para sempre. O supergrupo de Shaun Ryder. Ben Harper minimalista. Silvana Estrada celebra o amor (mesmo quando há dor). O Som Imaginário no topo da forma. O rock vintage do Sweat. As melodias impecáveis de Ben Folds. A releitura indie pop de um clássico de Neil Young. E a despedida de Astrud Gilberto.
Bob Dylan – “Forever Young”– Em 2021, em plena pandemia, Bob Dylan comemorou seus 80 anos disponibilizando um concerto filmado de modo estiloso, todo em preto e branco, em que revisitava 13 canções de seu catálogo. Agora, o concerto virou álbum e dele faz parte esta espécie de prece em nome da capacidade de sempre manter jovem a mente e o espírito, faça lá o que o corpo quiser (ou puder) fazer.
Joan Jett & The Blackhearts – “(Make The Music Go) Boom“ – E por falar em mente e espírito jovens, a veterana Joan tem ambos – e de sobra – no novo EP que acaba de lançar, com 64 anos mas marra de 20.
Mantra Of The Cosmos – “Gorilla Guerrilla” – O mais novo supergrupo na praça nasceu quando Shaun Ryder, do adorado Happy Mondays (dono de umas sonoridades mais marcantes dos anos 1980), arregimentou seu ex-colega de banda, o dançarino (?)/presepeiro (?) Bez, o baterista Zak Starkey (The Who) e o baixista Andy Bell (Oasis e Ride) para gravar. Deu tão certo que o quarteto já fez seu primeiro show e está escalado para participar da edição 2023 do festival Glastonbury.
Ben Harper – “Yard Sale”– O cantor e compositor opta por uma produção minimalista em seu novo álbum, Wide Open Light. Uma amostra é esta faixa de vibe havaiana, mas sobre a dor do rompimento amoroso, que conta com a participação de Jack Johnson.
Silvana Estrada – “Milagro y Desastre” – Quem acompanha o FAROL desde o início sabe que a cantora-compositora mexicana Silvana – ganhadora do Grammy Latino de Melhor Artista de 2022 – faz parte de nosso DNA desde o começo: sua canção-acalanto “Brindo” está lá na primeira playlist de nossa trajetória. Esta nova e hipnotizante canção fala sobre todas as facetas do amor – mesmo a dor e a mágoa.
Som Imaginário – “Banda da Capital”– Em sua formação original, o grupo (predominantemente) mineiro contou com Zé Rodrix (vocais e teclados), Tavito (violão), Luiz Alves (baixo), Robertinho Silva (na bateria) , Wagner Tiso (piano) e Fredera (guitarra), nasceu junto com a década de 1970, tocou nos discos do coletivo que deu origem ao álbum clássico Clube da Esquina e tornou-se a banda oficial de Milton Nascimento na hora de fazer shows. Seus três álbuns demonstravam a versatilidade e o apetite por experimentação de seus músicos, capazes e criativos em diferentes idiomas musicais, da MPB ao jazz, passando por rock psicodélico, prog e funk. O recém-lançado álbum ao vivo traz uma formação diversa do SI – com Paulinho Braga na bateria, Jamil Joanes no baixo e Nivaldo Ornellas no sax e na flauta –, capturada em ação no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1975, e na capital do país, em 1976 – e é uma preciosidade bem-vinda, apesar da qualidade irregular da gravação. Na faixa-título já encontramos os músicos em velocidade de cruzeiro, expandindo os limites do jazz-rock com gosto brasileiro.
Sweat – “Errors” – O quarteto suíço-americano soa como se estivéssemos em 1971, movido aos riffs prog de órgão Hammond e aos vocais em estilo vintage, ambos de Sue Pedrazzi, quase como uma mescla de Deep Purple e Heart.
Ben Folds – “Kristine From The 7th Grade” – O pianista e compositor traz em seu primeiro álbum desde 2015, What Matters Most, uma radiografia agridoce dos tempos pós-pandêmicos, criada a partir de canções de qualidade melódica que ecoam Paul McCartney. Aqui, ele se dirige a uma ex-colega de escola, "alguém que ria muito", talvez uma ex-namorada, que agora transmutou-se numa distribuidora de desinformação e teorias de conspiração, uma verdadeira estranha de quem ela passa a querer distância.
Ilsey – “Heart of Gold” – O clássico setentista de Neil Young ganhou nova versão, feita pela colaboradora de Beyoncé e Miley Cyrus em tantos hits pop, aqui acompanhada por outro parceiro de trabalho, Justin Vernon – ou, como também é conhecido, Bon Iver.
Astrud Gilberto – “Água de Beber” – A música perdeu essa semana a voz que internacionalizou o clássico de Tom e Vinícius que viria a ser uma das representações icônicas da Bossa Nova e da cultura brasileira. Numa situação quase acidental, em 1963 Astrud foi convocada para cantar em inglês a letra de “Garota de Ipanema” na versão que o marido, João Gilberto, estava fazendo em Nova York para um álbum compartilhado com o saxofonista americano Stan Getz. Gravou e ganhou pelo trabalho 120 dólares. Uma versão apenas com a voz de Astrud saiu em single, no ano seguinte, o disco virou sucesso de parada nos Estados Unidos e no Reino Unido – e a carreira profissional (e internacional) dela começou. A voz suave e o estilo cool de cantar da baiana Astrud renderam a ela uma trajetória extremamente bem-sucedida (mais fora do Brasil do que aqui) e uma legião de discípulos, artistas variados que vão de Sade a Tracey Thorn, do Everything But The Girl. Aqui ela canta com Tom Jobim no álbum que os dois fizeram juntos, em 1965.